Vicente
- Cida essa é a Laura, filha da Pamela, ela trabalha aqui comigo, mas virou uma grande amiga. - minha mãe apresentou a Laura para a Cida, sua amiga. Ambas de cumprimentaram. - Laurinha, essa é a Isa.
- Oi. - Laura sorriu e recebeu um sorriso de volta da Isa.
- Boa noite. - meu pai entrou na sala e colocou a sua bolsa perto da porta. - Temos visita. - disse sorrindo e se aproximou.
- Ela vieram jantar conosco. - mamãe deu um selinho no meu pai. Ela nos guiou até a cozinha e começamos a nos servir.
- Final de semana que vem vai ser a formatura da escola da Isa. - Cida disse. - Vocês estão todos convidados.
- Como o tempo passa, parece que ontem mesmo eu estávamos levando eles na escola e hoje já estão formados. - mamãe disse.
- Verdade, o Vi já está indo para a faculdade né? - Cida, mãe de Isa, perguntou.
- Sim, ele fez o vestibular e está esperando o resultado.
- Que curso você quer mesmo? - Cida perguntou.
- Quero direito.
- Cida você nem sabe. - minha mãe começou a falar e pegou a mão da Laura em cima da mesa. - Ganhamos uma apoiadora, a Laura vai fazer psicologia para trabalhar com o TEA.
- Jura? É ótimo ver uma jovem interessada nisso, parabéns.
- Obrigada. - sorriu. - Na verdade tomei essa decisão graças a minha convivência com o Vicente, minha inspiração na Elize e após perceber os problemas que um autista enfrenta graças à desinformação.
Agora eu posso perceber que a Laura é uma grande amiga, ela me entende, entende minhas emoções escondidas. Eu tenho dificuldades em expressar minhas emoções, dificilmente sinto dores, mas choro com qualquer coisa. Amo flores e ela me traz uma toda semana que vem aqui. Isso é bom, eu acho, sexta vou perguntar para Ana, minha terapeuta. Estou feliz. Quando terminamos de jantar, meu pai foi tomar banho e minha mãe, Cida e Pamela ficaram guardando as coisas, enquanto eu, Isa e Laura fomos para a sala. Isa tem TEA de grau leve também, mas tem algumas coisas diferente de mim, por exemplo, eu odeio futebol, já ela ama, eu amo ler e ela odeia, ela odeia conversar e eu amo. É complicado de entender, mas nós com TEA não somos todos iguais como muitos imaginam.
- E então Isa, o que você gosta de fazer? - Laura perguntou certamente para deixar Isa mais a vontade.
- Gosto de futebol. - sorriu e me olhou, desviei o olhar e olhei para Laura, que me entendeu e continuou falando.
- Sério? Que time você torce?
- Corinthians. - sorriu ainda mais. - Amo ir ao estádio, eles distribuem protetores auriculares para nos proteger do barulho, mas eu me incomodo com o aperto, então fizeram um espaço anti-ruído para quem não consegue ficar com o protetor.
- Uau. - Laura disse. - Não sabia disso.
- Não é muito divulgado, essa construção só foi possível graças à um abaixo assinado iniciado pela minha mãe, por enquanto só o Corinthians aceitou, mas logo todos os estádios terão essa sala.
Estou me surpreendendo, pois a Isabela nunca conversou assim comigo. À princípio eu puxava assunto, mas ela não o estendia então parei de tentar, acho que o meu erro foi não ter falado de algo que ela gosta. Após algum tempo, Isa e Cida foram embora, e minha mãe continuou na cozinha com Pamela enquanto eu e Laura ficamos conversando na sala.
- Você não respondeu o que eu te perguntei. - eu disse.
- O que? - ela perguntou.
- Se você está gostando de alguém.
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Azul é a nossa cor
RomanceCostumo dizer que o autismo me prendeu em um corpo que eu não posso controlar, mas tudo bem, já tenho 18 anos e acho que posso conviver com isso por mais uns 70. Eu gosto do jeito que eu sou, afinal não sei como eu seria se não fosse eu, então prefi...