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Vicente

Minha mãe me chamou assim que a Laura foi embora, na verdade eu já sabia que ela havia ido embora, pois estava escutando atrás da porta.

- Eai filho? - ela perguntou quando eu sentei ao seu lado. Sei que ela quer que eu diga o que eu acho sobre a menina, mas ela sabe que enquanto eu não conhecê-la não irei ter uma opinião formada.

- Eai. - dei de ombros.

- A Laura vai trabalhar aqui ok? Até eu voltar.

- Eu imaginei. Tudo bem. - eu assenti.

- Promete ter paciência com ela? Já avisei para não entrar no seu quarto.

- Você sabe que eu prometo, não precisava nem pedir.

- Lindo. - sorriu e me puxou para um abraço.

- Te amo. - eu disse.

- Te amo. - beijou minha cabeça. Eu amo essa troca de carinho entre nós dois. Meu pai é um pouco fechado quanto a isso, mas nunca deixa de demonstrar o seu amor por nós dois.

- Jaja o Murilo tá vindo aqui tudo bem?

- Filho porque você não me avisou antes? Não fiz nem um bolinho pra ele tomar café, só tem restos do almoço.

- Mãe por favor né. Você sabe que não precisa. - ela fez uma careta e eu sorri. Mamãe tem uma paixão secreta de filho pelo meu melhor amigo, sempre que pode arruma um jeito de mima-lo e eu tento não ter ciúmes.

- Vou fazer um pudim gelado. Até ele chegar já tá pronto. - levantou e foi para a cozinha, e eu apenas sorri.

Voltei para o meu quarto para guardar meus livro, pois pelo jeito não irei mais estudar hoje. Eu terminei o ensino médio ano passado, mas não consegui uma boa nota no enem, então estou me dedicando esse ano para conseguir uma bolsa na particular para o ano que vem. Pois é, eu sou autista e não sou superinteligente, não que eu seja burro, mas tem matérias que eu tenho dificuldades, como matemática. Quero fazer faculdade de direito, não me importo em fazer particular, mas quero pelo  menos conseguir bolsa, não acho justo com meus pais fazê-los pagar faculdade sendo já pagaram escola para mim a minha vida inteira e arrumar emprego está bem difícil visto que eu não tenho experiência.

Murilo chegou fazendo o seu escarcéu de sempre. Minha mãe estava gritando, provavelmente ele estava correndo com ela no colo, pois segundo ele, ela é tão pequena que parece uma bonequinha.

- Filho o Murilo chegou, vem aqui. - minha mãe disse.

- Oi cara. - ele me abraçou assim que eu cheguei na sala e deu pequenas batidas nas minhas costas, a princípio eu o repreendia, mas segundo ele é um gesto de carinho, então eu deixei. - Estava estudando? - eu assenti. - Tenho uma festa pra você ir sexta. - piscou um dos olhos.

- Eu não quero.

- Por que? Você sabe que eu só vou se você for. - resmungou.

Apesar do Murilo ser muito extrovertido, ele não tem muitos amigos, assim como eu. Já até participou de alguns grupos mas sempre arrumava confusão por algo dito na "rodinha". O Murilo é um rapaz muito justo, não suporta ver discriminações ao seu lado, seja racismo, bullying, homofobia, etc. Ele já até arrumou briga por minha causa, aliás foi assim que viramos amigos. Quem vê seus braços cobertos de tatuagem e sua sobrancelha com um piercing não imagina como ele realmente é. Por isso que eu digo que o caráter não se mede pela aparência. Para eu ter uma opinião formada sobre alguém eu preciso pelo menos passar dias com essa pessoa, e ainda assim posso me equivocar. A real é que só você sabe o que se passa dentro de você.

Azul é a nossa corOnde histórias criam vida. Descubra agora