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O local era úmido, com forte cheiro de peixe, mofo e madeira apodrecida. A embarcação balançava lentamente de um lado para o outro e o silêncio era solitário e vazio. Não havia nada naquele espaço mal iluminado além de grades de ferro e uma mulher de coração desesperançoso.

Lorelai estava recostada preguiçosamente na parede do navio e seu corpo balançava juntamente com ele quando as ondas tranquilas iam de encontro ao casco. Não fazia nada além de sentir pena de si mesma por ter a colocado naquela situação e seu rosto, encostado nas barras de ferro da grade, permaneciam sem qualquer expressão, conformados pela adversidade que estava passando. Ela não chorava faz um tempo. Não tinha mais lágrimas para cair de seus olhos e nem mesmo vontade em seu ser de derrama-las, nem se houvesse.

Lembrava-se de quando acordou no navio, nessa mesma cela. Havia encontrado-se com Magnus, um pirata galanteador e gentil, algumas horas antes. Ele havia prometido que mostraria todo o seu navio para ela àquele dia e assim, o fez, e depois um de seus marujos serviu chá na cabine para os dois, e juntos, brindaram o novo relacionamento. De repente, tudo havia ficado embaçado e a voz do seu amado parecia cada vez mais distante, até que sua visão escureceu e sua consciência foi adormecida.

Ela acordou na cela apenas algumas horas depois enquanto Magnus observava-a com olhos cativos e um sorriso delicado. Ele mexia em seu cabelo, acariciando-os com ternura. Todo esse gesto, era contraditório ao perceber que ele havia planejado tudo aquilo.

- Olá, minha querida. - Ele sussurrou.

Ela olhou ao redor e assustou-se.

- O que você fez? - Ela murmurou, sentindo sua garganta seca. - Onde estou?

- No meu navio, é claro. - Sorriu acariciando as costas do dedo indicador no rosto da garota.

- Por que? Por que você fez isso? - Perguntou, sentindo a vontade de chorar aumentar a cada segundo.

- Lorelai, querida. Uma mulher, uma criatura, como você é raro hoje em dia. Eu tinha que fazer alguma coisa. - Ele continuou sorrindo e segurou o pingente do cordão.

- Do que está falando? - Ela piscou algumas vezes, deixando as lágrimas caírem de seus olhos.

- Oh, não precisa mais guardar de mim, amor. Eu sei quem você é desde que coloquei meus olhos em você pela primeira vez.

Lorelai sentiu o desespero crescer em seu peito, junto com a tristeza, o arrependimento e a decepção. Suas lágrimas aumentaram e caíram mais frequentemente, em pouco tempo seu rosto já estava todo molhado.

- Co-como? Como soube? Como pôde fazer isso? - Ela aumentou sua voz com a indignação que crescia dentro dela.

Ele suspirou, levantando-se do pequeno banco em que estava sentado.

- Eu procuro por vocês há anos. Estudo vocês há anos. - Disse andando de um lado para o outro. - Meu pai e meu avô eram especialistas em encontrar criaturas como vocês e lucravam muito com isso. É óbvio que eu não faria diferente. - Ele riu. - Infelizmente, tive imprevistos quando percebi que não as encontrava mais como antes, pelas redondezas da Ilha Caliça. Meu lucro diminuiu o dobro por causa do seu sumiço, sabia?! - Ele voltou-se a sentar.

Lorelai encolheu-se no canto, aterrorizada.

- Relaxe, doçura. Não vou te fazer mal algum. - Piscou. - Eu não vou te matar. A sua vida está valendo muito mais agora. - Riu. - Acho que nós dois saímos ganhando, afinal.

- Eu achei que amava-me. - Ela murmurou, reprimindo um soluço de choro.

- O quê? - Ele a olhou, confuso. - Ah, querida, quem disse que não a amo? Assim você parte meu coração. - Disse de um jeito dramático.

Ele levantou-se e agachou-se perto dela, estendeu suas mãos sujas e grosseiras e tocou seu rosto delicadamente. A garota tentou esquivar-se, mas ele continuava acariciando sua bochecha.

- Você é a coisa mais linda que eu já vi em todo os sete mares. - Ele a olhava como um tesouro recém-encontrado. - Homens morreriam para ter uma de sua espécie, então é claro que eu a amo. - Aproximou-se de sua face até que a sua barba áspera tocasse em sua pele.

Lorelai nunca se sentiu tão impotente. Lágrimas não paravam de cair de seu rosto, seu coração batia tão rapidamente que a qualquer momento poderia parar. O ar parecia, a cada segundo, mais insuficiente e o amargor da decepção dominava a sua boca.

- Só não a amo mais do que o ouro que pode me dar. - Sussurou no ouvido da garota que soluçou amargurada.

Lorelai sentiu os lábios de Magnus tocarem seu rosto, onde depositaram um beijo delicado e a garota apertou os olhos com repulsão, de ter sido enganada e de si mesma por ter sido tão inocente.

O homem se afastou com um sorriso e saiu da cela, trancando a porta logo depois.

- Anime-se, belezura. Estamos indo para Boa Esperança.

Ele subiu as escadas enquanto cantarolava uma cantiga pirata sobre sereias.

Lorelai remexeu-se, voltando de suas lembranças de quando chegou ali. Ele não havia aparecido mais depois daquele dia e ela achava que poderia continuar assim. As visitas que recebia eram apenas de um dos marujos que vinham lhe trazer a comida.

Ela suspirou e deitou-se no chão, abraçada em suas pernas e fechou os olhos, quando ouviu um barulho como se fosse areia escorregando de um lado para o outro dentro de uma garrafa. Abriu os olhos e viu uma concha do tamanho da palma de sua mão, em forma espiralada. Uma Mensageira do Oceano.

Ela levantou-se rapidamente e colocou a concha no ouvido. Conseguiu ouvir o som do mar como se estivesse sentada na areia da praia e então uma voz feminina, bastante conhecida por ela, começou a falar através da concha:

- Lorelai, estão todas preocupadas com o seu sumiço. Mas, aguente firme. Eu estou a caminho e consegui ajuda. Você não está sozinha. - Ouviu a voz de Serena soar como vento. - Por favor, fique viva.

Seu coração acelerou fortemente e a garota começou a chorar. Alguém estava procurando por ela. Alguém estava indo atrás dela. Ela ainda tinha esperança.

Depois que o recado foi dado, a concha esfarelou-se em um punhado de areia e a garota ficou observando os grãos enquanto chorava de preocupação pela irmã e de felicidade ao mesmo tempo.

Depois que o recado foi dado, a concha esfarelou-se em um punhado de areia e a garota ficou observando os grãos enquanto chorava de preocupação pela irmã e de felicidade ao mesmo tempo

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Olá, olá, queridos! Como vocês estão? Espero que muito bem, afinal tem capítulo novo (alguém ouviu um amém?) de A Sereia E O Pirata. Quem não fica bem sabendo disso, né?!

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Beijos e até o próximo capítulo!

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