XIV

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Christopher estava observando o mapa, na mesa improvisada, atrás do timão. Com um compasso ele calculava distâncias e murmurava coisas para si mesmo. Ele estava preocupado e estudava as possibilidades de encontrar uma tempestade forte pela frente. 

Alguns dias atrás haviam, finalmente, entrado no cabo das tormentas. A região mais perigosa conhecida pelos piratas e amaldiçoada por muitos deles. Sua preocupação não era atoa. A quantidade de história de naufrágios que já ouviu nesta região fazia o mais corajoso dos homens tremerem de medo. 

Então, qualquer cuidado era pouco e ele já preparava o seu pessoal para estes casos. Se não fosse pela justiça que faria após passar por aquela região, nunca estaria por ali. Se não fosse pela sede de vingar a morte de seu pai, nem imaginaria colocar ele e seus marujos em uma situação perigosa como aquela. Mas, seu senso de justiça falava muito mais alto do que a comodidade de permanecer em águas tranquilas e assim, ele não poderia deixar que Magnus vivesse nem que isso causasse sua própria morte. 

Sim, era, de certa forma, uma missão suicida e ele sabia disso. Mas, além de temer a sua própria vida, ele temia pelas vodas que magnus tirou e as que ele ainda há de tirar. Por isso, estava naquela jornada. Por isso, estava se sacrificando. 

Olhou para o horizonte vendo o céu azul, e água da mesma cor, balançar o barco de forma mais delicada que o esperado. Particularmente, aquele dia estava diferente. Só havia vento o suficiente para que movesse o navio e mesmo assim estava lento. Além, é claro, do calor escaldante. Porém, era isso que o preocupava. Onde havia muito calor e céu azul, também havia nuvens negras e navios afundando. Por isso, mesmo com nenhum sinal de tempestade a caminho, ele permanecia atento. Apesar disso, ele sentia que apenas ele estava nesta posição. 

Olhou para alguns marujos que cantavam e dançavam em uma roda, em uma espécie de comemoração por estarem quase chegando ao destino. Não pareciam alertas como Christopher dissera que deveriam ficar. Isso o irritou de certa forma e bufou, frustrado, não sabendo se ele estava exagerando ou se seus homens eram um tanto descuidados, apesar da experiência náutica que tinham. 

— Ei, relaxe um pouco. — Lewis apareceu na ponta da escada, como se tivesse lido os pensamentos irritados de Christopher do convés. 

Ele aproximou-se com uma garrafa de rum pela metade e uma caneca de alumínio deliberadamente amassada. 

— Eles não deveriam estar bebendo tanto. — Murmurou, olhou para a garrafa na mão do amigo e voltou sua atenção para o mapa todo riscado. — Nem você. — Disse em tom severo de julgamento.

Lewis riu. 

— Eu sei que está preocupado, mas o tempo está lindo. Olhe para o céu, não há uma nuvem se quer. Completamente azul. — Ele apontou para a grande extensão acima deles. 

— Pode mudar a qualquer instante. — Christopher retrucou fazendo anotações em seu diário de bordo. 

— Vamos lá, beba um pouco. — Lewis encheu a caneca e estendeu para ele que apenas ignorou. — Está a manhã toda riscando o mapa. Por que tantos cálculos e anotações? 

— Estou vendo o que posso fazer caso nós fiquemos de frente com uma tempestade, para que não precisemos sofrer com homens ao mar e cargas tendo que ser despejadas as pressas. Quero diminuir ao máximo os prejuízos e os riscos. — Ele disse, pensativo. 

— Descanse um pouco pelo menos. — Lewis suspirou, impaciente. 

O homem o ignorou novamente. 

— O que posso fazer para distraí-lo?! — Lewis pensou alto, passando a mão em seus dreads.

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