Mais de um mês e meio havia passado, Christopher e Serena treinavam todos os dias e ela estava progredindo bastante. Os dois tinham uma dinâmica incomum e mesmo com um treino cansativo, conseguiam tirar um proveito da diversão.
A garota tinha aprendido muito rápido tudo que o pirata havia lhe ensinado e já possuia grande domínio dos fundamentos. Em parte, porque quando o dia de treino era encerrado, ela continuava às escondidas, mesmo que Christopher falasse que era preciso descansar. Ela não precisava de descanso, não podia descansar.
Serena nunca se sentiu tão poderosa aprendendo a lutar. Depois de quase uma vida inteira escondendo-se e sentindo-se vulnerável a tudo ao seu redor, ela tinha uma forma de trazer o poder que ela tinha em mãos à tona. As sereias, por muito tempo, viveram se escondendo, cativas da própria existência e fugitivas da própria vida que tinham.
Apesar de terem vozes poderosas que podiam acalmar tempestades e levar pessoas ao mais profundo delírio, isso não foi o suficiente para que vivessem de forma protegida no mar. Na verdade, só intensificaram a procura por sua espécie.
Agora, tudo que Serena tem aprendido neste tempo no navio, em forma humana, criou uma vontade imensa em seu coração de que suas irmãs também tivessem esse conhecimento, que pudesse trazer uma segurança aderido a quase completa liberdade. Com isso, uma idéia ousada começou a contornar a sua cabeça, mas para isso precisaria que Christopher aceitasse fazer mais um favor.
Por isso, o chamou.
Ela olhou para o horizonte, vendo o oceano tranquilamente a balançar constratando com a ansiedade que sentia em seu coração.
— Queria lhe perguntar uma coisa. — Ela o ouviu aproximar-se.
Ela implorava mentalmente que ele aceitasse a proposta.
Ele parou ao seu lado, de costas para o mar, apoiado nas bordas do navio. Cruzou os braços, curioso e ajeitou o chapéu.
— Pode perguntar.
— Na verdade, quero lhe pedir um favor muito importante. Algo que estou pensando e você é o único que pode me ajudar. — Ela mexeu nas pontas do cabelo, angustiada com a futura resposta que ele daria e o olhou como um cachorro que espera por comida. — Na verdade, o único que eu conheço que pode.
Seu desespero era quase evidente. Os olhos levemente vermelhos e pequeninos das últimas duas noites mal-dormidas revelava que algo, além dos pesadelos, da irmã e da família, a preocupava.
Ele arqueou as sobrancelhas, risonho.
— Não acha que estou te ajudando o bastante? — Sorriu, apenas para descontraí-la.
A mulher não percebeu dessa forma. Se quer estava olhando para ele. A tensão dentro dela era grande demais para que mantivesse contato visual, por isso, não viu que o bom humor do rapaz acompanhava a sua fala, como era de costume.
Suspirou fundo, tentando ser paciente no momento. A falta de descanso e as preocupações que rodeavam sua cabeça estavam começando a afetar seu temperamento, que já não era tão manso como deveria.
— Certo. Está. Você pode recusar, se quiser. — Deu de ombros, aborrecida.
Ele poderia ser um pouco mais gentil, pensou ela.
— Em quê quer ajuda desta vez? — Perguntou risonho.
Ela respirou fundo, decidida e séria.
— Quero aprender a navegar. — O olhou nos olhos, como se estivesse certa do que estava pedindo.
E estava.
— Navegar? Digo, um navio? — Ele perguntou, surpreso.
Jamais, em nenhum momento de sua vida, presenciara uma mulher que quisesse aprender navegação. Este ofício era, majoritariamente, se não todo, feito por homens. Já era raro, ver uma mulher dentro de um navio, ainda mais como capitã dele.
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A Sereia E O Pirata
RomanceComo você se sentiria se a única garantia de sua sobrevivência fosse sair do lugar em que vive? Serena era uma garota um tanto peculiar. No lugar de suas pernas, havia apenas uma calda longa e escamosa. Para alguns, um ser como ela era impossível d...