Capítulo 15

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Caio Barreto

Levo a Carol para uma lanchonete na hora do almoço. Até então, eu não menciono minha desconfiança  para ela. Eu tenho medo da delegacia, acho que as paredes por lá, realmente têm ouvidos atentos.

- Aquele garoto está se encaminhando para um trauma! - diz minha parceira, jogando a bolsa de couro marrom sobre uma das cadeiras à mesa da lanchonete, enquanto senta-se em outra - Você viu só a cara dele?! Ele tá sofrendo pra cacete, Caio! Eu sou capaz de apostar numa síndrome do pânico!

- Não é pra menos! - eu digo, sentando-me enquanto aceno para um garçom trazer o cardápio - Mas, eu senti que ele me escondia algo.

- Insh Alá! - ela sorri - Mãe Caio Barreto traz a pessoa amada em três dias! - ela sorri, fazendo piada da minha cara da forma mais cruel que ela consegue - Foi mal... O que você acha que ele pode estar escondendo?

- Não sei... - eu olho o cardápio que o garçom trouxe - Talvez ele tenha mais detalhes sobre o cara, mas, teve medo de me dizer diretamente.

- Diretamente?!

- A descrição que ele deu, Carol, não te lembrou ninguém?

- Não... - ela arregala os olhos, esperando pelo meu próximo passo.

- O Leonardo!

- O homofóbico?! - ela parece duvidar - O nosso homofóbico de estimação?! E acho que não, Caio... ele é meio brutamontes e bem idiota, mas, daí a ser um assassino em série...

- Pelas características que o David disse, Carol! Alto, careca, tatuagem no braço... 

-Não, não... isso é loucura! - ela chama o garçom e pede uma cerveja e, quando ele se afasta para ir buscar, ela se vira para mim - Sabe o que eu acho que pode adiantar, e muito, o nosso lado nessa porra de investigação que está parada há anos-luz?!

- O quê?

- Você criar uma conta no aplicativo de paquera gay e tentar achar o nosso cara.

- O quê?

- Sim, Caio! Pelo depoimento do próprio David, ele conheceu o Rafael pelo aplicativo de paquera gay. Com certeza o Rafael conheceu o nosso cara lá também. É a nossa chance de conseguir pegar esse desgraçado.

- Marcando um encontro meu com ele?! - eu sorrio - Isso é sem lógica, Carol!

- Não! - ela retruca, enquanto começa a tomar a cerveja que o garçom acabou de trazer - É bem lógico, na verdade! Se quer pegar uma galinha para matar e comer, é mais fácil se você for até o galinheiro. Esse aplicativo de paquera gay é o nosso galinheiro.

Eu fico calado, encarando-a.

Surpreendentemente, a ideia da Carol faz total sentido.


* * * 


Estou sozinho em casa. Lá fora, o céu parece que vai desabar a qualquer momento, de tanta chuva.

Relâmpagos, trovões e eu só consigo me lembrar de duas pessoas: da Sheila e do Mateus.

Se ele não tivesse feito o que fez, eu não teria sido jogado para os braços dela e, se isso não tivesse acontecido, eu não teria sofrido duas vezes.

Duas dolorosas vezes.

Dou um gole na minha cerveja com limão e tomo coragem para apanhar o celular que está sobre a mesinha de centro da sala.

Baixo o tal aplicativo de paquera gay e não leva muito tempo até eu criar uma conta na plataforma.

É preciso uma foto de perfil.

Mostrar meu rosto pode ser perigoso, talvez o nosso cara seja o Leonardo mesmo, aí, o plano não dará certo.

Então, escolho no rolo da câmera uma foto na qual estou sem camisa em frente ao espelho - eu queria ver minha evolução na academia. Recordo a foto, de modo que fico sem cabeça, e a coloco como foto de perfil.

Outra etapa: meu nome no app.

Penso um pouco e coloco um que seja bem sugestivo, um alvo fácil: sexoagora.

Pareceu vulgar à primeira vista, mas, depois, eu me senti  confortável em usar, é para o bem da investigação.

Na descrição do perfil, eu prefiro ser direto: "curto tudo!".

É, eu acho que dá para chamar a atenção do nosso cara.

Dou uma passeada pelos perfis mais próximos de mim - já que o app mostra os caras que estão mais pertos de você, para facilitar os encontros - vários deles estão sem camisa, como eu, alguns outros mostram o rosto, mas, a maioria prefere esconder. Com certeza, o nosso cara está nesse segundo grupo. A menos que ele seja um fake.

Antes que eu bloqueie a tela do celular, recebo uma notificação.

O dono da mensagem tem um nome engraçado no perfil: "me mame".

A mensagem não poderia ser outra:

"Topa real agora?".

Assim que eu leio, sinto um arrepio percorrendo meu estômago e minha espinha.


Gay KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora