Querida Alasca,
Ainda me lembro, mesmo que vagamente, da primeira vez em que li sobre você.
Era uma madrugada comum, numa época em que dormir tarde se tornara algo bastante costumeiro pra mim.
Eu estava com sono, um pouco deprimida e ansiosa, como fico no início de cada livro que me pareça remotamente interessante.
Devo confessar que o li pela fama de John Green devido à seu livro anterior, mas sinceramente, acho que "Quem é você, Alasca", acabou por tornar-se um de meus favoritos. Ou talvez Charlie esteja certo, e o livro que lemos no momento sempre é nosso predileto, sendo o favoritismo, conseqüentemente, um efeito rotativo.
Faz algum tempo que não escrevo algo original, e sei que lhe parece que me prendo muito à metáforas, com o objetivo de melhorar a qualidade de minhas cartas. Entretanto, acho que as metáforas são o que me define agora.
Tal pensamento me leva a um questionamento que venho evitando há algum tempo. O que eu realmente sou?
Minhas crises existenciais, nos últimos meses, têm se tornado mais frequentes, e me pego questionando o quão verdadeira cada parte de mim possa (ou não) ser.
Miles era a garoa fria e calma, sempre a observar a vida de longe, como Charlie também o fora, figurante na própria história; e mergulhando em minhas lembranças mais antigas, percebo que um dia, já fora assim. Ou talvez ainda o seja, no fundo.
Costumava observar as coisas em silêncio, e isso era um pouco reconfortante, devo admitir. Sempre fui uma garota quieta.
Não sei exatamente quando, ou como, as coisas mudaram. Talvez tenha sido de uma hora pra outra, ou algo gradativo. Sinceramente não sei dizer.
Me lembro de apenas pensar que o que eu costumava ser não era suficiente, e algumas mudanças eram necessárias.
Eu não tinha muitos amigos, e isso não me incomodava. Sempre gostei de atenção, apenas não sabia muito bem como lhe dar com ela.E ainda não o sei.
Eu queria fazer parte do todo, não apenas de um grupo específico. Queria ser aceita, sabe? Ser como todos, me encaixar, ou seila como chamam isso.
E eu consegui, aos poucos.
Mas aquilo não era eu.
Ou talvez fosse.
Não sei dizer, Alasca, e peço sinceras desculpas por isso.
Li um artigo na internet que pessoas tímidas devem andar com pessoas que não o sejam, e foi o que fiz naquela época.
Abandonei minhas antigas amigas-- não me julgue, elas já não me queriam mais no grupo, e uma delas deixou isso bastante claro--, e fiz novos amigos.
Entrei para uma "turma", e aquilo foi legal, por um tempo.
Então novamente, talvez eu não tenha sido o suficiente, para os outros, ou para mim mesma, e a "protagonista de filme americano" já não me agradava tanto.
Algumas coisas aconteceram, a vida aconteceu. Coisas tristes, devo dizer, bobas, talvez. Ou apenas coisas.
E eu me tornei mais...fechada.
Não me lembro ao certo de como a mudança ocorreu, mas eu já não era mais a mesma. Não me sentia mais como antes, entende?
Acho que me tornara um furacão, por dentro, disfarçado sob uma imagem exterior que não era completamente real.
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Cartas ao Paraíso
FanfictionFan Fic baseada nas obras "Cartas de amor aos mortos" e "As vantagens de ser invisível", tem como foco principal a vida - não só, mas principalmente - amorosa de uma garota comum de 17 anos, que se vê na busca eterna - e talvez sem resultados - pelo...