David Rabelo
Eu sinto uma atração quase fatal pelo Detetive Caio Barreto, eu devo confessar.
Ele é diferente de todo o resto do mundo, não sei explicar. Talvez sejam aqueles olhos verdes vívidos ou os lábios róseos robustos, ou, ainda, os cabelos loiros macios.
Há algo nele bem diferente do que o que eu tenho costume de encontrar por ai.
Malditos aplicativos de paquera.
Não, eles não são legais.
Se não fossem por eles, aliás, eu não viveria como estou vivendo: em pânico.
É graças a eles que eu recebo essas maldidas ligações me ameaçando.
E eu fico com medo. Queria contar ao Caio, mas, não dou conta. Eu tenho receio que isso me gere algum problema, além do fato de que, provavelmente, ele vai pensar que eu sou uma biscate - já que fiquei com o namorado alheio - e, definitivamente, eu não quero que ele pense isso de mim.
- Flutuando de novo, pinguim? - diz a Lisa, se aproximando de mim, enquanto masca um chiclete de menta.
Os chicletes de menta me lembram do Caio. Ele tem sempre um por perto. Sempre um cheirinho de menta.
- Oi...
- E ai, viadinho?! - sorri o João Victor, como se ele também não fosse.
- Ah, qual é, prego?! - diz a Lisa - Isso logo de manhã, me poupe.
- E o que tem de ruim nisso, Lisa?! - ele a confronta - Eu também sou - diz, olhando e sorrindo para mim - E, apesar de estranho, convenhamos que o pinguim é bem bonitinho, né?!
- Mas ele jamais daria mole pra um prego igual a você. Ele se valoriza, meu filho!
Eu fico rubro na hora. Ela está enganada a meu respeito. Acho que todo mundo está.
- Será?! - o João Victor diz, um sorriso malicioso direcionado a mim, ele quer me intimidar - e consegue.
- Talvez eu ficasse contigo, João! - eu disparo, igualmente cínico - Talvez numa festa onde eu estivesse absolutamente bêbado e sem responder pelos meus próprios atos e, talvez, quando eu chegasse em casa, eu me perguntaria "que porra eu fiz?" e me arrependesse amargamente, como se eu tivesse ficado com o filho do demônio.
Ele sorri, é uma gargalhada gostosa, mas, muito falsa.
- Você é hilário, cara! Acho que não pensou isso quando estava gemendo no meu pau...
- O que é isso?! - grita a Lisa - David, vocês se pegaram?
- Sim! - quem responde é o João - Na festa do fedobinha e ele gozou litros.
Eu fico com raiva. Tenho vontade de socar a cara dele, ele não deveria me expor assim.
- Relaxa, David! - ele continua - Ninguém mais vai saber disso não, tá?! Eu só contei aqui porque eu sei que a Lisa é sua amiga. Fica de boa.
Ele não me dá tempo de responder, sai sem olhar pra trás.
- Puta que pariu, David! - a Lisa protesta - Logo com aquilo ali?!
- Eu estava bêbado - minto - Foi só por isso...
- Enfim... - ela diz - Passado é passado, quem nunca errou, né?!
Eu penso por um instante que, com relação a isso,a última pessoa no mundo que pode me dar lição de moral é a própria Lisa. Ela nunca acerta com cara nenhum. São todos estranhos e grudentos. Todos bem diferentes do Caio Barreto.
Só que temos ai também um fato que, no meu caso, pode pesar. O Caio é mais velho que eu. Eu, tenho 18 e ele, 30.
Será que eu teria chances? Sei lá, talvez ele não seja mesmo pra mim.
Só que algo me diz que ele se interessa. Chame de sexto-sentido, se quiser.
- E os aplicativos? - me indaga a Lisa.
- O que tem?
- Pegando muitos?
- Saí com um esses dias... Era bonito. Tinha um corpo bacana...
- Uau, que evolução, hein?! Do João Victor pra um cara bonito de corpo bacana... Ótimo! Tô gostando de ver. Você não é uma putinha barata!
- Não fala assim. Eu não gosto desses termos, Lisa.
- Desculpa, eu tô tentando ser engraçada com você. Sai dessa casca, cara. Se liberta disso.
- É, mas, cada um tem seu tempo, não é?! E eu acho que omeu ainda não chegou. Agradeceria se você me respeitasse nisso.
Me levando do banco e saio sem olhar pra trás. Eu, honestamente, me canso da Lisa muitas vezes ao dia.
Vou pra aula de Biologia que, apesar da Valdete, é a única coisa que ainda me interessa nesse mundo lixo.
* * *
Quando chego na sala, abro o aplicativo de paquera. Dou uma olhada no meu último chat, com o cara malhado. Tenho vontade de ver as fotos dele, aquele corpo incrível de novo.
Logo, sinto o volume em minhas calças aumentar.

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Gay Killer
Mistério / SuspenseUma série de assassinatos está acontecendo em São Paulo. A única coisa em comum entre as vítimas é o fato de todas serem homens homossexuais. O detetive Caio Barreto é designado para o caso. Enquanto isso, o jovem David começa a receber telefonemas...