A noite chegou e junto a ela o vento frio do alto mar. Se não fosse pelas roupas grossas que tinham lhe dado, Serena estaria fadada a morrer congelada.
A jovem ouvia os gritos e gargalhadas dos homens no convés enquanto ajudava Eleonor a fazer uma sopa de carne e legumes na pequena cozinha que tinham.
— Nunca imaginei que um navio pirata tivesse refeições assim. — Serena comentou enquanto cortava as duas únicas pequenas cenouras que encontraram entre os mantimentos.
— Provavelmente apenas este tem essa realidade. A maioria, se não todos os navios, não tem cozinheiros, muito menos mantimentos para sopas. Temos que agradecer a Christopher por gastar boa parte do que recebe em comida como estas. — Eleonor sorriu, mexendo o ensopado na grande panela em cima da lenha.
— Ele parece preocupar-se bastante. — Comentou ela, curiosa para saber mais sobre o comportamento incomum do capitão.
— De fato. Deve ter sido os ensinamentos do pai e também por conta da vida injusta que teve durante a infância. — Suspirou.
— Como? — Ela olhou para a loira que assentiu.
— Veio de família pobre, como todos nós. Mas, a mãe era doente e morreu quando ainda era menino. Antes de tornar-se pirata, seu pai era comerciante e o que recebia mal sustentava os dois. — Contou com certo pesar.
— Entendo... — Serena murmurou pensando o quanto deveria ter sido difícil para ele.
Elas terminaram a sopa e pediram para que Lewis pegasse a panela e levasse para o convés.
Todos os marujos faziam a faxina noturna normalmente, mesmo depois de um dia longo. Mas, assim que viram o homem subir com a panela e o cheiro de ensopado invadiu suas narinas, pararam imediatamente o que faziam.
Um deles, que tinha costeletas ruivas trouxe um barril para servir de mesa e ajudou Lewis a colocar a panela ali. Enquanto isso, outro com um bigode enorme voltado para cima, distribuía cumbucas de alumínio para todos. Uma fila foi formada, do mais novo ao mais velho e eles começaram a cantar uma cantiga de pirata.
Serena, que observava tudo, ficou impressionada com a organização e companheirismo que tinham. Eram até melhores que ela e suas irmãs que, as vezes, brigavam para que uma fizesse a parte que lhe foi resignada.
— Não somos sempre bárbaros e perversos, como pode ver. — Christopher sorriu de lado.
Ela retribuiu, vergonhosa.
Quem poderia testemunhar que as outras agiam da mesma forma? — Ela pensou.
Eleonor colocou o ensopado em duas cumbucas e entregou aos dois que encostaram-se na lateral para comer. Serena viu o caldo laranja a sua frente com pedaços de carne, legumes e verduras que boiavam e lembrou de Lorelai novamente. Ela sempre fazia sopa quando alguma delas estava doente.
Depois que todos tomaram até a última concha de ensopado da panela, os marujos sentaram-se em uma roda desorganizada e alguns deles pegaram banjos e baldes de madeira para fazer de tambores.
Começaram a cantar, além de gargalharem e divertirem-se como se fossem mais que apenas companheiros de navio. Mas, como amigos, irmãos.
Eleonor e Lewis dançavam alegremente e Serena apreciou o belíssimo casal que formavam com um pequeno sorriso.
Ela e Christopher observavam a folia de longe, quietos, apenas com os risos, as vozes e o som do mar ao fundo.— Como conseguiu essa tripulação? — Serena rompeu o silêncio, curiosa e virou-se para o pirata ao lado.
— Alguns trabalharam com o meu pai, outros achei em navios que apossei e outros recrutei nos contraportos de Port Royal e Tortuga. — Ele deu de ombros.
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A Sereia E O Pirata
RomanceComo você se sentiria se a única garantia de sua sobrevivência fosse sair do lugar em que vive? Serena era uma garota um tanto peculiar. No lugar de suas pernas, havia apenas uma calda longa e escamosa. Para alguns, um ser como ela era impossível d...