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Vicente

Para mim, a parte mais difícil na hora da audiência é a gravata apertando o meu pescoço. Várias vezes me vi pedindo intervalo e indo correndo para o banheiro afrouxa-lá e respirar. Se eu soubesse isso antes de começar a faculdade teria repensado, mesmo sendo o meu sonho. Outra desvantagem de usar terno é os olhares que eu recebo, além da minha mãe, qualquer olhar direcionado a mim tem me incomodado. Teve até um caso de uma cliente querer algo indecente comigo por termos ganhado a audiência. Eu tive que deixar bem claro que a nossa relação era restrita ao tribunal, apenas. Quando estávamos saindo do fórum, ela me encostou na parede e tentou me beijar, senti meu corpo inteiro apertar, como se houvesse algo ao meu redor fechando e me sufocando. A Ana teve que trocar minha terapia, é comum uma terapia não ter mais efeito após alguns anos, mas segundo ela, meu corpo pode ter rejeitado com a ida da Laura. Eu ainda a amo. O tempo não mudou isso e nunca vai mudar. Quando a Laura se formou e eu fiquei sabendo que ela faria a pós lá em Minas Gerais, fiquei péssimo. Minha mãe até ficou preocupada, com medo de eu estar entrando em depressão, mas ficou tudo bem. Por incrível que pareça, a Isa me ajudou nessa época. Mesmo estando fazendo faculdade de TI, sempre que podia vinha em casa para me fazer companhia. Para ter mais privacidade, aluguei um apartamento para mim perto da faculdade, minha mãe chorou, quase não deixou eu ir, mas entendeu que seria inevitável.

Tranquei o carro, que comprei com o dinheiro do meu trabalho, e estiquei a mão para a Isa que havia descido do carro. Entrelacei nossos dedos e entramos na casa da minha mãe.

- Está tudo bem? Você está pálido. - Isabela disse me olhando com o cenho franzido. Eu achei que tivesse me enganado, como aconteceu diversas vezes, mas dessa vez não. Ela está aqui, ao lado da sua mãe, no mesmo ambiente que eu.

- Você chegou filho. - senti minha mãe me abraçar, mas não consegui desgrudar o meu olhar dela, com medo dela sumir.

- Acho que ele está passando mal. - Isa falou. Minha mãe afrouxou o abraço e me olhou.

- Não está não, eu sei o que está acontecendo. - a olhei e vi minhas vistas embasarem. - Ela voltou. - assentiu e eu a olhei novamente. Diferente de antes, ela estava olhando para baixo.

- Quem? - Isabela perguntou e a minha mãe apontou para a Laura, Isa apertou minha mão.

- Eu não sabia que você fosse ficar assim filho, se quiser eu posso conversar com ela e pedir para ir embora.

- Não, eu estou bem. - respirei fundo. - Só assustei.

- Senta no sofá. - minha mãe apontou para um lugar vazio, consequentemente de costas para a Laura. É melhor assim.

Eu tentei me distrair com o assunto que estava rolando ali, mas não conseguia parar de pensar na Laura, no quanto ela estava linda. Ela já era antes, mas parece que agora ficou muito mais. Seu cabelo estava curto e ela parecia estar usando maquiagem, o que deixou a cor dos seus olhos mais vivos, o azul que eu nunca esqueci.

- Eu vou ao banheiro. - falei para Isabela que apenas assentiu. Levantei do sofá e fiz o caminho sem olhar para os lados.

Apoiei minhas mãos na pia e respirei fundo. No espelho vi meu rosto completamente branco, mais do que o normal, meus olhos estavam brilhando. Joguei água no rosto e, após seca-lo, eu abri a porta, mas quis fechar assim que a vi parada.

- O que está fazendo aqui. - perguntei.

- Eu vim ao banheiro. - Laura disse baixo, quase não escuto. - Não sabia que você estava aqui.

- Você não tem o direito de voltar assim, do nada e como se nada tivesse acontecido. - falei rapidamente, não queria ter dito isso, mas só percebi após dizer.

Azul é a nossa corOnde histórias criam vida. Descubra agora