Caio Barreto
Foi realmente uma sorte muito grande ter encontrado do David naquele exato momento.
O meliante também teve sorte de ter conseguido fugir. Mas, naquele momento, para mim, mais importante do que colocar as mãos nele era ajudar o pobre rapaz de suéter preto.
Eu estava indo até a boate LGBT chamada Club da Noite, seria lá o meu encontro com o tal cara do app, aquele com o nome sugestivo.
Mas, quando cruzei com aquela cena na calçada, meu rumo mudou completamente. É como se todos os meus instintos fossem ativados e eles só queriam que eu salvasse o David daquela situação. Um milhão de coisas se passaram por minha cabeça naquela fração de segundos e, quando eu menos notei, estava com o rapaz dentro do meu carro.
* * *
Enquanto eu limpo seu ferimento do rosto com uma gaze umidecida em soro fisiológico, reparo no olhar perdido de David Rabelo.
Ele está calado e evita me encarar, eu noto que é pura vergonha, medo.
- Tá doendo?
- Não - ele responde quase imediatamente - Eu só estou agoniado...
- Você não precisa ter vergonha, David!
Estamos sentados no sofá da sala do meu apartamento. Eu imagino que, em outras circunstâncias, isso não seria muito aceitável, mas, eu não sabia o que poderia fazer. O David se negou a ir até um pronto-socorro. Eu me lembrei daquela maletinha de primeiros-socorros que a Sheila tinha criado um tempo antes. "Vai ficar no armário da cozinha, porque, de longe, a cozinha é o ambiente mais perigoso de qualquer casa. Assim que for necessário, já sabe onde encontrar!". Ela sabe das coisas, apesar dos pesares.
- Vergonha?! - ele me questiona, como se não soubesse do que eu estou falando.
- Eu imagino - falo enquanto seco o ferimento dele com uma gaze, tentando tirar o resto de soro fisiológico - Que você esteja se culpando.
- Como?
- Sejamos honestos, David. Você acha que ser gay é um problema, não é? - respiro fundo - Mas, eu quero que saiba que não é.
- Ah, pronto! - ele se afasta um pouco de mim - Pra você é fácil falar. É muito fácil dar apoio moral quando não se passa pela mesma situação. Tudo se resolve num passe de mágica assim.
- Quem te disse que eu não passo pela mesma situação?!
Ele fica em silêncio. Seus olhos me fuzilam como se estivessem diante de uma aberração.
- É, David... Nós somos iguais! - eu me aproximo dele - Iguaizinhos. A diferença entre nós é que eu tentei me negar demais ser quem sou e acabei me envolvendo com uma mulher. Eu quase me casei com ela.
- E onde ela está?
- Me traiu! - dou uma pausa, guardo o resto das gazes dentro da caixinha sobre a mesinha de centro - É nisso que dá, David! Quando algo não é verdadeiro, não dura. Não tem jeito. A gente pode até mentir para os outros, mas, de uma forma bem cruel, nunca vamos conseguir mentir pra nós mesmos.
- Eu não minto pra mim mesmo! - ele me diz, quase me repreendendo - Eu só não quero que ninguém saiba. É algo meu, não tem porque os outros saberem.
- Será que é por isso mesmo, David? Será que você se aceita tranquilamente, mas, não quer que os outros saibam só porque você não se importa com a opinião deles ou porque você não suporta sua opinião sobre si mesmo?!
Mais uma vez ele fica sem silêncio e eu sinto que ultrapassei os limites.
- Me perdoe! - eu falo, me levantando do sofá - Eu não tenho o direito de te falar merda nenhuma. Realmente, me perdoe.
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Gay Killer
Mystery / ThrillerUma série de assassinatos está acontecendo em São Paulo. A única coisa em comum entre as vítimas é o fato de todas serem homens homossexuais. O detetive Caio Barreto é designado para o caso. Enquanto isso, o jovem David começa a receber telefonemas...