Laura
Durante três semanas convivendo com Vicente, eu percebi que de fato, eu não tinha o mínimo de conhecimento sobre TEA. Eu achava que alguém com TEA se comportava de um jeito totalmente diferente, mas não era preconceito, era desinformação. Ninguém nunca me explicou sobre durante toda a minha vida, nunca assisti algo na tv e nunca li algo na internet. Eu não imagino quanto preconceito o Vi teve que enfrentar, na verdade não só ele, seus familiares também, e o pior de tudo é que esse preconceito surge devido à falta de informação. Porém quem é o culpado por isso tudo? Por essa desinformação? Por essa falta de acessibilidade? Pelo que eu percebi, o Vi tem uma pequena sensibilidade ao barulho, mas sei que há casos com alta sensibilidade, então eles precisam necessariamente serem excluídos da sociedade? Por que não há um cinema adaptado à eles? Por que não há mais shoppings adaptado à eles? Por que não há áreas de shows adaptados à eles? Por que não há parque de diversões adaptado à eles? Eu quero mudança, quero participar dessa mudança, e se a Elize quiser, irei me juntar à ela nessa luta.
- Bom dia mãe. - entrei na cozinha e a cumprimentei com um abraço.
- Bom dia meu amor, dormiu bem?
- Muito bem e a senhora? - ela assentiu. - Mãe, acho que quero fazer faculdade ano que vem, de psicologia. Quero trabalhar com TEA. - essa ideia estava na minha cabeça desde semana passada e eu preciso começar a estudar logo, visto que já estou atrasada comparada a quem começou a estudar no começo do ano.
- Filha, eu acho incrível você ter essa vontade, mas acho que ano que vem não vai dar, não tenho condições de pagar a faculdade pra você, é melhor a gente guardar um dinheirinho esse ano e ano que vem você faz.
- Não mãe, não vou fazer faculdade particular, quero tentar a pública, eu sei que a nossa situação não está fácil. Eu posso estudar o resto desse ano, ainda estamos em março. O Vicente também está estudando para entrar na faculdade ano que vem, eu posso pedir alguma dica pra ele de onde pegar pesquisas e materiais, e etc.
- Tudo bem filha, estou com você no que você escolher, mas saiba que cada um o seu tempo ok? Não importa se você vai entrar ano que vem ou daqui cinco anos na faculdade. Te apoiarei em todas suas decisões.
- Eu te amo. - a abracei. Hoje saí mais cedo de casa, o tempo está um pouco feio e fiquei com medo de chover no caminho. Cheguei quando o Vi começou a tomar café da manhã.
- Quer comer? - perguntou.
- Não obrigada, comi em casa. - ele assentiu e voltou a comer. - Vicente, - o chamei. - eu estive pensando e quero fazer faculdade ano que vem. Vou tentar a pública e queria sua ajuda, dicas de sites que você acha confiável pra eu pesquisar as matérias, você me ajuda?
- Eu não confio em sites, te dou minhas apostilas que já usei e você vai estudando por elas, conforme eu for terminando vou te dando também.
- Jura? Obrigada. Sério, porque eu não tenho condições de pagar a particular, só me resta a pública.
- Não fala assim, algumas públicas estão bem melhores que as particulares, então não diz "só me resta", é um sacrifício pra passar que vale a pena.
- Tem razão. - concordei.
- Se me permite perguntar, você quer cursar o que? - tomou um pouco do líquido que estava dentro da xícara.
- Psicologia. Umas coisas vem me incomodando e eu quero trabalhar com TEA, quero transmitir informações às pessoas, quero que as pessoas entendam o que de fato é TEA.
- Uau, fico muito feliz em ouvir isso, minha mãe também vai gostar, quem sabe vocês não se juntam?
- É, eu pensei nisso também. - eu sorri envergonhada por temer estar sendo invasiva demais.
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Azul é a nossa cor
RomansaCostumo dizer que o autismo me prendeu em um corpo que eu não posso controlar, mas tudo bem, já tenho 18 anos e acho que posso conviver com isso por mais uns 70. Eu gosto do jeito que eu sou, afinal não sei como eu seria se não fosse eu, então prefi...