Querida Cath,
São quase 3 da manhã, e meus olhos parecem cobertos por areia. A noite está agradavelmente fria, e embora eu esteja enrolada em dois cobertores, e o ar pareca congelante neste momento, gosto disso.
Não vim aqui falar sobre o tempo, longe disso. Apenas achei interessante descrevê-lo, pois, algum tempo atrás, descobri sobre a possibilidade de isso ter influência em nossos sentimentos. Talvez todos fiquemos tristes em dias de garoa fria e nebulosa, e felizes em dias levemente ensolarados. Ou vice-versa.
Neste momento, entretanto, não sei definir como estou; e a simples verdade é que faz um tempo que isso vem acontecendo. Desde que, inexplicavelmente, tudo mudou. Eu mudei.
Aliás, este não é mais um texto idiota sobre uma garota que devido as dificuldades do labirinto, se tornou amargurada. Sei que todos temos problemas, e realmente acredito que nada seja tão ruim quanto parece.
Sou uma pessoa otimista, embora saiba que muitos vão discordar.
Não sou do tipo que acorda à espera de dias maravilhosos e extraordinários, mas ainda tenho minha esperança em algumas coisas boas.
Bem, vamos direto ao assunto. Você deve estar se perguntando porque esta carta foi endereçada a você, e talvez minha resposta lhe pareca idiota, mas a verdade, bem, é que tenho um pouco de inveja.
Muitos não entendem porque eu simplesmente gosto tanto de sua história, ou porque reli aquele livro tantas vezes. Talvez as pessoas achem que me deixei levar pela moda dos clássicos, mas bem, eles estão errados.
Admito que morro dos ventos uivantes talvez não seja a historia mais feliz que li.
Na verdade, é bastante trágica, triste, e dolorosa.
Mas Cathy, aquilo tudo é tão real. As personagens possuem um lado humano extremamente egoísta e intenso que geralmente não é retratado nos livros. Ou reconhecido.
É uma bela história, talvez uma de minhas favoritas, porque, de alguma forma estranhamente contraditória, quer mostrar que o amor intenso, belo e doloroso existe, mas nem sempre vêm acompanhado de um final feliz.
Porque algo acontece. A vida, talvez. As pessoas. Nós mesmos.
Heatclif, no fim, havia se tornado um idiota com a mente tão fodida que simplesmente era uma pessoa horrível. Mas ele a amava. Com todas as suas forças.
E isso, pra mim, já bastou. As personagens serem quase que pessoas reais, e não fantasias perfeitas do ser humano.
E a verdade, minha cara, é que tenho inveja disso. Muita, talvez.
Sei que não sou uma garota lá muito atraente. Não estou dizendo que sou feia, tenho consciência de ser comum, e isso já não me incomoda.
Não sou uma garota tão doce ou meiga, como se espera da maioria. Nem extremamente tímida ou absurdamente ousada. Acho que me encaixo nos meio-termos.
A questão, e voce deve estar se perguntando, é que não sou exatamente o tipo extremamente desejável sabe? Bonitinha, talvez até bonita. Mas não possuo o tipo de beleza estondeante, e me orgulho de ter consciência disso. Às vezes sinto pena daquelas garotas iludidas. A maioria é.
Sou uma pessoa realista, e estou bem com isso.
E a consequência é que, bem, minha vida amorosa é meio que uma droga. Não estou sendo pessimista. Como já disse anteriormente, me orgulho de ter plena consciência da realidade.
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Cartas ao Paraíso
FanfictionFan Fic baseada nas obras "Cartas de amor aos mortos" e "As vantagens de ser invisível", tem como foco principal a vida - não só, mas principalmente - amorosa de uma garota comum de 17 anos, que se vê na busca eterna - e talvez sem resultados - pelo...