22

198 18 0
                                    

•Vicente•

A primeira semana foi bem difícil, como eu ainda estava em casa, acabei pensando demais na Laura, aumentando a saudade. Nos falávamos antes dela dormir e pelo que ela me disse, ela fez algumas amizades e está bem feliz com a faculdade. Minhas aulas começaram na semana seguinte que a dele, a princípio seria no período da manhã, porém após pensar muito, decidi procurar um emprego e percebi que a maioria das vagas são nesse período. Então, troquei que turno para a noite e comecei a entregar currículo. Por incrível que pareça, uma loja do shopping me chamou para uma entrevista, logo eu descobri que minha mãe havia conversado com alguns colegas e a dona dessa loja era uma das suas amigas. Segundo uma metáfora que eu aprendi, cavalo dado não se olha os dentes, portanto aceitei um emprego e na semana seguinte fui contratado. A única coisa que eu tenho que fazer é guiar o cliente através da loja e fazê-lo comprar muitas coisas, então estou feliz. Só tem um detalhe, como o horário em que a Laura sai da faculdade é o mesmo que eu estou entrando e seu horário de almoço é antes que o meu, passamos a conversar assim que acordamos. E assim foi o primeiro mês.
Guardei uma parte do meu primeiro salário para ajudar na passagem dela quando entrarmos de férias. Outra parte fiz minha matrícula na autoescola, não pretendo ficar o resto da minha graduação voltando tarde da noite de ônibus, porque de carro é menos perigoso. Minha mãe ficou receosa com isso, mas disse que prefere eu dirigindo do que eu sozinho a pé nas ruas escuras. Ano passado, quando o Murilo começou a faculdade, ele me disse que sua sala era lotada e eu não acreditei, porém a minha é enorme, o que me faz ficar um pouco receoso com o número de alunos aglomerados em um cubículo fechado.

- Caraca, será que dá tempo de eu comprar algo para comer? - Erik entrou na sala correndo e colocou a bolsa na mesa ao lado da minha. Ele sempre chega assim e falando exatamente a mesma frase. Erik trabalha na oficina mecânica do seu pai e tem pouco tempo para sair de lá e chegar até a faculdade, por isso sempre chega com fome.

- Vai lá correndo, hoje é aquele professor que atrasa. - falei e olhei o horário no meu celular confirmando minhas suspeitas.

- Ok, se ele chegar inventa alguma dúvida e não deixa ele começar a aula até eu chegar. - saiu da sala correndo e eu sorri, isso que ele pediu jamais vai acontecer. Arqueei minhas sobrancelhas quando vi uma mensagem chegar no meu celular.

"Oi, minha aula terminou mais cedo, já começou a sua?" - era Laura.

"Não, o professor de hoje costuma atrasar. Posso te ligar?" - respondi.

"Claro."

Levantei da cadeira e sai da sala, me encostei num canto da parede entre o corredor e a parede, onde é menos barulhento.

- Oi. - ouvi sua voz através do celular.

- Oi. - respondi. - Como foi o seu dia?

- Foi muito bom. Tivemos um trabalho surpresa, mas achei legal, acho que fui bem, e o seu?

- Que bom. O meu foi do mesmo jeito de sempre, o shopping estava lotado por causa do dia das mães, então consegui passar a minha meta de vendas, depois disso passei em casa e vim pra faculdade.

- Bem mais agitado que o meu. - pela forma que sua voz saiu acho que ela estava sorrindo.

- Não sei não.

- E como anda suas aulas atrás do volante? - eu sorri com a sua pergunta.

- Aula mesmo é só sábado, mas ontem meu pai fez eu andar no quarteirão com o carro. É muito difícil e ele disse que eu fico tenso.

- Acho que no começo é assim mesmo. Quem sabe quando eu for passar minhas férias aí você não me leva pra passear.

- Eu não vejo a hora. - fechei meus olhos. Só vou poder tirar minha carta quase no final do ano, mas eu quis dizer que não vejo a hora de vê-la novamente. - me corrigi, resmunguei quando abri meus olhos e vi meu professor andando no corredor. - Laura, preciso desligar, meu professor está chegando.

Azul é a nossa corOnde histórias criam vida. Descubra agora