A 34° carta

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Querido Charlie,

Ás vezes sinto que estou perdendo minha chama. Eu já não escrevo tanto como antes - pelo menos não os tipos de textos banhados por poesia.
Espero que essa coisa de faculdade não me torne aquelas escritoras chatas, cheias de palavras difíceis e sentimento nenhum.
Então, vou te falar sobre o que estou sentindo. Sem enrolação. Sem palavras que não conheço. Só um pouco de eu mesma.
Vamos lá.
Talvez você queira saber como estou, já que faz tanto desde, bem, desde que fiquei sem tempo, e ao mesmo tempo, com horas invisíveis sobrando.
Bem, Charlie, eu estou bem. Sério. Eu gosto de levantar, usar minhas roupas malucas, comprar um café no caminho - sim, agora eu tomo café -, gosto de parecer uma daquelas pessoas apressadas sem pressa nenhuma. Até gosto da chuva. Dos meus amigos, e dos bolinhos recheados. De ficar algumas horas em frente ao computador, numa sala importante, como se eu estivesse fazendo algo realmente importante.
Ás vezes acho que tudo isso foi a pior merda que fiz. E ás vezes, acho que foi minha melhor escolha.
Eu já disse que amo Latim? É, eu amo.
Mas eu ainda fico tentando desvendar o Grande Talvez, e me perguntando onde ele se encontra.
Ontem terminei aquele livro. Emma descobriu do que tinha tanto medo. E isso me faz pensar... Quais são nossos medos, Charlie? Do que nós tanto fugimos?
Tenho medo de não ser boa. Tenho medo da mediocridade.
Tenho medo de ser fraca.
Tenho medo de me afogar.
E de agulhas, absolutamente.
Tenho medo de nunca sentir coisas de verdade.
Tenho medo de sentir demais.
Tenho medo de perder pessoas importantes.
De ser pobre.
Tenho medo de não me levarem a sério.
E ás vezes acho que tenho medo da felicidade. Ela me assusta, e você sabe o que faço quando estou assustada.
Não quero ser uma daquelas pessoas que fica idealizando a felicidade, passando tanto tempo no mundo da fantasia, e deixando de enxergar o real. Imaginar o futuro é uma espécie de nostalgia, e ela estava certa.
Ás vezes precisamos parar de ter tanto medo, e tomar umas decisões malucas. Vou começar minha lista.
Então, é isso.
Gostaria de saber quais são seus medos, porque assim não me sinto boba ao falar sobre os meus.
Com amor, sempre e sempre,

Garota perdida.

Cartas ao ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora