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O tempo tem passado tão rápido que nem estou percebendo, continuo na mesma rotina. Há três semanas o Vicente me emprestou alguns livros que ele já havia usado e eu comecei a estudar. Consegui a isenção e também já me inscrevi para o vestibular.
Hoje percebi um jardim que nunca tinha visto no meio do caminho, lembrei que o Vi gosta de flores então peguei um pequeno ramalhete com quatro flores pequenas. Toquei a campainha e esperei ele abrir a porta.

- Pra mim? - perguntou quando eu lhe entreguei a flor e eu assenti. - São lindas, muito obrigado. - disse com os olhos marejados e eu sorri. - Eu realmente gosto muito de flores. - sorriu e me abraçou. - Eu vou guardar essa flor, qualquer coisa me chama no meu quarto.

Ele foi para o quarto e eu para a lavanderia pegar os produtos, e fui para o corredor dos quartos. Após um tempo eu escutei a porta da sala bater, deduzi ser o Murilo, porque o Vicente já está no quarto e seu pai só chega de noite.

- Eu fico dois meses fora e ninguém vem me recepcionar? - eu escutei a voz da Elize e meu coração apertou, ela voltou.

- Mãe? - Vicente saiu do quarto e desceu a escada. Continuei fazendo meu trabalho, talvez hoje seja meu último dia, então quero ao menos entregar tudo bem feito. Após limpar o andar de cima comecei a limpar a escada, foi ai que Elize me viu.

- Laura, antes de você ir embora me procura pra gente conversar? - eu assenti em resposta.

O dia passou mais rápido do que eu queria e como prometido, antes de eu ir embora procurei Elise, a mesma estava na biblioteca/escritório. Que coincidência, vou ser despedida no mesmo lugar que fui empregada.

- Elize. - bati na porta.

- Oi linda, pode entrar. - eu assenti, entrei e sentei em uma cadeira a sua frente. - Então, quando eu te contratei, havíamos combinado de você ficar aqui até eu voltar certo?

- Sim.

- Hoje de manhã eu estava conversando com o Vi sobre o seu trabalho e enfim, se você estiver de acordo também, quero que você continue aqui com a gente, é só para me ajudar, já que o pesado eu vou fazer. Podemos continuar do jeito que combinamos anteriormente, você aceita?

- Claro. - eu disse com as sobrancelhas arqueadas, surpreendida. - Eu já estava pensando o que vou fazer para ajudar em casa se você me dispensasse, agora me deu até um alivio. - sorri.

- Que bom. Saiba que o Vicente que me convenceu, ele e meu marido gostaram muito do seu trabalho e o Vi, conhecendo sua história, pediu para eu deixar você continuar aqui.

- Ele é um anjo.

- Fico feliz que vocês tenham se entendido. - disse sorrindo e eu assenti.

- Na verdade, nesses dois meses, o Vicente mudou muito minha cabeça, não só sobre o TEA, mas também com minha forma de enxergar a vida. Quero fazer psicologia e trabalhar com TEA, quero transmitir as informações que eu recebi e mudar a forma que as pessoas veem o autismo.

- Laura, você não sabe o quanto isso me deixa feliz, com certeza eu contratei a pessoa certa. - sorriu. - Eu vejo que você está diferente. Aquela menina que eu encontrei no shopping, com o olhar perdido, o ombro caído não está mais aí. Hoje eu vejo uma mulher forte, determinada. E isso é muito bom, ainda mais por ter acontecido em apenas dois meses. Continua assim que você vai ter muito sucesso na vida.

- Muito obrigada. Posso te dar um abraço? - perguntei e abri meus braços.

- Claro. - me abraçou.

A pedido da minha mãe, eu parei de procurar emprego para os outros dias da semana e me dediquei aos meus estudos. Já não tenho mais dificuldade em lidar com o comportamento do Vicente, aliás, estamos cada vez mais amigos. Algumas vezes até estudamos juntos, ele me ajuda em alguns conteúdos mais complicados, como química, na real nem ele entende muito, mas sabe mais que eu.
Sofia e Murilo vivem grudados. A Malu também se junta conosco algumas vezes, mas depois do fora do Vicente, ela prefere seus "amigos de festa". Não foi exatamente um fora, ele só ignorou ela até ser bloqueado. Sofia e ela ainda são amigas, mas Sofia se afastou do seu antigo grupo devido à mentalidade que eles tinham, segundo ela, viviam fazendo piada com o Vicente, mesmo ele não estando perto. Piadas do tipo "retardado como um autista". É revoltante, já é errado usar a palavra "retardado", quem dirá utilizar autismo como adjetivo pejorativo. E o pior é o semblante triste que ele fica quando ouve esse tipo de coisa.
Com a rotina de trabalho diminuída minha mãe não está com tantas dores como antes, o que me deixa bem aliviada. No terceiro bimestre minha rotina de estudo se intensificou e com isso chegou o enem. Foram dois domingos seguidos, não sei dizer se fui bem ou mal e não quis conferir o gabarito, preferi esperar o resultado oficial.
A minha época do ano preferida estava chegando, o Natal. Elize me convidou para comemorar lá. Ela me disse que gosta de passar essa noite com seus amigos e que eu não posso ficar de fora. Iremos fazer um amigo secreto, já sorteamos e agora estou rodando o shopping para encontrar um presente pra a pessoa.

Azul é a nossa corOnde histórias criam vida. Descubra agora