A quinta carta

33 2 0
                                    

Querido Gus,

Sei que na verdade você é apenas um personagem de um livro bobo qualquer sobre um belo amor adolescente entre duas vítimas do câncer.

Sei que nada disso é real. E que talvez você seja apenas resultado da mente brilhante de um escritor, criado com o objetivo de iludir milhões de garotas ao redor do mundo sobre como, mesmo a vida não sendo uma fábrica de desejos, ainda haverá um dia em que você irá encontrar alguém para construir um pequeno infinito.

Isso não é justo, Gus.

Alguém deveria dizer para mim, e para todas as outras garotas ao redor deste planeta, que nada disso existe.

Não existe aquela coisa de amor à primeira vista, viagens borbulhantes  à Amsterdã, declarações de amor num balanço velho, pique niques amarelos num museu idiota, beijos na casa de Anne frank, belos amores imperfeitos, finais felizes.

Alguém deveria nos dizer que essa coisa de "sempre" não existe. Que talvez o "ok" não seja nada mais do que uma palavra idiota sem significado relevante.

Alguém deveria nos dizer, Gus.

Que o fato de alguém gostar das mesmas porcarias que você não significa que estão destinados à ficar juntos.

Que, às vezes, tudo não passa de coincidência, e aqueles cartões idiotas de dia dos namorados são uma farsa.

Alguém deveria nos dizer que isso não é uma montanha russa muito boa.

Que isso na verdade é uma droga de um labirinto complicado.

Alguém deveria nos dizer que essa bobeira cinematográfica hollywoodiana é uma farsa.

Que,na verdade, o fato "ok" pouco vai importar quando a vida real bater à porta.

Porque ás vezes, Gus, o amor é uma merda, e você não tem certeza de nada.

Porque ninguém nos diz. Que decepções são reais.

E cara, nós deveríamos saber.

Mas não sabemos.

Preferimos acreditar nos finais felizes, porque são eles que nos motivam a continuar nesta enorme fábrica de destruição de desejos, à espera de nosso final feliz.

Sabe Gus, eu já tive muitas histórias de amor. Mais do que gostaria de admitir.

E todas foram um desastre.

Em sua maioria, paixonites tolas que mais tarde acabaram por se revelar passageiras.

Já me apaixonei, é claro. Como qualquer garota, já chorei escondido no banheiro da escola, já escrevi cartões anônimos pra alguém, fiquei com garotos errados em festas para me divertir.

Mas nunca cheguei a ter algo a longo prazo com alguém. Relacionamentos,por assim dizer. Nunca. Nem perto disso.

Meu primeiro beijo de língua foi em uma balada de música eletrônica com um garoto irritante.

Ele me pagou uma bebida,e segurou minha mão, mas acabei deixando-o para trás depois de um certa altura.

Já sai com um garoto. Uma tarde divertida numa praça, com sorvetes de maracujá e alguns beijos.

Já escrevi canções de amor que provavelmente ninguém lerá.

Pode se dizer que tive uma quantidade razoável de experiências.

Mas nunca tive meu infinito, Gus.

Nunca estive com alguém desse jeito.

E isso é algo que me deixa um pouco triste.

Acho que todos deveriam encontrar um amor verdadeiro, que deveria durar pelo menos até o fim da vida da pessoa.

Espero encontrar meu amor estrela-cruzada. Assim como você encontrou o seu.

Com amor,

"garota perdida"

Cartas ao ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora