Capítulo 14

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David Rabelo

Eu juro que eu tentei falar pra ele toda a verdade, mas, eu simplesmente não consegui.

Como é que eu poderia começar a falar?

"Então, Detetive Barreto, eu estou sendo perseguido, eu recebo ameaças de morte através de ligações misteriosas.".

Não, eu nunca ia conseguir falar nada daquilo para ele. 

Ainda tiveram aqueles olhares estranhos por parte do pessoal da Delegacia inteira. Eles pareciam estar me julgando. Eles sabiam quem eu era, eu aposto. Eles sabem quem eu sou. Eles sabem que, só de ter ido falar com o Detetive Barreto, eu estou envolvido, de algum modo, no caso do Serial Killer Gay. 

Eles sabem que eu sou gay.

Estou com um nó na garganta e meu ar quase me falta. É uma dificuldade enorme respirar. Eu tento, mas, por vezes, ela falha.

Estou sentado no banco do ônibus, preso em meus pensamentos, enquanto olho a paisagem paulistana passar pela janela. Nos fones de ouvido, estou tendo a voz da Adele, cantando Skyfall. É um clássico que acaba me acalmando um pouco. 

Meu coração continua bastante apertado, com aquela sensação horrorosa de medo e angústia e de medo de morrer. É tudo misturado e meu corpo parece dar sinais claros de que meus pensamentos estão certos: eu vou morrer.

Até que chego em meu ponto. Desço do ônibus e vou caminhando em direção à minha casa. É tudo tão difícil, o ar continua como se estivesse faltando. Será que está faltando mesmo?

Eu me lembro dos olhos verdes do Detetive Caio Barreto e de seus cabelos loiros e ondulados, como os de um príncipe de contos de fada. Por um segundo, eu sinto que meus pulmões estão trabalhando normalmente de novo.

Meu celular toca. Meu coração se acelera. Eu olho o display e atendo:

- Oi, Lisa!

- Como foi lá? - ela questiona.

Pareceu um passo muito importante: num só dia, eu contei para  Lisa que era gay e que estive envolvido num crime e que, por isso, tinha sido chamado para depor.

Não me surpreendeu a curiosidade dela.

- Ahm - eu digo - Foi tranquilo até... Ele só queria saber se eu me lembrava de alguma coisa mais específica sobre o dia atrás do estacionamento da boate lá. 

- E você se lembrou?

- Não... Eu apenas mencionei que ele era careca também. Mas, eu não tenho tanta certeza agora... Estava muito escuro e eu estaava com medo.

- E com o braço cortado!

- Pois é...

Ela fica em silêncio e eu também, ouvindo apenas o som da cidade e de meus passos no asfalto úmido.

- Que tal a gente sair hoje a noite? - ela diz - Podíamos voltar lá.

- Lá aonde, Lisa?

- Na Boate, ué! Seria ótimo você tirar a má impressão que teve do lugar, entende?! O que acha?

Eu penso por menos de dois segundos.

- Sim, eu topo!

Nos despedimos e eu desligo o telefone. 

A Lisa sempre teve essa espécie de poder sobre mim. Ela me faz enxergar as coisas boas que estão ao meu redor e isso é quase mágico, tendo em vista que eu sempre tive tendencia a ser pessimista.

Chego em casa e passo direto para meu quarto. Tiro minha roupa, os sapatos e sigo para o benheiro.

A água quente aquece meu corpo e esfria meus pensamentos. É como uma terapia. Mais uma terapia. 

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