VIII

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Após a conversa de Christopher com o imediato, Serena tirou o mapa e a bússola de suas mãos e o levou até a cama, mesmo contra a sua vontade. Pegou a sopa e o entregou.

— Pode parar de me atalaiar. Já estou melhor. — Ele sorriu zombeteiro.

Ele olhou para a vasilha em sua mão observando aquele líquido cremoso e esbranquiçado.

— O que é isso? — Ele misturou a sopa com a colher, receoso em toma-la.

— Uma sopa medicinal que aprendi com a minha mãe. — Ela sorriu, sentando-se na cadeira a sua frente.

— Ela é algum tipo de curandeira ou bruxa? Por que acho que isso não vai me fazer melhorar. — Fez careta.

— Confie em mim. Funciona. — Ela revirou os olhos.

Ele pegou a colher novamente e com receio colocou um pouco do líquido gosmento na boca. O gosto era amargo, a textura era viscosa, mas no final conseguia sentir um gosto parecido com mel. Definitivamente aquela era a pior comida que ele já tinha comido em séculos, mesmo que ele não fosse um experiente nisso já que em seu navio pirata a comida mais luxuosa que tinha era sopa de legumes, fora isso, eles viviam de vinho, pão e bolachas de trigo murchos e velhos.

— Parece uma tortura usado com traidores.  — Fez careta. — Quais são os ingredientes?

— Não é permitido falar. A receita é secreta. — Ela deu de ombros.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Como quer que eu tome a sopa sem saber do que ela é feita? E se estiver tentando me envenenar? — Conspirou.

— Envenená-lo como exatamente? Onde, neste navio, há veneno? — Serena questionou.

— Não sei, suponho que tenha trazido contigo. — Ele cruzou os braços, como se estivesse realmente ponderando a hipótese.

— Ah, por favor, tome logo a sopa. — Ela juntou as sobrancelhas irritadiça.

— O tiro não me matou, mas isso certamente irá. — Ele apontou para a vasilha, indignado.

Respirou fundo e em um ato de coragem segurou a colher e colocou a vasilha na boca, tomando a sopa de uma vez.

Mel, cebola, alga marinha, gordura de peixe e três gotas de sua lágrima. Era a mistura que Serena havia usado para fazer a sopa. Se Christopher soubesse, nunca teria tomado, mas Serena sabia que o faria melhorar. As lágrimas das sereias tinham efeito de cura em qualquer coisa que elas depositassem as gotas e isso o ajudaria. Não fora fácil fazê-la chorar, uma vez que, ela teve de pensar em várias coisas que a deixassem triste, de propósito, para que conseguisse as lágrimas. Era um processo doloroso, pois se a gota não carregasse um sentimento verdadeiro, não funcionaria.

Quando terminou de tomar a sopa, ele entregou a vasilha para ela e soltou a respiração de uma só vez.

— Foi a pior experiência que eu já tive. — Repudiou o remédio.

Ela suspirou. Cansada de ouvir as reclamações.

— É para o seu bem. Eu me esforcei para fazê-la. — Ela disse séria, dessa vez.

Serena sabia que não era boa, mas tinha empenhado-se bem para vê-lo bem. Ela também sabia que ele não era o maior modelo existente da boa educação, mas poderia pelo menos agradecê-la.

Christopher a observou enquanto ela pegava a vasilha de sua mão. Sua expressão tinha um tom de desapontamento que não havia antes e isso o incomodou fortemente, levando ele a falar:

— Não era minha intenção desprezar a comida.

Ele mesmo assustou-se com o que havia dito e franziu a testa. Já tinha visto seus marujos com essa mesma expressão, várias vezes, quando não conseguiam apossar-se de algum tesouro que procuravam por dias, até meses. E mesmo assim vê-los naquela condição não o incomodou tanto quanto ver aqueles olhos que ele tanto admirava com tons mais escuros de decepção.

A Sereia E O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora