A melhor amiga

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   Mais tarde trancada em seu quarto preparando-se para descer, Olivia se questiona porque a mãe não quis falar sobre a entrevista. Será que ela já havia desistido de acreditar? Ou não tinha mais esperança de que a filha fosse conseguir? Precisava passar, tinha que conseguir esse emprego. Provar que pode ser mais do que uma filha destinada a cuidar do restaurante familiar dos pais. Ela desce pelas escadas dos fundos e encontra Ana no caminho para a cozinha. Sua amiga estava linda como sempre. Provavelmente indo para a faculdade. Ela estuda a noite e trabalha durante o dia numa loja do shopping, não ganha muito, mas ajuda na mensalidade que é pagar uma parte por ela e a outra parte por tia Beth. Vai se formar em Turismo daqui a dois anos e pretende fazer um intercambio no recesso do próximo semestre, ou seja, daqui a alguns meses.

   Por um longo período elas ficam ali abraçadas, até uma ter coragem de soltar a outra e começar a falar sobre a bendita entrevista.

– Quer mesmo falar sobre isso? – Pergunta ela retirando uma sujeira inexistente do vestido da amiga.

– Honestamente? Não.

– Então vamos entrar e deixar Pedro nos servir um prato grande de batata frita com bacon e queijo.

   Ela sabe como animar a vida das pessoas.

   A cozinha estava cheia e movimentada novamente. Pedro e Marcelo trabalhavam nos pedidos que vinham do salão - serviço era bem simples - os garçons colocam as comandas penduradas na bancada e eles preparam juntos todos os pratos, molhos e saladas. Depois tocam o sino para informar que o pedido está pronto, assim o garçom retorna com o prato para o cliente. Eles possuem uma conexão forte dentro e fora da cozinha. Pedro e Marcelo são casados há alguns anos e para Olivia os dois eram um modelo perfeito de casal depois de seus pais.

   As amigas sentam na mesma mesa grande onde Olivia almoçou mais cedo, esperam Marcelo sai de trás da parede onde ficam os fogões para cumprimenta-las com aquele sorriso enorme e lindo que ele tem.

– Minhas meninas favoritas. O que irão comer hoje? Salada, sopa ou algo mais leve? – Diz ele rindo, eles sabem que as meninas quase não comem coisas saudáveis. 

    – Minha amiga aqui – Diz Ana apontando o indicador para Olivia – Precisa de algo mais pesado sabe? O dia hoje foi bem tenso. Estamos pensando em bata frita, bacon e queijo.

– Vou preparar a melhor batata frita do mundo para vocês e ao mesmo tempo rezar para que não enfartem.

- Olivia, tem certeza de que não quer falar sobre hoje? Me conta pelo menos se você gostou do lugar.

- Eu amei. Tinham várias pessoas trabalhando e o lugar é bem grade. A entrevista em si, foi ótima. - Ela fura uma batata com o garfo - Mas você me conhece. 

- Sim. E por te conhecer tão bem, eu sei que esse emprego já é seu.

- Obrigada por sempre acreditar em mim.

- Sabe que pode contar comigo para tudo. 

   O salão estava quente, a festa de aniversário já havia começado. Todas as mesas de madeira tinham uma vela acessa dentro de um jarro com água e uma toalha xadrez vermelha e branca. Dispensando a mãe da porta de entrada e assumindo seu posto logo após as sete da noite, Olivia ficaria ali até mais tarde, levando quem chegasse a uma mesa e dizendo educadamente o nome do garçom que iria atendê-los. Quando era mais jovem, ela odiava fazer isso, sentia vergonha e não gostava que seus amigos vissem o que ela fazia quando não estava na escola. Depois essa fase passou, e durante toda a época da faculdade, era ali que estava depois das aulas e muitas vezes convidava seus amigos para jantar lá. Mesmo após a formatura eles ainda aparecem, quando querem comer um bom fettuccine. Ela Já conhece a maioria dos clientes pelo nome, sabe a mesa favorita e a comida que mais gostam, as fofocas de família. 

Todas as coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora