Prólogo

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Doze anos antes...

Lembro-me como se fosse ontem. Meu coração palpitava enquanto o sentimento de desespero alastrava-se por todo o meu corpo como um veneno mortal, assim que vi-me aprisionada por uma rede de pesca.

Tentei soltar-me de todas as maneiras, entretanto, de nada funcionava. Assim que senti meu corpo ser erguido para fora d'água, aquietei-me na rede. Já não havia forças para lutar.

Ouvi risos maldosos adiante e olhei, terrivelmente assustada. Eu era apenas uma criança que havia desobedecido as palavras de minha mãe.

- Não ouse afastar-se da ilha. É perigoso! - alarmou ela, apenas algumas horas anteriores.

Eram imundos, mal cheirosos e sorriam maliciosamente com seus dentes podres amostra. vestiam botas, roupas de couro e muitos colares e jóias. Alguns também usavam chapéus e lenços. Certamente eram piratas, sempre desprezíveis e impiedosos.

- Capitão Murray, os rumores são verdade! Venha ver o que conseguimos encontrar! - Disse um deles olhando para mim com um sorriso assustador.

O capitão saiu da cabine e andou até a proa, em silêncio. Tinha uma expressão rude, apoiava suas mãos no cinto marrom que usava. Também tinha uma cicatriz enorme que começava acima de sua sobrancelha loira, cortava seu olho azul e terminava apenas abaixo da maçã do rosto, um pouco antes de chegar a barba loira, longa e desgrenhada que tinha.
Assim que aquele homem terminou seu trajeto, o mar, que normalmente fazia o navio balançar continuamente, parou de produzir suas ondas e o vento cessou. Os piratas entreolharam-se confusos pela mudança repentina do tempo, mas eu sabia o que estava prestes a acontecer.

Um canto foi ouvido. Um único canto com uma única melodia. Os piratas olharam ao redor procurando a dona da voz, mas estavam desconfiados e mantinham suas mãos no cabo de suas espadas.

O canto se enriqueceu e mais vozes foram ouvidas. Minhas irmãs haviam chegado, mas eles não as veriam até que a canção, finalmente, mostrasse efeito. Estavam preocupados demais com as possíveis aparições para perceber que a música que faria todo o trabalho por elas.

Um deles sacou a espada, ofegante. Seus olhos estavam agitados e ele olhava para cima com horror. Os homens ao seu lado tentaram entender o motivo de tanto medo, mas não havia nada alí.

Um deles tentou tocá-lo, mas nada adiantou. O homem começou a chorar e suas mãos a tremer, até que sua espada caiu. Seus lábios tremiam e em sua testa, pequenas gotas de suor escorriam até o final do queixo.

Os outros marujos o balançavam, mas de nada adiantava. Ele sussurrava palavras inaudíveis e começou a dar pequenos passos para trás, que aumentaram gradativamente até que tropeçasse em seus próprios pés. Seu corpo bateu na parede do navio e caiu em alto mar.

Todos que observavam a situação gritaram por seu nome, mas ele já não boiava lá embaixo e nunca mais voltaria a emergir.

Os cantos não cessaram e, em seguida, mais dois ou três homens caíram na mesma armadilha. Pouco tempo depois, restava apenas o capitão do navio. Aterrorizado, não sei se pelo efeito que a música transmitia ou por ter perdido toda a sua tripulação. Não custou muito para que ele tivesse o mesmo destino de seus marujos.

A cantoria finalmente cessou. Minha mãe emergiu da água com sua tiara de pérolas e conchas e antes que pudesse começar a falar, senti algo pular através de mim, cortando a rede e jogando-me ao mar novamente.

Emergi vendo minhas irmãs aproximarem-se de mim, contentes. Estavam aliviadas e confesso que eu também.

- Desobedeceu-me. - Ouvi a voz perigosamente calma de minha mãe.

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