Querido Verão,
Há alguns meses tenho usado constantemente a metáfora de dias ensolarados para exemplificar momentos felizes. Entretanto, acredito que cometi um erro, mas talvez já seja bastante tarde para consertá- lo.
Nao é o Sol.
Quero dizer, não é como se eu estivesse triste, numa sombra, e de repente, ao nascer dos raios quentes, um sorriso se plantasse em meu rosto. Não.
Na verdade, eu não curto dias ensolarados. O calor me deixa cansada, e há algo, algo naquelas tempestades barulhentas, que simplesmente me agrada.
Entao, você, bela estação do ano, deve estar se perguntando porque a metáfora dos dias ensolarados. Vou explicar.
Bem, creio que tem a ver com a coisa das cores. Taylor swift associou, em sua música, que eu particularmente acho bastante triste, a mudança de sentimentos com diferentes cores.
A subita paixão, obviamente, seria vermelho ardente. O azul, por sua vez, simbolizava a perda, como ela nunca havia conhecido, e o cinza escuro, a saudade.
Então, depois de ouvir Red milhões de vezes, fiz minha própria associação de cores, que basicamente, foi errônea.
O sol é amarelo, e amarelo deixa as pessoas felizes, por isso vamos dizer que dias ensolarados são meus favoritos, certo? Nao.
Eu odeio dias ensolarados.
Como hoje.
Não que tenha sido um dia particularmente triste. Até que foi legal, em partes. Pequenos momentos bacanas e engraçados.
Mas algo ainda me deixa um pouco triste, como se alguma coisa simplesmente estivesse fora do lugar.
Odeio quando a soma das partes simplesmente difere do esperado resultado final.
Porque os dias estão passando, e a chuva não vem.
Entao eu sinto falta daquilo, daquela coisa que e eu nem mesmo sabia que existia.
E os dentes de leao estão voando, descontrolados, para qualquer lugar. Levando sonhos infinitos para perto ou para longe.
Eu gostaria de ser como eles, livre.
Acho que estou sufocando, e talvez seja culpa do cinza, que veio sem a tempestade no início do anoitecer. Ou dos dias ensolarados, que oscilam, como um elevador danificado.
Eu estou triste, e não sei bem o porquê. Há tantas coisas, tantas pequenas partes que não se somam, que já não sei mais qual a origem do problema.
Eu mesma, as pessoas, a vida.
Sinto como se todos nós estivessemos fingindo, e isso me incomoda. Talvez este seja um dos problemas.
Sempre odiei as pessoas que viviam de fachadas, como aquelas famílias que querem mostrar para o mundo o quanto são felizes, e por dentro, simplesmente mal se conhecem.
Neste momento, sinto que todos somos isso. Nós, eles, eu, todos. A família de fachada. E me recuso a ser parte disso, mas talvez eu já o seja.
Não sou sempre simpática com todos? Ate mesmo aqueles dos quais as atitudes me incomodam.
Isso não é como o "gostar de fachada"?
Se isso não basta, tenho outro exemplo. Guardar para si muitas coisas que sente.
Estou fazendo isso de novo. Sorrindo, ou desviando o olhar pras coisas que me machucam. Me distraindo facilmente.
E sinto, nestes momentos, como se eu estivesse omitindo algo. Isso me incomoda.
Mas todos agem assim, pelo visto, então porque não?
Tudo esta confuso, e gostaria que o inverno chegasse, e a chuva levasse embora as coisas com as quais não estou conseguindo lhe dar.
Com amor,
"garota perdida"
(algum dia depois da meia noite)
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Cartas ao Paraíso
FanfictionFan Fic baseada nas obras "Cartas de amor aos mortos" e "As vantagens de ser invisível", tem como foco principal a vida - não só, mas principalmente - amorosa de uma garota comum de 17 anos, que se vê na busca eterna - e talvez sem resultados - pelo...