Cartas ao Paraíso

A quarta carta

Querida Hazel,

Neste exato momento estou sentada numa poltrona perto da janela,sentindo o ar fresco bater em minhas pernas e pensando em como meus pensamentos são confusos. Como estrelas que não consigo alinhar em constelações.

Há um garoto. Vamos chamá-lo de garoto mais novo. Ele toca guitarra,ama Metallica e tem um cabelo legal.Nós nos conhecemos numa reunião de formatura, eu pedi seu número, e então conversamos online por alguns meses, até finalmente ele me chamar pra um passeio ao cinema. Apaixonada por outro, no caso, um amigo incrível que cantava pra mim,eu dispensei o garoto da reunião de formatura.

Algum tempo depois, arrependida, o chamei para tomar um sorvete.

Então, depois de meses apenas em conversas online, nos encontramos. E foi incrível. Na verdade estou romanceando. Foi divertido, doce, e bobo. Como todo primeiro encontro numa praça ao entardecer.

Estávamos ambos um pouco nervosos, mas eu fui a garota engraçada e confiante que precisava ser, e então no fim do encontro ele disse que havia esquecido algo, me puxou para perto e me beijou.

No começo, eu ri, surpresa, e então correspondi ao beijo.

Depois, ele me deu um selinho de despedida, e então, para todas as outras pessoas, eu era apenas uma garota pequena de jaqueta de couro e decote em V, caminhando apressada e sorridente até o ponto de ônibus. E para mim, eu era uma garota que apenas por um instante se esqueceu dos problemas, e de estar apaixonada por outro.

Eu sei...aquilo não era justo. Usá -lo como uma válvula de escape, ou simplesmente alguém para esquecer outro.

Essa é a parte em que você me julga.

Sei que foi errado.

Mas saiba que não sou um monstro sem coração.

Ele apenas pertencia à outro.

Mas eu gostava dele, Hazel. Ele era doce, talvez até um pouco ingênuo, e engraçado à sua maneira.

Eu estava disposta a tentar.

Estava com medo, e queria ir devagar.

Mas talvez desse certo.

Então cheguei em casa, e ele me mandou uma mensagem me perguntando se gostei. Do dia...do beijo.

Foi um dia engraçado, Hazel. Meu primeiro encontro. Minha primeira ficada  com alguém conhecido, sabe. Meu primeiro beijo "fora balada". Foi um dia doce.

Continuamos conversando por uns dias, como sempre. Até queríamos marcar de nos vermos novamente.

Então ele se afastou do nada. Como uma montanha russa que sobe e desce, eu desci. E me afastei. Ou ele se afastou. Ou ambos.

Confesso que no começo não corri atrás. Talvez esta seja minha parcela de erro. Não me esforcei para continuarmos com aquilo. E nem ele.

Mas eu sentia que algo estava errado,sabe. Eu sou boa em ler as pessoas.

Imaginei que ele tivesse se cansado de mim. Ou que eu fosse apenas a garota para uma ficada só.

Mas acabei por estar errada.

Ontem pedi a ele que fosse sincero comigo, e ele foi. Disse-me que estava enrolado com outra garota. Que a conheceu numa festa, e não planejava nada disso. Eles se beijaram e ele acabou gostando dela.

Confesso que fiquei um pouco sem reação.

Precisei ouvir Demons no último volume três vezes, e contar até dez de olhos fechados por alguns minutos.

Mas acho que fiquei bem.

Meu coração não ficou partido nem nada, porque eu não estava realmente apaixonada por ele. Mas acho que fiquei com o orgulho ferido.

Mas foi mais fácil lhe dar com isso do que com o "drama do garoto magrelo".

Então hoje nós conversamos. Ele me mandou várias mensagens, e seila, eu me senti como naqueles términos de relacionamentos. A diferença é que não tínhamos realmente um. Não tivemos tempo de tê-lo.

Confesso que estou irritada e quero saber quem é a tal garota por quem basicamente fui trocada.

Ele me disse que tivemos algo, e foi bom, mas infelizmente acabou.

Não pude deixar de me questionar sobre a estranha finitude das coisas.

Sabe, Hazel, um escritor genial e uma merda de pessoa chamada Peter van alguma coisa, te disse que alguns infinitos são maiores que outros.

Talvez eu deva estar grata por tudo isso. Meu primeiro encontro. Meu primeiro beijo com alguém que gostava. Meu primeiro "término". Minha primeira chance de tentar algo com alguém.

É uma pena que não tenha dado certo.

Uma pena que fui uma idiota.

Uma pena que ele foi um idiota maior.

Mas nossas escolhas tem conseqüências, e devemos aceitá-las. Eu as aceito, Hazel.

Espero que ele aceite as dele.

Talvez a minha "pessoa certa" ainda esteja por aí, perdida e sozinha como eu.

Espero encontrá-la.

E conseguir mantê-la por tempo o suficiente para mostrar a ele que posso ser boa.

Que sou boa.

Com amor,

"garota perdida"