A 30° carta

16 1 0
                                    

Querido garoto magrelo,

Vou começar dizendo que não tenho a intenção de enviar esta carta à você. É só mais uma, entre muitas outras, que no fim, é apenas um texto qualquer.

Eu não tenho a intenção de te mostrar, mas preciso escrever isso, porque tudo está me sufocando, e escrever sempre foi minha forma de extravasar, explodir, respirar novamente, ou seja lá que expressões usem para isso.

Prometi à mim mesma que diria tudo, então acho que tenho que começar. E que tal do começo?

Eu gosto de você. Sim, eu, você, e mais um monte de gente já sabemos, não é novidade. Mas eu tenho que dizer. Eu gosto muito.

E talvez você esteja certo. Talvez esta seja apenas mais uma paixão, entre tantas outras, e logo irá passar.

Como eu me apaixonei ? Eu não sei. Eu estava chateada, você foi legal comigo, nós tínhamos coisas em comum, nos tornamos amigos, e eu me apaixonei.

Porque?

Bem, eu acho você bonito, não me leve a mal, mas normal. Não se trata disso.

Eu me apaixonei porque você era uma pessoal legal, gostava das músicas estranhas que eu te mandava, e bem, eu amava as músicas que você gravava para mim, não por serem ótimas...mas, eu gostava do fato de você fazer algo pra mim.

Gastar seu tempo gravando algo.

Sei que parece bobo, mas eu gostava disso. Gostava de imaginar você na sua casa, tocando. Gostava de imaginar você tocando uma música pra mim um dia, tipo, "ao vivo".

Sim, foi a música, mas não só isso. Você era engraçado, com seu jeito meio irônico, e às vezes um pouco grosso.

Mas isso não importa. Não foi nada disso, separadamente, que fez com que eu me apaixonasse. Foi a droga do conjunto todo.

E sabe, no começo, eu tinha esperanças. Você era tão legal comigo, nós éramos próximos, e eu simplesmente pensei que podia fazer você gostar de mim.

Eu pensei que eu fosse suficiente.

Mas bom, eu não fui. Nada foi.

Antes mesmo de você me dar o fora (o primeiro), eu já sabia. Eu sabia que ia acontecer, mas eu queria ouvir você dizer. Queria forçar a mim mesma a cair na realidade. E aconteceu.

Você me disse que só me via como amiga.

Foi péssimo, eu fiquei péssima. E fiz coisas das quais me arrependi depois, mas isso não vem ao caso.

Depois, vieram outros foras, todos parecidos. Nós discutiamos, eu dizia coisas não muito legais, você me magoava , e alguns dias depois, voltavamos a ser amigos.

É, essa amizade turbulenta e bagunçada durou mais do que eu imaginava.

E então, nessa coisa de esquecer, me afastar, e voltar a me apaixonar por você, as coisas foram mudando.

Eu comecei a ter umas quedas por outra pessoa, nós nos asfastamos, e eu achei que, talvez, tudo pudesse ficar bem. Que eu pudesse ficar bem, pelo menos em relação a você.

E então, naquela viagem, nós deitamos no mesmo beliche, você me abraçou, nós nos aproximamos , e de repente, coisas aconteceram.

Foi bom, sabe? Sério, eu gostei. Foi interessante estar fazendo algo, com seus amigos por perto, sem suspeitar de nada.

Eu gostei.

Mas sabe, aquilo me deixou confusa.

Porque por um lado, o fato de estarmos tão perto, o fato de você estar demonstrando algum interesse por mim( mesmo que dessa forma), o fato de aquilo ser bom...me deixou animada, entende?

E por outro lado, eu fiquei confusa, já que alguns segundos antes, você havia me dito para não "atacar" você.

Afinal, o que você queria?(risos)

Você sabia, sim, eu disse tantas e tantas vezes...você sabia o que eu sentia por você.

Você sabia sobre meus sentimentos.

E mesmo assim, mesmo sabendo que aquilo iria me confundir, você não se importou.

Tudo bem, talvez eu esteja exagerando. Estávamos num cruzeiro. Foi divertido.

Mas sabe qual o problema? Eu não consegui parar de pensar em você depois. Nem um segundo.

Eu me pegava, do nada, sorrindo ao pensar em você, ou naquele dia. Eu fiquei animada.

Eu fiquei pensando naquilo.

Era esse seu objetivo? Saber até onde eu iria?

Eu não entendo, sério, porque nós dois sabemos a resposta. Eu teria ido até onde você quisesse, acho.

Ou talvez você não tivesse pensado,no momento. Tivesse se esquecido sobre meus sentimentos, e como aquilo iria me afetar.

Tudo bem, eu entendo...você estava numa beliche apertada, com uma garota. É normal que role alguma coisa.

Mas sabe, por um tempo, eu achei que o problema fosse eu. Afinal, sempre sou. A droga do problema.

Eu deixei acontecer. Eu me aproximei. Tá, tudo bem.

E eu te agradeço, por ter feito essa viagem memorável.

Mas sabe qual é o problema dessa vez?

Eu gosto de você. Todos sabemos disso, sim.

Mas estar tão perto, saber como é, ficar abraçada com você, tipo, bem...aquilo tudo fez com que meus sentimentos voltassem a ocupar minha mente.

E isso, me desculpe, não é culpa minha.

É sua? Da vida?

De quem é a culpa afinal? Me diga, porque eu quero ter alguém a quem culpar.

Bem, essa é só mais umas das tantas perguntas sem respostas.

E talvez esteja na hora de finalizar esta carta, mesmo com as coisas tão "inacabadas".

Sabe, ainda há milhões de perguntas em minha mente. Porque ela? Porque não eu? O que há de errado comigo, afinal? Porque ficamos daquele jeito? Nós ainda somos amigos? Um dia conseguiremos ser? Eu realmente estou apaixonada? Conseguirei esquecer isso?

Eu odeio admitir que não há respostas, aliás, elas existem, mas eu não sei. Não sei. Porque você não me diz, talvez nem você mesmo saiba afinal.

Eu odeio pensar que não posso ficar com a droga do menino de quem estou a fim, mas bem, o que posso fazer em relação a isso? Eu tentei.

Acho que agora, só preciso esquecer, e essa tem sido a parte mais difícil.

Eu vou dormir, e amanhã, quando acordar, tudo vai ficar bem. Talvez não tão rapidamente... Mas eu farei com que fique. Não escreverei mais sobre você. Você não será o assunto de minhas conversas. Não irei mais me machucar por isso. Não perderei meu sono, e nós não conversaremos mais, não por enquanto.

Eu gostaria, de verdade, se você pudesse gostar de mim dessa forma, da mesma maneira como me sinto, ou talvez bem perto. Mas como eu já disse, preciso esquecer isso.

Eu gosto muito de você, garoto, e fico com muita raiva( de mim mesma, de você, das outras garotas que virão, da vida) por saber que somos apenas "amigos".

Isso me magoa muito, e eu não entendo, juro que não, e sei que talvez eu esteja sendo imatura , mas que se dane... Eu odeio você por isso. E me odeio por não ser o bastante.

Me desculpe, se eu for uma chata com você nos próximos dias, se nada dessa coisa de amizade der certo.

Você é importante pra mim, e eu odeio isso, odeio essa confusão, mas eu preciso ficar bem. Preciso esquecer você agora.

Há várias outras coisas, milhões delas, que eu deveria dizer, mas nem eu mesma consiga explica-las. Então, que melhor forma de terminar uma carta do que a frase de sempre? Porque é isso que se diz quando gostamos de alguém.

Com amor,

"garota perdida"

Cartas ao ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora