VII

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Ele balançou a cabeça fracamente em confirmação, mas sua aparência dizia totalmente ao contrário.

Os marujos perceberam a situação e ofereceram-lhe para levá-lo até a sua cabine.

— Meus deuses, olha só para você. — Eleonor disse desesperando-se. — Serena, ajude ele primeiro. Eu vou ajudar os outros feridos e já volto. — Ela disse entregando um pequeno baú de madeira com uma cruz vermelha na frente.

Lewis colocou Christopher em cima da mesa e tirou os outros marujos que ainda estavam no gabinete, depois fechou a porta deixando o ambiente silencioso.

Christopher respirava irregularmente e sentia as dores aumentarem a cada vez que enchia seus pulmões de ar. Serena apressava-se em abrir o baú e pegar tudo que precisasse de lá. Infelizmente não tinha muita coisa dentro além de panos, facas, alicates e algumas ervas medicinais.

Ela saiu do cômodo e pediu para que um dos marujos trouxessem um balde com água e rapidamente eles fizeram, deixando a sala fazia novamente em seguida.

— É a primeira vez que a vejo me chamar de Christopher. — Ele falou com a voz rouca e fraca.

— Foi o susto. — Sorriu e molhou o pano na bacia. — É estranho para você?

— Um pouco, já que todos me chamam de capitão. — Deu de ombros e em seguida murmurou de dor, esquecendo da situação em que estava. — Mas, eu gostei.

Serena evitou olha-lo e um sorriso pequeno apareceu em seu rosto, mas assim que percebeu, o desfez com rapidez.

— Precisará tirar a camisa. — Serena disse, com certo constrangimento.

Ele assentiu e, com caretas de dor, a tirou.

Serena observou o abdômen exposto com uma tatuagem de âncora logo abaixo do tórax e cicatrizes, algumas menores, outras maiores, por todo o tronco. Uma vontade repentina cresceu dentro da garota de tocá-lo, curiosa com a quantidade de machucados e com a pele pintada que nunca tinha visto de perto. Quando se deu conta disso, sentiu suas bochechas ruborizarem de constrangimento.

Retornou o foco ao machucado que ela ainda precisava tratar, mas percebeu como Christopher a olhava com divertimento e certa expectativa. Quando o rapaz viu suas bochechas ficarem vermelhas, não conseguiu segurar o sorriso ladino que brotava de seus lados.

Christopher não disse nada, afinal a mulher a sua frente já estava desconcertada o bastante com a situação, mas ele confessava a si mesmo mentalmente que estava gostando da atenção que recebia. Apesar das circunstâncias dolorosas.

Serena voltou sua atenção no que precisava fazer e limpou ao redor das feridas enquanto via Christopher resmungar silenciosamente.

— Eu vou tirar a bala. — Ela avisou. — Vai doer. — Disse preocupada.

— Tudo bem, eu já fiz isso várias vezes. — Ele assentiu. — Apenas me dê um pano.

Ela o entregou, ele dobrou várias vezes e deitou-se na mesa.

— Pode tirar. — Ele disse decidido e colocou o pano na boca.

Serena assentiu, insegura e respirou fundo. Olhou para o buraco e com uma pinça nada higienizada para o que teria que fazer, cutucou a ferida. Christopher esbravejou fechando seus olhos de dor e agonia.

— Eu sinto muito... — Ela disse em desespero enquanto continuava a tentar encontrar a bala fazendo o pirata urrar de dor mais uma vez.

Apesar da dor terrível, ele assentiu.

Segurava-se nas bordas da mesa na tentativa de sentir menos dor, mas não funcionava. Apertava a mandíbula no pano tão forte que pensou que a quebraria a qualquer momento. Por fim, sentiu um alívio dolorido preencher seu corpo quando o alicate deixou o buraco junto com a bala da arcabuz.

A Sereia E O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora