Capítulo 03

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Caio Barreto

Eu não me lembro da última vez em que consegui dormir durante a noite inteira. Geralmente, eu acordo de 3 a 4 vezes por noite, fico pairando em pensamentos e, então, volto a dormir.

O ritual é o mesmo desde que meu pai morreu - quando eu tinha 15 anos - de câncer. É a mesma coisa há exatos 15 anos.

Durante a graduação, eu tentei ajuda psicológica no Serviço de Orientação ao Universitário. Deu certo por um tempo, mas, eu desisti de tudo em seguida. A culpa era sempre da infância. Eu não queria mais saber daquilo.

Acordo e olho logo meu relógio: 04:07.

Sinto um nó na garganta quando me lembro do caso no qual estou envolvido agora: o assassino dos gays. Que coisa mais macabra.

Tento tirar logo isso da cabeça. Viro-me para a esquerda e me deparo com a Sheila, dormindo feito um anjo.

Nosso relacionamento é meu porto-seguro. Ela é, literalmente, a razão pela qual me levanto todos os dias. A minha esperança na humanidade.

O rosto dela parece angelical, os cabelos loiros naturais emolduram sua face, como uma pintura clássica. Seu mamilo esquerdo desponta do edredom, rosado como uma orquídea rara. Sou totalmente apaixonado pelos mamilos dela, pelas curvas de seu corpo.

Ela abre os olhos, me fitando diretamente:

- O que foi, amor?

- Nada... Só estou colocando algumas ideias no lugar.

- Deixe o trabalho no trabalho, Caio! - ela diz, enquanto acaricia meu rosto com sua mão macia - Você não pode querer salvar o mundo, não tem como.

Eu suspiro. Não sei dizer exatamente o motivo, mas, aquele caso todo vinha mexendo comigo desde que eu tomei conhecimento dele. Cadáveres seminus com um corte certeiro na artéria femoral e os lábios costurados. Que tipo de doente faria algo assim?

Ela beijou-me os lábios, me tirando totalmente dos caras mortos.

- Relaxa, amor! - ouço seu sussurro sexy no meu ouvido.

Rápida e delicadamente, ela joga seu corpo nu sobre o meu. Sinto seu toque suave, o calor aconchegante de seu corpo. Nossos beijos vão ficando mais quentes, o que me faz ficar animado, nossos corpos se entrelaçam de maneira ritmada. Somos um só, mais uma vez.

* * *

Chego no horário certo - ao menos uma vez durante toda essa semana - à Delegacia. Estou animado, me sinto mais leve - agradeço à Sheila por isso.

Sento em minha poltrona de couro, fitando o monitor do computador. Meu chiclete começa a ficar amargo na boca - que vagabundos, pois não tem nem meia-hora que estou com ele.

Por mensagem, eu e a Carol havíamos combinado de irmos até a casa do Miguel Soares, o vendedor de carros, teoricamente, o primeiro assassinado pelo nosso maníaco. Ele vivia não muito longe da Delegacia, queríamos tentar falar com a família.

- Vamos ter trabalho! - a Carol entra em minha sala, sem me cumprimentar, bem ao estilo dela.

- O que foi?

- Teve um repórter de TV que conseguiu meu telefone, está querendo informações sobre o caso. Eu deixei ele no vácuo, mas, não vamos conseguir fazer isso por muito tempo não. Essa gente é podre.

- Não sei porque você é tão resistente à imprensa. Eles podem nos ajudar.

- Podem ajudar, mas, certamente irão atrapalhar.

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