Promise me, please

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Não consigo pensar em nada mais desanimador do que viver uma vida sem um propósito claro."
- Daniel Willey


[Este capítulo contem narrações detalhadas sobre transtorno depressivo e transtorno de ansiedade; pensamentos, descrições, automutilação e etc. Caso não se sinta confortável lendo, peço que se retire]

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Levantei com a luz que vinha da janela invadindo minha sala. Isso mesmo, a sala. Dormimos no sofá por acidente, mas é aquele tipo de acidente bom. Depois de algum tempo encarando um teto, decidi me levantar, mas esquecendo que Taehyung estava deitado em cima de mim.

— Não se mexe — Ele disse com a voz embargada de sono. — Não quero levantar agora, está confortável aqui.

Eu apenas sorri e voltei a me deitar, alcançando meu celular que estava na mesinha de centro, vendo que havia recebido algumas mensagens de Jimin e Namjoon. Okay, não recebi algumas mensagens deles, recebi milhares. Namjoon perguntou se eu poderia ficar com o Dong-yul durante a noite porque ele é Hoseok teriam que fazer hora extra no trabalho. Jimin estava apenas surtando por alguém "bonitinho" que ele viu na cafeteria.

Respirei fundo ao ler todas as mensagens que ele havia me enviado. Parecia tudo tão... forçado. Ele não é assim, eu sei disso. Ele diz que o Jungkook jogou todos aqueles anos no lixo, mas eu não consigo me convencer de que ele realmente o superou. É uma situação muito estranha, o que fazer?

— Tá legal, eu tô de pé — Taehyung disse e se sentou, ainda se espreguiçando e bocejando. — Que horas são?

— Meio dia — Deixei meu celular na mesa novamente, sabendo o que viria pela frente.

— Então... podemos conversar? — Me perguntou e cruzou as pernas no sofá, ficando em posição de "índio". Eu apenas concordei, odeio ser o primeiro a iniciar conversas sérias. — Eu não vou jogar tudo em cima de você, até porque acabamos de acordar e eu não consigo ser direto, mas eu só queria te perguntar uma coisa: Por que agora? Não que eu esteja reclamando, é até bom você ter falado comigo, mas por que decidiu me contar?

Como eu explico para ele que, mesmo estando juntos há apenas um mês, confio mais nele do que em qualquer pessoa sem assustá-lo? Como falo para ele que passei minha vida inteira tentando encontrar uma razão para ficar vivo e agora tenho ele?

— Para ser sincero, eu não sei — Me encarou confuso, esperando que eu complementasse o que estava dizendo. — Eu acho que... eu só senti que estaria tudo bem. Eu tenho tanto medo de me abrir para as pessoas, porque me importo muito com o que pensam de mim. Mas... depois que eu realmente vi que você estava do meu lado e que poderia contar com você, eu sabia que poderia confiar em você. Tenho muitos problemas de confiança desde pequeno, tanto que as únicas pessoas que eu realmente me abri porque queria foram você e o Joon — Abaixei a cabeça, um pouco envergonhado. — Me sinto patético por pensar nesse tipo de coisa, mas é humano, certo? Queremos nos encaixar em padrões e, no fim, escondemos quem realmente somos.

Ele ficou em silêncio por tempo, provavelmente ainda processando tudo. Eu ficava brincando com meus próprios dedos, nervoso, esperando sua resposta.

— Primeiro de tudo, isso não é patético, é algo comum. Eu mesmo já perdi várias amizades por conta dessa história de não me encaixar. Acredite ou não, ninguém gostava de mim quando eu estava na escola, o que fez com que eu me sentisse solitário. Eu tentei muito mudar quem eu era, como eu normalmente agia e falava, tentando me parecer com o resto — Abaixou a cabeça, respirando fundo, provavelmente tentando não chorar ao se lembrar dos acontecimentos. — Eu desisti. Pedi para meus pais me mudarem de escola por causa disso e eles concordaram, porque sabiam que eu tinha mais chance de ser feliz em um lugar diferente — Sorriu fraco. — Obrigada por confiar em mim, Yoon. É tão bom saber que tem pessoas que realmente confiam em mim... eu acho que você é o único.

— Eu espero não ter te assustado com a bomba que eu simplesmente joguei e saí correndo — Cocei a nuca. — Eu não sei como contar as coisas sem ser de uma forma repentina. Quando eu começo, não consigo mais parar e falo tudo de uma vez.

— Está tudo bem. É até melhor botar tudo para fora de uma vez do que ficar enrolando — Sorriu, mas logo seu sorriso cessou e ele começou a encarar meus braços. — Posso ver?

Eu não tinha muita opção. Eu acho.

Era inverno, então ele nunca me viu usando uma blusa de manga curta e eu não fiz questão nenhuma de usar uma. Dessa vez não foi diferente. Estendi meus braços e levantei as mangas da minha blusa, revelando todas as cicatrizes. Quase todas já haviam perdido a cor, mas as mais profundas ainda estavam um pouco vermelhas ou rosas.

— Meu Deus, Yoon... - Segurou meus braços. Seu toque fez com que eu sentisse vontade de chorar. — Quando foi que você começou?

— Quando eu era um adolescente, eu acho. Provavelmente perto dos meus 18 anos — Funguei, me lembrando de tudo novamente.

Memórias são nossas piores inimigas. Por que precisamos lembrar das coisas ruins da vida? Poderíamos estar em paz, felizes, mas não. Memórias voltam e fazem com que nos sentíssemos mal. Eu estava tão cansado delas, mas não posso me livrar delas. Pelo menos, não agora.

— Seus braços doem? — Perguntou. — Sei de alguns casos que as cicatrizes ficam doloridas mesmo depois de terem cicatrizado completamente.

— Não é meu caso. Não doem — Sorri fraco, tentando ao máximo conter a ânsia de vômito que havia dentro de mim.

— Isso é bom — Soltou meus braços e segurou minhas mãos. Pude ver um brilho em seu olho por conta das lágrimas se formando. — Promete não fazer mais isso, por favor?

— Tae, isso não é algo que eu posso prometer. Às vezes, eu não vou ter saída — Respirei fundo. — Sabe por que eu costumava fazer isso? — Negou. — Eu não tinha ninguém. Ninguém para conversar, ninguém para me abrir, ninguém para pedir ajuda, ninguém mesmo. Essa foi a solução que encontrei. Eu tinha que me livrar de tudo isso que eu estava sentindo de alguma maneira. Depois de um tempo, isso virou um vício, onde eu não conseguia fazer nada para parar. Estava doendo tanto, mas mesmo assim, eu continuava, porque eu não tinha controle. Era como se algo negativo estivesse me possuindo e me obrigando a fazer essas coisas — Deitei minha cabeça em seu ombro, deixando as lágrimas rolarem soltas por minhas bochechas, mas logo as enxugando. Não queria chorar logo após de ter acordado. — Desculpa, eu não queria que a conversa fosse assim.

— Não não, 'tá tudo bem. Assim consigo te conhecer melhor e saber mais sobre coisas importantes sobre você. Se eu não soubesse de tudo isso, provavelmente acabaria te machucando sem querer por causa de um comentário ou--

— Tae, não — O interrompi. — Isso é o que eu menos quero que as pessoas façam comigo. Odeio que me tratem como alguém dependente e sensível, porque eu não sou assim. Não tenha medo de me machucar sem querer, porque isso vai acontecer em algum momento. Eu cresci, tenho 27 anos. Não sou uma criança frágil que precisa do colo das pessoas — Vi ele formar uma expressão desapontada, pensei que minhas palavras tivessem o machucado. — Me desculpa, eu acho que soou um pouco grosseiro.

— Não hyung, de jeito nenhum! Eu entendo. Não é legal se sentir fraco e tudo mais, então está tudo bem — Me puxou para mais perto, me fazendo sentar de frente para ele. — Mas não é por causa disso que eu não vou querer saber como você está de tempo em tempo. Não todo dia, claro, até porque não quero que você se sinta pressionado. Eu só quero que você fique bem, hyung.

— Você me faz bem, Tae. Desde que você apareceu, as coisas tem melhorado tanto, eu já te disse antes. Não se preocupe com isso, por favor — Novamente, senti minhas bochechas ficarem molhadas por conta das lágrimas.

— Me promete que você está realmente bem? Que vai falar comigo sempre que precisar?

— Prometo — Sorri e ele me puxou para um abraço, no qual ficamos ali por um longo tempo. Eu precisava tanto disso. Eu precisava dele.

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Um capítulo necessário, eu acho. Eu espero ter conseguido explicar "em detalhes" o que eu queria desde o começo: que vocês entendam a dor do Yoon ou o que se passa na cabeça de alguém que sofre com depressão. Eu tento ir demonstrando e passando todos os sentimentos ao longo da fic, devagarinho para que vocês possam ir conhecendo os personagens, mas essa conversa dos dois já estava demorando demais para acontecer.

The Model Of My Paintings | kth + mygOnde histórias criam vida. Descubra agora