Capítulo 21

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Caio Barreto

A Carol está sentada à minha frente - estamos em minha sala - ela trouxe as informações sobre Daniel Carneiro. A vítima mais recente do nosso cara.

Daniel Carneiro tinha 23 anos de idade, era estudante de Educação Física e, claro, homossexual. 

As fotos do corpo nú, com perfuração na femoral direita e os lábios costurados estão sobre minha mesa. De todas as vítimas do maníaco, Daniel Carneiro é, de longe, a mais bela.

O corpo do rapaz parecia ter sido esculpido por Michelangelo, o rosto tinha traços finos, com nariz num desenho perfeito. Os cabelos cor-de-mel eram ondulados, na altura das orelhas, os músculos, bem definidos. Ele era o típico adepto das práticas esportivas, da musculação.

- Esse cara deve ser forte! - diz a Carol - Pra conseguir abater um monstro desses...

- O exame toxicológico já saiu, não tinha nada no sangue dele. Nem no estômago.

- Exatamente, Caio! Se ele estivesse ao menos alcoolizado, seria mais fácil de fazer isso. Mas, aparentemente, o cara nem lutou pela própria vida.

- Talvez tenha sido pego de surpresa! - eu suponho - Não deu tempo de haver reações. 

- E tá todo mundo cobrando muito da gente - ela segue - Até a Denise está me cobrando, Caio. O Caso simplesmente não evolui e tudo que nós temos é uma bosta de câmera de vídeo que não flagrou nada.

Eu suspiro.

De fato, a única coisa que a câmera mostrou, foi o David indo pelo estacionamento para o encontro que quase acabou com a morte dele.

Não tinha imagem nem mesmo do falecido se aproximando do local. Não tinha nos servido de nada. 

Enquanto conversamos, aguardo a chegada do David. Ele parecia afoito ao telefone, mas, não é bem por isso que eu quero vê-lo. Eu preciso me encontrar com ele de novo, com aqueles olhos de menino tímido.

Alguma coisa no David Rabelo me encantava muitíssimo. Me questiono se isso é carência de minha parte. Afinal de contas, acabei de terminar meu relacionamento com a Sheila.

- E você parece estar devagando...

- O quê?

- Caio, honestamente - ela está impaciente, o tom de voz é mais agressivo - Estamos lidando com um psicopata que tá matando muita gente num curto período de tempo e tudo com o que você realmente se preocupa é com o chifre que levou da sua ex.

- Não é bem assim, Carol.

- É assim, sim! Porra, cara, nós estamos andando em circulos, sem fazer absolutamente nada pra descobrir quem é esse louco! A gente precisa agir...

- Eu preciso de tempo com o David, Carol - eu falo - Eu sei que ele sabe de alguma coisa, mas, está com medo de me contar. Eu sinto que, em pouco tempo, vou conseguir tirar dele alguma informação mais precisa e que vai nos levar até esse assassino. Você precisa confiar em mim.

- É difícil confiar em alguém que não faz nada! - ela se levanta e joga sobre a mesa um saco plastico contendo uma carteira, um maço de cigarros e um celular - isso aí era do Daniel Carneiro. Nós apreendemos. A família deve querer logo, logo, então... 

Ela se retira da sala sem olhar para trás e, assim que ela some de minha vista, vejo o David entrar, o mesmo suéter preto com bola branca na frente e a expressão de pavor. Ao lado dele, está o Leonardo. Posso entender o motivo do pavor.

- Olá, David! - eu digo, puxando o saco plástico para mim - Obrigado, Leonardo, nós vamos conversar um pouco.

O Leonardo sai, fechando a porta e o David vem direto para a cadeira onde a Carol estava sentada.

- E aí?! - eu digo com cuidado, quero que ele se sinta à vontade comigo - Como você está? O rosto, pelo menos, parece melhor...

- Eu estou bem fisicamente...

- E emocionalmente?

- Não... Não muito.

- O que te impede de se abrir pra mim, David? - quando percebo, estou com minha mão esquerda sobre a dele. Eu quero apoiá-lo, quero que ele confie em mim.

Ele me encara, os olhos estão prestes a desabar. 

- Eu estou recebendo ligações! - ele puxa a mão. guardando-a no bolso do suéter.

Eu não sei se entendi direito. Tento acalmar meu tom de voz, não quero parecer afoito, talvez isso o espante. 

- Que tipo de ligações, David?

- Privadas! - ele olha para baixo - Não sei de quem, não aparece número na tela...

- Certo... E?

Agora ele olha direto para mim, os olhos estão vermelhos, o tom de voz parece querer segurar um grito.

- Eles me ameaçam! Dizem que vão me matar, dizem que sou o próximo.

Eu sinto o pânico que sai da boca dele. Ele parece temer tanto isso que, apenas em tocar no assunto, é como se ele fosse de fato morrer.

- Se acalme, David! - eu tento passar tranquilidade com a voz - Você acha que essa pessoa..

- Essas pessoas! - ele me corrige - Eu noto que são vozes diferentes. Uma já me ligou duas vezes e a outra, me ligou uma. Sempre falando a mesma coisa. Eu preciso de ajuda. Isso tem me deixado louco, tem me feito fazer coisas loucas.

- Se acalme, David! - eu falo de novo - Eu estou aqui para te ajudar, você não precisa se preocupar com nada. Você está seguro.

- Tudo bem!

- Você  sabe quem é que tá fazendo isso contigo?

- Não! Eu não tenho ideia...

- E sabe o motivo? - eu questiono.

- Por que eu sou gay! - ele dispara - Me disseram que vão me matar porque eu fiquei com algum cara que é namorado deles ou algo assim... Eu sei, não faz nenhum sentido, mas, foi o que me disseram. Eu só conheço caras por aplicativo. Já apaguei uma conta e fiz outra nova, mudei as fotos, mudei o nome, mas, as ligações continuaram. Eu não sei mais o que fazer, Caio, você precisa me ajudar!

- Tudo bem, David, eu imagino que esteja sendo terrível para você. Mas, você precisa me ajudar a te ajudar, certo?! Claramente, essas ligações têm uma relação com o nosso cara, com o assassino que está aterrorizando a comunidade LGBT. Nós precisamos pegar esse cara e você vai nos ajudar. Ele já tentou te matar antes, pode querer fazer isso outra vez. É aí que vamos colocar as mãos nele.

- Não acho que tenha relação...

- Como não?

- Se fosse a mesma pessoa, eu já estaria morto, você não acha?

Eu fico pensativo. 

- Sei lá, cara, eu não quero me meter no seu trabalho, mas, eu acho que você está indo pelo caminho errado.

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