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1670, Ilha Tortuga
Mar do Caribe

O dia estava quente e no céu não havia um rastro de nuvem. As ruelas estavam cheias e barulhentas com os trabalhadores que faziam seu serviço normalmente, além de mendigos moribundos e homens vencidos pela ressaca. Animais que serviriam de alimento ou meio de transporte perambulavam para lá e para cá, e no porto havia uma grande movimentação de embarcações que aportavam no cais. Mais um dia comum na ilha caribenha.

Serena e Lorelai andavam tranquilamente até o comércio com seus braços direitos enroscados uns nos outros. Lorelai tagarelava empolgada sobre o romance que vinha tendo com um pirata muito famoso e, sobre tudo, bem poderoso.

— Ele tem vários piratas que trabalham para ele, não me surpreenderia se ele tivesse tanto ouro e prata quanto um nobre inglês. — Deu uma risadinha. — Quando o conheci fiquei com medo, achei que ele fosse fazer algum mal, entretanto, ele foi meu salvador. Mais gentil do que acreditei que seria... — Suspirou Lorelai enquanto levava uma cesta na outra mão.

Tinha cabelo castanho sem sinal de ondulações, sua pele era rosada e suas maçãs do rosto eram naturalmente coradas. Também tinha o corpo esguio, com quadris largos.
Seus olhos azuis escuros levavam um olhar apaixonado e voltou-se para a irmã mais nova esperando algum comentário da parte desta.

— Está falando do homem certo, Lorelai? — Perguntou Serena, desconfiada. — Ele é um pirata. Não é muito característico de homens como ele serem gentis. — Riu.

Pararam em frente a uma bancada de frutas, pegaram algumas maçãs e entregaram ao comerciante.

Serena era um pouco mais baixa e encorpada. Seu cabelo era tão escuro que, na claridade, tinha um aspecto azulado, tinha a pele pálida e algumas sardas alaranjadas no nariz. Suas sobrancelhas eram grossas, tão escuras quanto o cabelo, e davam contraste aos seus olhos acinzentados.

Não havia nada na aparência delas que comprovava o parentesco das duas além dos olhos azuis. Mas, ainda sim, eram irmãs.

— Ora, para um pirata, ele parece ser um verdadeiro cavalheiro. — Lorelai retrucou, rindo.

— E o que achas que vai acontecer quando mamãe descobrir? — Perguntou a outra depois de entregar vinte moedas de prata ao homem grisalho.

— Ela só saberá se contar. — Deu de ombros. 

Serena suspirou.

Lorelai estava tão cega pelos galanteios do pirata que nem se importava que seu envolvimento com o homem fosse estritamente proibido por sua mãe.

— Queres a minha opinião? — Serena perguntou para ela.

— Você irá falar mesmo que eu não queira. — Lorelai riu.

  — És a mais velha, mas age com irresponsabilidade. Sabes o que aconteceria se ele tomar conhecimento do nosso segredo. — Sussurrou somente para as duas ouvirem enquanto voltavam pelo caminho que vieram.

— Ah, Serena, que crédito pensa ter para dizer-me que estou agindo como uma irresponsável? — Arqueou as sobrancelhas finas. — Ademais, o capitão Magnus jamais descobriria e mesmo que viesse a descobrir, sei que me trataria bem da mesma maneira. — Disse, convencida.

— Como pode ter tanta certeza? — Perguntou quando pararam em frente a portela antiga de madeira com a tintura azul descascada.

— Ele me ama. — Lorelai respondeu óbvia, abrindo a porta do estabelecimento.

— É um pirata. — Serena retrucou. — Eles só pensam em tesouros, rum e meretrizes.

Lorelai revirou os olhos, mas resolveram por encerrar o assunto e adentraram no alojamento de cor salmão, situado em frente a uma fonte na área do centro comercial. Alí, moravam elas, a mãe e as outras treze irmãs que ganhavam a vida fazendo daquele casarão uma pousada.

A Sereia E O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora