IX

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Serena acordou mais cedo, havia sonhado com sua mãe e irmãs tendo um jantar agradável e todas pareciam sorridentes. Não tinha dúvidas que isso eram consequências da saudades que tinha de casa e isso a fez perder o sono.

Saiu para o convés e foi até o final da proa. O mar estava calmo, a brisa gelada causava alvoroço em seu cabelo e o céu, com misturas de laranja e azul marinho, mostrava que o sol estava prestes a nascer.

A garota respirou fundo duas vezes, devagar, pada tentar tirar o sentimento ruim que assolava seu coração naquela manhã. Tentou fechar os olhos, mas viu suas irmãs, sentadas no sofá, segurando as mãos uma das outras, lágrimas escorriam de seus rostos e elas ouviam Erin falar:

Acalme-se, meninas. Serena está bem, ela vai trazer Lorelai de volta. As duas irão voltar. — Tentou reconforta-las.

— Como sabe, Erin? — A mais nova de todas perguntou.

Erin suspirou.

— Espero por isso.

Ela apertou seus olhos para fugir daquele tipo de pensamento, mas as imagens mudaram. Agora ela via Lorelai com pernas e braços presos em algemas de ferro. Recostada na parede de uma embarcação, parecia não ter esperança. Seus olhos eram tristes e assustados, tinha olheiras profundas, mas sua pele parecia normal e o cordão ainda estava com ela.

Serena abriu os olhos, de repente, com a respiração desregulada. Seu coração acelerava e ela foi tomada por uma sensação de urgência. Toda a sua roupa parecia mais apertada e o ar era insuficiente, sua boca não produzia nenhuma saliva e suor já acumulava em sua testa.

O que ela viu era muito mais que fruto de sua imaginação, era uma visão. O que a preocupou mais ainda. As visões nunca são completamente claras ou corretas, mas se Netuno concebeu aquela visão a ela, era por algum motivo que ela não sabia.

Isso a deixou irritada e o desespero que sentia foi transformado em uma mistura de decepção e raiva.

Ela fixou seus olhos no mar, com dureza.

— Por que o senhor, simplesmente, não resolve isso com suas próprias mãos?! Não adianta mostrar-me coisas nas quais eu não tenho o menor controle! — Esbravejou para o além.

Esperou que alguém a respondesse ou que alguma coisa indicasse que ele tinha a ouvido. Mas nada havia mudado, além do sol que deixava o horizonte cada vez mais claro.

Uma vontade de chorar subiu por sua garganta e ela deixou suas lágrimas caírem. Lágrimas de dor, raiva e medo.

Ela recostou-se na borda da proa, cruzou os braços e repousou seu queixo em cima deles. Olhava para o mar na esperança de que alguma coisa viesse repreende-la por sua ousadia, ou, talvez, acudi-la e reconforta-la.

Nada. Tudo continuou ao normal. Ela suspirou, desistente.

Olhou para baixo e esticou as suas mãos, imaginando como seria poder tocar a água e sentir sua calda aparecer. Uma última lágrima que caía por sua bochecha desprendeu-se de sua pele e caiu no mar.

A princípio, nada aconteceu. Mas quando Serena percebeu algo mexer-se dentro d'água e uma figura enrugada de tom amarelado e oito tentáculos começaram a subir pelo casco do navio.

Serena olhou para trás com medo de alguém vê-la naquela situação e voltou-se para o polvo novamente que já estava em sua frente, parado, observando-a com seus olhos pretos cerrados em dois riscos grossos.

— Netuno te mandou? — A garota perguntou como se fosse um costume falar com animais.

O polvo não fez nada além de esticar um de seus tentáculos, que segurava uma concha espiralada em um tom claro alaranjado.

A Sereia E O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora