•Vicente•
Fechei o portão de casa e tentei puxar as mangas da minha blusa quando o vento aumentou. Julho chegou e trouxe o inverno, a melhor estação do ano para a maioria, porém para mim não. Eu gosto de dias frescos e não tão frio como hoje, o excesso de roupa me sufoca, mas é ou isso ou pegar um resfriado. Entrei em casa e fui direto para a cozinha, peguei um copo de água e me encostei na pia.
- Oi filho. - fechou o forno e me deu um beijo na testa. - Estou fazendo um bolo de chocolate. - piscou um dos olhos.
- Alguma comemoração? - franzi o cenho e ela arregalou os olhos.
- Não, só senti vontade de fazer.
- Você está estranha, o que foi? - eu perguntei e ela arqueou as sobrancelhas.
- Eu? Nada, por quê?
- Sei lá. - bebi o resto da água e me virei para lavar o copo.
- Deixa que eu lavo. - pegou o copo da minha mão.
- Tá. - estranhei.
- Vai para o seu quarto. - balançou a mão.
- Mãe o que está me escondendo? - perguntei ainda confuso.
- Não é nada. Você sempre chega e vai para o seu quarto, não é trabalho nenhum para mim lavar esse copo.
- Você está estranha. - dei de ombros e caminhei até o quarto, quando abri a porta senti meu corpo gelar ao ver quem estava na minha cama.
- Oi. - Laura falou.
- Laura. - talvez eu estivesse parecendo um bobão parado na porta.
- Vai ficar parado aí?
- É real mesmo? Você está aqui? - perguntei confuso.
- Vem ver. - abriu os braços e eu não hesitei em me entregar a eles. Meu corpo reviveu quando nossos corpos se encontraram, meu coração começou a bater no mesmo ritmo que o dela, eu podia sentir.
- O que você está fazendo arqui? - perguntei sorrindo.
- Vim matar a saudade. - afrouxou os braços e desceu-os no meu braço.
- Como? Quer dizer, como assim? Você não me falou nada.
- Sua mãe comprou minha passagem juntos com a minha mãe e deu a ideia de fazer surpresa para você. Eu fiquei sabendo semana passada.
- Você chegou hoje? Deve estar cansada né?
- Cheguei agora a pouco e não estou cansada. Só queria um beijo seu, é pedir demais? - fez careta.
- Claro que não. - umedeci meus lábios, segurei sua nuca e grudei nossos lábios. Quando nos faltou ar eu deitei minha cabeça no seu pescoço e respirei fundo para sentir seu cheiro. O cheiro que eu tanto senti saudade. - Agora eu entendi porque minha mãe estava fazendo bolo e insistiu tanto para eu vir para o quarto.
- A Elize é demais. - sorriu. - A melhor sogra que eu poderia ter arrumado.
- Gostei. - falei sorrindo. - Eu achei que estivesse sonhando quando te vi aqui.
- Eu estou aqui de verdade. - acariciou meu rosto e eu me perdi nos seus olhos, nos beijamos novamente, dessa vez mais calmos, apenas para aproveitar o momento.
•Laura•
- Vamos ao shopping amanhã? - Vicente disse quando nos sentamos no sofá. Após o jantar, Elize cortou o bolo e o Vi me puxou para comer na sala.

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Azul é a nossa cor
RomanceCostumo dizer que o autismo me prendeu em um corpo que eu não posso controlar, mas tudo bem, já tenho 18 anos e acho que posso conviver com isso por mais uns 70. Eu gosto do jeito que eu sou, afinal não sei como eu seria se não fosse eu, então prefi...