A 23° carta

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Querido elvis,

Neste exato momento, estamos há apenas alguns passos do desconhecido, e embora mudanças me agradem, confesso que estou assustada. Como se estivesse em frente há um abismo, pronta para dar o salto; me perguntando qual de nós será o primeiro a pular, e torcendo para que a queda não machuque.

Há tantas coisas pra dizer, e creio que uma carta não seria suficiente, mas tentarei ater-me aos limites.

Pois bem...hoje você nos reuniu, numa roda, com o propósito de discutirmos nossos sentimentos e opiniões sobre coisas profundas. Ou simplesmente coisas.

A vida foi o primeiro tópico. Confesso que eu não sabia exatamente o que dizer. Afinal, todos falariam sobre fim do ano, faculdade e amizades que serão conservadas, e acho que eu não fugiria disso...mas como falar sobre algo tão profundo em apenas alguns minutos? Ou algumas palavras. Ou algumas cartas...

Andei pensando sobre isso nós últimos minutos. Ou nos últimos meses. E ainda não cheguei à uma conclusão.

Fiquei bastante surpresa com as coisas dita na roda, afinal, é bom, e também meio triste, saber que às vezes, outras pessoas também se sentem perdidas como você.

Bem, estou meio perdida agora.

A vida sempre foi, para mim, algo que eu simplesmente seguia, como um longo e conhecido caminho para casa. Algo que um dia, acabaria.

Também sempre fui bastante dramática.

Esse ano, por exemplo, tive diversos momentos ruins, como aqueles breves e doloridos instantes em que você quer simplesmente "não existir".

Nunca pensei muito sobre o que há do outro lado. Ou se há uma continuação depois deste enorme caminho.

Mas a perspectiva de acabar. Da escuridão. Do "não saber", me da muito medo; por isso nunca realmente considerei suicídio como uma opção.

Entretanto, houveram muitos momentos escuros, como dias cinzentos. Agora sei que eles fazem parte do conjunto, afinal, sem dor, como reconheceriamos o prazer?

Antes eu achava que felicidade era algo extremo, como viver de champanhe borbulhante, e momentos infinitos em sábados ensolarados.

Entretanto, agora sei que, ás vezes, as coisas acontecem, e nem sempre a primavera está ali.

Houveram momentos bons. Momentos ótimos. Coisas pequenas e sem sentido para os outros. Coisas que permanecerão comigo onde eu for.

Houve uma época de sombra, outrora. Mas ela passou.

E sabe? Eu não me arrependo. Vou sentir falta disso. Dessa rotina cinza e brilhante.

Me deixa triste pensar que tudo vai acabar. Que talvez, amanhã, eu esteja perdida, e não haja nenhum refúgio seguro no dia seguinte.

As coisas serão diferentes agora, e sabe, isso é assustador.

Aí entramos no segundo tópico. Meus medos.

Não sei como resumi-los em apenas um tópico, afinal, são tantos. Não sou como o Quatro e a Tris.

Tenho medo de escuro. E de filmes de terror. Tenho medo de me afogar. E de doenças terríveis, e mortes violentas. Tenho medo de cobras e aranhas. Tenho medo de não ser lembrada. Tenho medo de ficar sozinha. Tenho medo de altura. Tenho medo de não ser feliz. De ser pobre. Não conseguir realizar meus sonhos. Tenho medo de não ser notada, e também tenho de sê-lo.

Tenho medo de nunca ser boa o bastante. Para um emprego legal, para uma boa faculdade, para o mundo, para as pessoas. E para mim mesma.

Tenho medo de nunca ter um amor estrela-cruzada.

E muitos outros.

Tudo bem, para alguns eu nem ligo.

Mas a verdade é que todos temos medo de algo, e eles fazem parte de quem somos.

Mas como Quatro, eu acredito na coragem. Acho que todos temos uma força interior, aquela que nos faz levantar da cama todos os dias e seguir em frente, mesmo tudo sendo um saco.

Acredito na coragem que faz alguém se levantar pelo outro.

E é por isso que acho que, no fim, tudo vai ficar bem. Todos somos fortes, sabe?

Seja para pegar dois trens toda manhã, passar por difuculdades, ter nossos corações partidos ou obstáculos à nossa frente.

Acho que todos vamos ficar bem.

E se não ficarmos, ainda haverá os veroes.

Estações inesquecíveis, em que os problemas simplesmente são deixados de lado. Como a melhor parte do ano. Ou o doce mais gostoso do natal. Como as férias mais esperadas.

Sempre há uma subida na montanha russa, e se antes eu achava que isso ( um raro momento de felicidade extrema de vez em quando) é o suficiente para nos mantermos borbulhantes, agora percebo que me enganei. Não é o ideal.

A felicidade, quando experimentada, exige continuidade. Afinal, nós não queremos muito. Queremos mais.

Eu quero mais. E agora que sei disso, percebo que apenas veroes, ou apenas primaveras, ou apenas raros dias felizes são o suficiente.

Mas nós merecemos mais. Não apenas uma estação, mas todas. E merecemos saber disso.

Com amor,
"garota perdida".

Cartas ao ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora