Capítulo 10

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David Rabelo

Eu estou tremendo, a boca começou a ficar seca. Estou me aproximando dos degraus que vão me levar até o segundo andar da casa do Arthur-Fedobinha.
Olho para os lados para tentar ver se estou sendo espionado por alguém. Ninguém, aparentemente.
Todo mundo está cuidando da própria vida, fumando um baseado ou enchendo a boca com bebida quente e línguas de terceiros.
O som está alto. Muito alto.
Conforme eu vou subindo os degraus, o som da festa vai ficando abafado.
Duas garotas loiras com copos de cerveja e iPhones nas mãos cruzam comigo no corredor. Elas sequer me olham, estão preocupadas com os likes das fotos que acabaram de postar, eu aposto.
Dou passos lentos, acho que quero desistir imediatamente daquilo tudo. Mas, sei que não posso fazer isso. Não é hora de desistir de nada, eu já passei dessa fase.
Finalmente dou de cara com a porta do banheiro. Eu a abro e entro.

* * *

O banheiro é todo bem estruturado - parece mais um quarto - eu até acho que é maior que o meu próprio quarto.
É um vão branco, com boxe de vidro fumaçado, uma pia igual às de banheiro de shopping - com a excessão de que nessa há somente uma pia - um espelho que cobre toda a parede. É um primor, parece que estou num filme.
A luz é vermelha, deve ser daquele tipo que se programa as cores. Eu pareço estar num motel.
- Puta que pariu!
Essa voz não me é estranha.
Viro-me para encarar o dono da voz e dou um passo para trás ao ver o João Victor.
- Veadinho?! - ele também está surpreso.
- O que você está fazendo aqui? - eu questiono.
- Era você no app?
Eu fico em silêncio e isso já é o suficiente para ele entender.
- Puta merda, David! - ele está nervoso - Eu não posso acreditar! - ele sorri - Então você curte mesmo?!
Eu continuo em silêncio.
- Relaxa, veadinho, eu não vou contar nada pra ninguém, combinado?! - ele me encara, vai se aproximando - Mas, apesar da surpresa, eu gostei de saber que você curte, sabia?! - ele passa a mão direita em meus cabelos, estamos absurdamente próximos - Eu sempre te achei uma gracinha, apesar de estranho.
- Eu não sabia que você curtia!
- Ninguém sabe! Mas, eu gosto muito. Eu amo!
- Se ama, por que nunca contou pra escola toda?! Por que nunca se assumiu?
Ele fica me encarando por alguns segundos e aí sorri.
- Porque não é da conta de ninguém, David! É sobre mim, é sobre minha vida! Então, pra que vou dizer para alguém? Que diferença isso vai fazer?!
Eu fico calado, mas, concordo com ele.
- Vem cá! - ele diz, puxando meu queixo em direção ao dele. Logo, nossos lábios estão se tocando.
Eu sinto a língua dele entrando em minha boca, à medida em que as mãos vão indo em direção à minha bunda. Sinto elas apertarem minha parte de trás e, aí, sinto-me ficando ereto.
- Isso é bom, né, veadinho?! - ele sussurra em meu ouvido.
Eu não digo nada, apenas passo minha língua no pescoço dele.
Ficamos arrepiados.
- Vem cá! - ele me fala, me puxando em direção ao boxe do banheiro...

* * *
São quase duas da madrugada e eu estou muitíssimo cansado. Ainda sinto o cheiro do João Victor em mim - e também o gosto dele.
O namoradinho escroto da Lisa me deixou em casa há pouco mais de meia hora e eu só penso em como fui incrivelmente maluco hoje.
Se alguém sonhar, me mata!
Se minha mãe sonhar, eu estou morto.
Abraço meu travesseiro que está com cheiro de amaciante de roupas e minha jaqueta fica um pouco mais quente. Não tive coragem sequer de tirar os tênis. Foda-se, eu estou bêbado mesmo!
Acho que ninguém desconfiou - coloco um sorriso em meu rosto - eu fiz direitinho, né?! Não dá pra saber!
Nunca desconfiei do João Victor! Ele escondia bem as coisas. Apesar do jeito boêmio e, até certo ponto, irritante, ele nunca foi mais que isso pra mim: boêmio e irritante.
Acho que ele tinha dinheiro, ele vivia rodeado de pessoas ricas da escola e, no Instagram, sempre tinha foto de viagens por lugares paradisíacos e cerveja cara. Um menor de idade tomando cerveja, é o caos.
Enquanto penso sobre a vida que o João Victor levava, me recordo do policial. Aquele tal Detetive Barreto. Caio era o primeiro nome dele.
Lindo. Ele é loiro, olhos claros, corpo malhado - eu podia jurar que tinha tanquinho também, com aqueles gominhos de músculo que saltam do abdômen. Deve ser a coisa mais linda desse mundo sem camisa.
Mas, ele parecia meio bravo, sei lá. Deve ser por que trabalha na polícia. Eu acho que me senti um tanto quanto atraído por ele.
De um modo meio estranho, eu esperava que ele entrasse em contato comigo.
Eu podia jurar que ele entraria. Talvez não dá forma como eu desejava, mas, uma hora ou outra, ele iria falar comigo e, quando isso acontecesse, eu estaria pronto!
Eu estarei pronto!
Sorrio de novo e agarro mais forte ainda o travesseiro. É gostoso sentir o cheiro de amaciante de roupas.

Gay KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora