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Com treze anos eu comecei a competir

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Com treze anos eu comecei a competir. No início era maravilhoso, o sentimento de vencer e saber que você fez aquilo, que ganhou por merecer. Não era sobre as medalhas, eu estava fazendo o que eu amava e era a melhor naquilo.

Aos catorze eu era o prodígio de minha cidade natal, lembro de ter uma foto minha com o maior troféu que tinha nas paredes da prefeitura do pequeno lugar.

E foi nesse momento que começou. Ao tirar minha foto. Ao sentir o flash em meu rosto, eu sabia o que estava por vir. Eu sempre soube. Eu soube no exato momento que vi minha mãe pegar seu primeiro cigarro ou quando meus amigos, um por um, começaram a virar desconhecidos.

Mas o dia que realmente tudo foi confirmado, eu nunca esqueci. Eu nunca esqueci o dia em que eu recebi o convite com o papel macio e rosa.

Toda a doçura das palavras "Você foi convidada" foi destruída com apenas a minha chegada. Eu imediatamente vi as câmeras apontada para mim e para meu corpo. O corpo de uma menina de catorze anos, não um corpo perfeito, mas um corpo real.

Ninguém mais usava um biquíni, apenas seus celulares como máscaras. Eu nunca sai mais rápido de uma casa ou de uma cidade.

Aos quinze eu entrei na minha primeira competição Intercolegial e na minha primeira depressão. Os cigarros da minha mãe ficaram mais frequentes e minhas refeições diminuíram drasticamente. Ela queria vencer.

Eu nunca quis. Como eu disse, no início eu gostava, gostava de ganhar. Pensei que deixaria minha família e meus amigos orgulhosos, infelizmente o orgulho de meus amigos foi transformado em bullying e o de minha mãe em seu ego.

Mas eu ainda queria o orgulho, ainda queria o orgulho dela. Porque mesmo sendo seu ego, era um ego que me amava. Amava as minhas medalhas e troféus.

Um dia, em um treino. Minha mãe ficou brava, muito brava. Eu não conseguia pousar direito. Ela estava furiosa, não parecia mais ser ela.

Eu tentei de todos os jeitos deixá-la orgulhosa para ela parar de gritar comigo ao longo da semana, mas depois de um tempo eu desisti e coloquei a culpa em meu peso. Ao me olhar no espelho e via um monstro.

Procurava algo de ruim em meu corpo e o jogava fora pelo vaso. Desse jeito eu me sentia no controle de algo incontrolável.

No espelho eu vejo exatamente isso. Meus olhos procuram minhas falhas, eu não posso evitar. É viciante. No meu ombro eu encontro minha pele descascando. Eu passo a mão pela pele branca e pedaços secos saem cada vez aumentando mais o estrago.

—A princesa vai sair ou não?—a voz de Claire é seguida por fortes batidas no banheiro.

Ela tem deixado todos dentro do quarto malucos. Sua voz parecendo uma palha de aço, seus cabelos loiros curtos e aquele olhar maldoso consegue fazer  qualquer um estremecer de medo.

Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora