Prólogo:

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    Quando me canso do conforto do meu quarto, caminho pela areia quente em contraste com a intensa água fria. A praia era o nosso lugar favorito. Lembro-me das nossas brincadeiras e de como sempre ficávamos a ver o pôr-do-sol até ao fim. Penso em fazê-lo, mas lembro-me que ela já não está aqui comigo, e mesmo assim sento-me perto suficiente do mar para que a água chegue aos meus pés. Observo um casal de idosos a passear de mãos dadas pela praia. Eles olham um para o outro com cumplicidade, com um olhar que transmite o real sentimento, o amor. Por mais que me esforce, a minha mente não me deixa imaginar algo assim, se ninguém se importa em ser meu amigo, como é que me amaria e aturaria por anos? Os poucos que tentaram alcançar-me, acabaram por desistir depois das minhas respostas curtas e rudes, ou talvez tenha sido o meu silêncio, que considero a minha paz.

A brisa do mar atinge-me, fecho os olhos e lembro-me de tudo o que já vivi, foi muito, dezassete anos de dores que nunca vão embora. Sempre soube que era diferente das outras crianças, elas iam aos passeios da escola e eu preferia ficar em casa a ouvir música ou a escrever sobre como a minha vida é ruim. Elas eram mimadas e nunca estavam contentes com nada do que tinham, mas eu sempre soube que elas sempre tiveram mais do que algum dia poderei ter. Nunca ninguém gostou de mim, todos me viam como alguém desinteressante e estranho.

Eu devia ter imaginado que ela viria, tal como um dia outra pessoa me prometera, eu deveria tê-la protegido, mas eu não fui capaz, no final, eu tive de partir o seu coração da mesma forma que sempre partiram o meu, e isso doeu como inferno. Ela era meu paraíso particular e eu o seu inferno, infelizmente, nem mesmo ela me pode fazer ficar, mas agradeço-lhe por ter tentado.

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