Elize tentava disfarçar o seu nervosismo, o painel com o temporizador estava cada vez mais perto do zero. Apesar dos anos como escritora e algumas entrevistas para sites, essa era a sua primeira vez em um programa de televisão.
- Voltamos - a apresentadora começou a falar. - e hoje estamos com a primeira escritora brasileira a receber o prêmio Nobel da literatura, com o livro "Love is Blue". Como foi pra você receber esse prêmio Elizabeth?
- Eu fiquei extremamente surpresa quando recebi a notícia, mas esse prêmio não é meu, e sim de cada leitor que me ajudou. Eu não imaginei que tomaria essa proporção.
- É a história do seu filho não é? - ela assentiu. - Olha, eu quero ter uma sogra igual a você.
- Eu não fiz nada demais. - sorriu. - Eu via o amor entre eles e não poderia deixar que isso acabasse por causa de um tempo separados.
- A pergunta que não quer calar é: terá uma segunda parte? E eu como leitora preciso perguntar, eles casaram? Tiveram filho? - perguntou fazendo a plateia gargalhar.
- Não pensei em fazer uma segunda parte. Quanto a segunda pergunta, acho que a resposta está ali. - apontou para o Vicente e a Laura, que estavam sentados na primeira fileira da plateia. Um funcionário entregou um microfone para eles.
- Nós casamos - Vicente disse. - e essa é a nossa filha. - Elize sorriu para a neta, que estava sentada no colo da Laura girando as rodas de um carrinho, esse foi um dos fatores para desconfiarem do autismo nela.
- É um prazer conhecer vocês. Vicente, como foi para você ver a sua mãe escrevendo o seu relacionamento com a Laura? - a apresentadora perguntou.
- Quando ela pediu a minha autorização, eu não levei muito a sério, mas fiquei muito animado com o fato da nossa história inspirar outros casais.
- Eu tenho tempo para mais uma pergunta diretor? - perguntou para o rapaz com uma prancheta na mão, ele assentiu. - Laura, como foi para você namorar alguém com TEA?
- O Vicente é o homem da minha vida. - disse olhando para ele. - Eu não me prendo nessa de "como é namorar um autista?" - fez aspas com o dedo. - e sim "como é namorar o Vicente?". Então, é maravilhoso namorar e ser esposa dele. - sorriu para ele.
- A verdade é que a segunda parte já está acontecendo, logo virá a terceira, quarta, quinta, mas essa quem está escrevendo é Deus e eles. - Elize disse, fazendo a plateia murmurar um coro único. - Esse não é um final, o amor da Laura e Vicente nunca terá um final.
- Eu estou apaixonada. - a apresentadora disse sorrindo.
Os anos passaram e, após um tempo trabalhando no hospital, Laura finalmente conseguiu montar seu consultório e exercer sua profissão do jeito que sempre sonhou. Após atender seu último paciente, ela saiu do consultório e o trancou. Avistou o carro do Vicente estacionado na rua e foi até lá.
- Oi mamãe. - sentiu dois braços pequenos envolverem seu pescoço.
- Oi meu amor. - puxou o pequeno para o seu colo e beijou sua bochecha, em seguida colocou-o na cadeirinha. Abraçou sua filha, que sorria pra ela. Com cinco anos de diferença, o casal tiveram dois filhos e decidiram "fechar a fábrica", contrariando a opinião dos curiosos. Apenas a filha nasceu com TEA, o garoto até então não desenvolveu nenhum dos sintomas.
O casal, comemorando 11 anos casados, não para de arrancar suspiros por aí. Há quem diga que eles são exemplos para qualquer relacionamento, já eles apenas dizem que o segredo é o amor, que cresce cada dia mais. E o melhor, de vez em quando, um escreve uma carta declarando o amor para o outro, relembrando os tempos da adolescência. O Vicente sorriu para a esposa que perguntava como foi o dia dos filho, passou os olhos nos cabelos dela e parou nos seus olhos. Segundo ele, a Laura é linda por completo, mas seus cabelos ondulados e seus olhos são a perdição dele. No entanto, Laura não deixa de apreciar a barba no rosto do marido e o seu cabelo em um corte mais atualizado, desde que voltou de Minas Gerais há 13 anos, ela não parou de dizer que essa mudança no rosto dele deixou-o ainda mais bonito. Ela franziu o cenho para o Vicente quando colocou o cinto e ele não ligou o carro.
- Eu estou esperando você perguntar como foi o meu dia. - brincou.
- Como foi o seu dia amor da minha vida? - tirou o cinto novamente, deu um selinho rápido nele por causa dos filhos no banco de trás e o abraçou.
- Quase não aguentei de saudade. - sussurrou no ouvido dela fazendo-a arrepiar-se, certas coisas não mudam. Laura se afastou e olhou para os filhos que sorriam. Ali ela pôde ter certeza de que não precisava de mais nada.

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Azul é a nossa cor
RomanceCostumo dizer que o autismo me prendeu em um corpo que eu não posso controlar, mas tudo bem, já tenho 18 anos e acho que posso conviver com isso por mais uns 70. Eu gosto do jeito que eu sou, afinal não sei como eu seria se não fosse eu, então prefi...