Capítulo 16

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David Rabelo

Pensar em todas as coisas que estão me acontecendo me deixa ansioso. Muitíssimo ansioso.

Eu aprendi - não há pouco tempo - que eu tenho que lidar melhor com minha ansiedade, mas, honestamente, não consigo fazer isso de uma forma muito eficaz. Quando eu menos percebo, estou ansioso. Muitíssimo ansioso. 

Nos últimos tempos, depois daquelas malditas ligações, minha ansiedade tem se tornado algo além. É quase como se fosse síndrome do pânico. Eu fico apavorado do nada, tenho medo de morrer e muita vontade de chorar. Aí, preciso fazer algo para sair dessa situação. Preciso agir.

- A terapia não foi boa hoje, David? - minha mãe está ao meu lado, ela apareceu ali quase como um fantasma.

Estou sentado no sofá da sala há algum tempo. A Ellen está brincando com um kit lego no tapete, enquanto na TV passa mais um episódio da Peppa Pig e, até então, minha mãe estava na cozinha preparando o jantar.

Desde que cheguei da terapia me vejo apático. Eu sei lá, parece que esse negócio de psicólogo não é pra mim. De uma hora para outra, o Dr. Jessé começou a me tratar de uma forma esquisita. Será que ele acha que meus problemas não são tão grandes assim e que eu não deveria estar numa terapia?! Será que ele, como todos os outros, só sabe me julgar, sem sequer buscar me entender?! Eu, honestamente, só não quero mais ter que ir para a terapia.

- Foi de boa! - eu respondo para a minha mãe - Só estou pensativo mesmo. Mais tarde vou sair com a Lisa e tudo ficará bem de novo.

- Sei...

Eu conheço minha mãe bem o suficiente para entender que esse "sei..." quer dizer "você não me engana". 

De repente, tudo o que eu mais quero é sumir do mapa.


* * * 


Eu menti para a minha mãe - o que não é novidade. Nunca houve encontro nenhum com a Lisa e eu conseguiria um encontro com a minha melhor amiga facilmente se eu quisesse. Mas, eu não quero. 

Eu estou agoniado, parece que existe um bilhão de vozes em minha cabeça e todas elas querem me ver morrendo.

Estou com meu suéter preto que me rendeu o apelido de pinguim na sala e caminho apressadamente pelas ruas mais desertas do centro.

A garoa volta a cair. Sinto meu corpo inteiro gelar.

Tem dois caras próximos a um poste, eu sinto o cheiro do perigo, dou alguns passos para trás.

- Cama aí, mano! - grita um deles - A gente não vai te assaltar não!

Acho difícil de acreditar. Eu não sou muito de julgar, mas, eles parecem o tipo que me assaltaria. 

Sigo a passos mais largos na direção oposta à dos dois e começo a ouvir que eles também estão vindo para essa direção. Os passos deles aumentam de volume e quantidade e eu começo a correr.

A boca seca, a garganta arranhando, o coração acelerado.

Eu sinto que meu cérebro vai explodir. 

Vejo que o sinal verde para pedestres está quase no fim e atravesso a avenida bem na hora em que ele fecha. Consigo escapar de um carro preto por pouco. 

Fico recobrando o fôlego do outro lado da pista, enquanto vejo os dois caras, desapontados, voltando para a rua escura de onde vieram.

Essa foi por pouco.

- Quer curtir? - indaga-me um jovem loiro de olhos verdes. 

Os olhos dele estão enfeitados com rímel preto e as unhas pintadas de roxo. Na palma da mão que ele me oferece, dois comprimidos, imagino que seja algo ilegal.

- Não, valeu!

- Ah, qual é... - o rapaz vem me seguindo - Eu me chamo Alfredo do Vale, sou do Rio, mas, estou aqui pra fazer novas amizades. Por que você não quer ser uma delas?

Estamos caminhando pelo calçadão, ao lado das lojas, enquanto os carros passam por nós de forma feroz na avenida. A garoa continua fina, quase imperceptível, mas, meu capuz me protege. 

- Eu não acho que eu seja exatamente o tipo de amizade que você busca por aqui, Alfredo do Vale!

- Tudo bem, você pode não querer os comprimidos, mas, vai me negar ir a uma boate comigo? 

Eu o olho torno, acho que ele entende o recado. Continuo apressando o passo.

- Qual é?! - ele insiste. 

- Eu não quero, porra! - eu berro, empurrando-o para longe de mim - Dá pra se mancar e cair fora?!

- Viadinho imundo! - fala o Alfredo do Vale, se aproximando ferozmente de mim.

Alfredo soca meu rosto com o punho fechado, sinto uma dor lascerante na face.

Antes de eu me recuperar, ele chuta minhas pernas, eu caio no chão.

Não há ninguém por perto. 

Sinto os chutes dele por toda a parte do meu corpo. 

Parece que não vou mais conseguir respirar.

Ele para com os socos e eu o vejo se aproximando de mim. Ele apanha uma lâmina de dentro do bolso da calça e a aproxima do meu rosto.

- Filho da puta! - ele sussurra, antes de pressionar a lâmina contra minha bochecha.

Eu sinto a perfuração, sinto o sangue saindo, sinto o ódio nos olhos dele.

Depois, uma luz forte envolve o rosto macabro do Alfredo do Vale e ele sai correndo.

- Se cuida, putinha! - diz ele antes de sair correndo.

Eu me esforço para me levantar, então, ouço uma voz familiar me dizer:

- David, você está bem?

Eu me surpreendo, meu coração continua acelerado, mas, agora é por outro motivo. Meus olhos cruzam com os dele e eu mal posso acreditar que, mais uma vez, estou de frente com o Detetive Barreto.

Gay KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora