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Laura

É incrível como quando nós não queremos que algo aconteça e acontece totalmente ao contrário, ou quando não queremos que o tempo passe e ele passa cada vez mais rápido. Aconteceu exatamente isso nessas últimas duas semanas. Não é que eu não queira ir para a faculdade, é que eu queria que pelo menos passasse um pouco mais devagar, para eu aproveitar mais o Vicente e minha mãe. Por incrível que pareça, foi difícil pedir demissão do trabalho. Mesmo tendo passado apenas um mês lá, eu não esperava ter sido acolhida tão bem. Minha mãe me ajudou a arrumar minha mala, porém deixei-a aberta, já que do vou viajar segunda-feira e o Vicente pediu para eu ir dormir com ele hoje.

- Oi minha linda. - Elise sorriu e me abraçou tão forte que senti vontade de chorar por ir embora. - Pode entrar, o Vi está lá no quarto. - eu assenti e fui até lá.

- Oi. - falei na porta. Ele largou o celular na cama e me deu um abraço igual o da mãe dele.

- Será que se eu te prender aqui e não te deixar ir é configurado como sequestro?

- Eu acho que sim. - sorri.

- Não quero que você vá. - me olhou.

- Eu volto.

- Promete? - eu assenti.

- Prometo. Você pode ir me visitar quando puder. - sugeri. Sei que as condições dele são melhores que a minha, portanto é mais fácil dele ir me ver do que eu vir ver eles.

- Olha que eu vou. - deixou um selinho na minha boca e me levou para sentar na cama.

- O que foi? - segurei sua mão que estava tremendo e percebi estar suando.

- Nada. - gaguejou, olhou para o chão e negou com a cabeça.

- Te conheço Vicente. - estreitei meus olhos.

- É que eu já estou com saudade de você. - me olhou.

- Eu também estou. - passei o braço atrás das suas costas. - Ah, eu já ia esquecendo. - peguei a flor um pouco amassada de dentro do meu bolso e entreguei para ele, que sorriu e me beijou. É, eu vou sentir saudades.

- Eu fiz um negócio para você ler durante o voo. - ele levantou da cama, foi até sua mesinha de estudos e voltou com um papel na mão. - É uma carta. Quando você estiver lá, - segurou minha mão. - quero continuar trocando cartas contigo, nem que seja por email.

- Eu prometo que vou responder. - me aproximei. - Mas não prometo que não vou ler antes de ir, não vou aguentar.

- Eu sabia. - sorriu e abaixou a cabeça. - Vou pegar alguma coisa para nós dois comermos tá? Já volto. - colocou uma mão no meu pescoço e aproximou sua boca no meu ouvido. - Entenda como uma deixa para ler a carta. - levantou-se e saiu do quarto. Eu sorri e me ajeitei na cama para começar a ler.

"Eu espero que meus planos tenham dado certo e você esteja lendo essa carta enquanto eu estiver em algum lugar da casa (não sei qual desculpa vou inventar).
Primeiramente, eu quero te dizer que apesar de eu não ter reagido bem à notícia, eu fiquei muito feliz e estou muito orgulhoso de você. Depois eu entendi que a minha frustração é o fato de que você irá morar em outro estado, entende? Como eu vou passar cinco anos sem a minha garota? Quem eu vou chamar para maratonar filmes comigo? Quem vai estudar comigo aos finais de semana? Eu vou enrolar os fios de cabelo de quem? Não quero que você vá Laura, mas não posso te impedir, é o seu sonho e o seu futuro. Quando eu disse que iria na sua formatura, eu não estava brincando e eu quero ser o primeiro a chegar, espero que você reserve o meu lugar bem na frente. Segundamente, lembra daquele jantar que teve aqui em casa com a Cida e a Isa? Foi no dia em que você conheceu a Isa. Eu te perguntei se você gostava de alguém e em seguida falei que não queria ficar pensando o dia inteiro em alguém, lembra? Pois bem, digamos que eu tenha pensado, não o dia inteiro, mas boa parte do meu dia em uma pessoa e por incrível que pareça eu gostei da sensação. Uns dias depois, em uma consulta, eu comentei com a Ana o quanto eu fiquei feliz quando você disse que iria tentar passar na faculdade de psicologia. Falei também que gostei quando percebi o quanto você me apoia, quando traz uma flor sempre que vem aqui em casa, como você entende as minhas manias. Você não se incomoda quando eu fico mexendo as minhas mãos ou tremendo minha perna, nem quando eu decido ficar o dia inteiro lendo um livro, ou simplesmente decido ficar sozinho. Eu gosto disso. Gosto quando eu te entrego uma carta e fico na expectativa de receber outra, gosto da sensação que eu sinto quando te beijo, ou quando estamos próximos esperando o outro tomar a iniciativa primeiro.
Certo dia eu li um texto que reflete muito o que eu sinto, dizia assim: 'toda vez que você chega parece que eu tenho tudo, mas é só você partir e parece que se foi o mundo, quando rimos juntos você me faz acreditar que eu nunca mais vou ficar triste, você desenvolveu o melhor sentimento dentro de mim, com você eu sinto frio e ao mesmo tempo calor, to em dúvida do que seja, mas só pode ser amor.'. Você sabe que eu tenho dificuldades em entender meus sentimentos, mas agora, nesse exato momento, não há nada confuso aqui dentro. Meu peito grita, minha cabeça, meu corpo e minha alma grita que eu te amo. Eu não sei como será quando você entrar dentro do avião, não sei como será daqui um, dois, três, quatro ou cinco anos. Não sei o que será da gente, mas se tem uma coisa que eu aprendi é viver o hoje. Não quero ficar pensando no futuro e nem nos 'e se'. Só quero pensar em 'nós' e se de fato existe um 'nós'
Mas enfim, namora comigo?"

Azul é a nossa corOnde histórias criam vida. Descubra agora