IV

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A noite chegou e junto a ela o vento frio do alto mar. Se não fosse pelas roupas grossas que tinham lhe dado, Serena estaria fadada a morrer congelada.

A jovem ouvia os gritos e gargalhadas dos homens no convés enquanto ajudava Eleonor a fazer uma sopa de carne e legumes na pequena cozinha que tinham.

— Nunca imaginei que um navio pirata tivesse refeições assim. — Serena comentou enquanto cortava as duas únicas pequenas cenouras que encontraram entre os mantimentos.

— Provavelmente apenas este tem essa realidade. A maioria, se não todos os navios, não tem cozinheiros, muito menos mantimentos para sopas. Temos que agradecer a Christopher por gastar boa parte do que recebe em comida como estas. — Eleonor sorriu, mexendo o ensopado na grande panela em cima da lenha.

— Ele parece preocupar-se bastante. — Comentou ela, curiosa para saber mais sobre o comportamento incomum do capitão.

— De fato. Deve ter sido os ensinamentos do pai e também por conta da vida injusta que teve durante a infância. — Suspirou.

— Como? — Ela olhou para a loira que assentiu.

— Veio de família pobre, como todos nós. Mas, a mãe era doente e morreu quando ainda era menino. Antes de tornar-se pirata, seu pai era comerciante e o que recebia mal sustentava os dois. — Contou com certo pesar.

— Entendo... — Serena murmurou pensando o quanto deveria ter sido difícil para ele.

Elas terminaram a sopa e pediram para que Lewis pegasse a panela e levasse para o convés.

Todos os marujos faziam a faxina noturna normalmente, mesmo depois de um dia longo. Mas, assim que viram o homem subir com a panela e o cheiro de ensopado invadiu suas narinas, pararam imediatamente o que faziam.

Um deles, que tinha costeletas ruivas trouxe um barril para servir de mesa e ajudou Lewis a colocar a panela ali. Enquanto isso, outro com um bigode enorme voltado para cima, distribuía cumbucas de alumínio para todos. Uma fila foi formada, do mais novo ao mais velho e eles começaram a cantar uma cantiga de pirata.

Serena, que observava tudo, ficou impressionada com a organização e companheirismo que tinham. Eram até melhores que ela e suas irmãs que, as vezes, brigavam para que uma fizesse a parte que lhe foi resignada.

— Não somos sempre bárbaros e perversos, como pode ver. — Christopher sorriu de lado.

Ela retribuiu, vergonhosa.

Quem poderia testemunhar que as outras agiam da mesma forma?  — Ela pensou.

Eleonor colocou o ensopado em duas cumbucas e entregou aos dois que encostaram-se na lateral para comer. Serena viu o caldo laranja a sua frente com pedaços de carne, legumes e verduras que boiavam e lembrou de Lorelai novamente. Ela sempre fazia sopa quando alguma delas estava doente.

Depois que todos tomaram até a última concha de ensopado da panela, os marujos sentaram-se em uma roda desorganizada e alguns deles pegaram banjos e baldes de madeira para fazer de tambores.

Começaram a cantar, além de gargalharem e divertirem-se como se fossem mais que apenas companheiros de navio. Mas, como amigos, irmãos.

Eleonor e Lewis dançavam alegremente e Serena apreciou o belíssimo casal que formavam com um pequeno sorriso.
Ela e Christopher observavam a folia de longe, quietos, apenas com os risos, as vozes e o som do mar ao fundo.

— Como conseguiu essa tripulação? — Serena rompeu o silêncio, curiosa e virou-se para o pirata ao lado.

— Alguns trabalharam com o meu pai, outros achei em navios que apossei e outros recrutei nos contraportos de Port Royal e Tortuga. — Ele deu de ombros.

A Sereia E O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora