Olivia acreditava nos livros. Acreditava que as músicas da Taylor Swift curavam qualquer coração partido. Que batata frita com sorvete era uma combinação muito gostosa. Acreditava que as estrelas cadentes realmente realizavam desejos. E acima de tudo, ela acreditava em amores impossíveis. Se duas pessoas estavam destinadas a ficarem juntas, não importa quais obstáculos apareçam, eles darão um jeito de superá-los.
Ela sobe o zíper do vestido e calça os sapatos. Com a cabeça a mil, observa seu reflexo no espelho. Cabelo preso, maquiagem sutil e batom vermelho. Ben ama quando seus lábios estão vermelhos.
Meu deus, cérebro, pare. - Pensa ela. - Não estregue essa noite com pensamentos malucos e sem sentido.
Ben havia enviado um convite formal para a sua casa junto com um buque enorme de flores. Nele, um pedido para que ela estivesse pronta as sete horas em ponto. Ele a levaria para jantar. Não que ele nunca tivesse feito isso antes. Seu namorado sempre a alimentava muito bem, mas o convite! Foi algo novo e a deixou com borboletas no estomago. O que será que ele estava aprontando? Não conseguia tirar da cabeça que ele a pediria em casamento naquela noite.
Olivia tenta afastar esse pensamento. Não pode passar a noite toda nervosa com a possibilidade de algo que poderia não acontecer. Ela respira fundo e solta. Repete o movimento e pensa que precisa realinhar os chakras - Não é hora para isso sua maluca, só se acalma - fala para o espelho.
Alguém bate na porta e Olivia quase cai do salto. Vai ser uma noite bem difícil.
No caminho para o restaurante ela está mais tranquila. Eles conversam sobre o dia no hotel, as preparações para a viagem e como anda o relacionamento de amor e ódio entre e sua mala. O que faz Olivia lembrar que ainda não finalizou a arrumação daquela coisa. Faltam colocar alguns itens, que agora encontram-se espalhados por todo o quarto. É praticamente uma zona de guerra aquele lugar. O único espaço disponível e limpo, é a sua cama.Eles chegam ao restaurante. Ele nunca havia levado a namorada ali. O lugar é tão impressionante que tem até pessoas para estacionar o carro. Ela começa a suar frio novamente. As mãos estão pegajosas e, quando Ben tenta entrelaçar os dedos deles, ela seca a mão no vestido. O salão é grande, mas está vazio. Algumas pessoas ocupam mesas longes uma das outras e conversam animadas. O casal é levado até uma parte reservada do restaurante. O garçom puxa a cadeira e Olivia senta.
- Está nervosa linda?
- Eu pareço nervosa?
- Nem precisa responder. - Ele pega sua mão. - Você nunca responde uma pergunta com outra pergunta.
- Desculpa. - Diz ela. - Não sei o que deu em mim hoje.
- Você está bem? Quer ir embora?
- Não! Estou ótima. Acho que é nervosismo pela viagem, só isso.
- Eu já disse que você é a mulher mais linda do mundo?
- Hoje? Umas quatro vezes, mas pode continuar repetindo. Eu não ligo.
- Eu te amo.
- Eu te amo.
Ele pega o cardápio e começa a verificar as opções. Ela faz o mesmo para tentar acalmar os nervos. São tantas alternativas que ela fica na dúvida do que escolher. Eles pedem as bebidas e as entradas. O prato principal é servido em seguida. Está tudo tão delicioso que Olivia consegue se acalmar. Ela bebe o vinho e ele pede a sobremesa. Um bolo molhado de chocolate com calda quente e uma bola enorme de sorvete. Eles dividem e limpam o prato. Mais uma taça de vinho vazia. Faziam semanas que Olivia não bebia desse jeito, mas estava com ele, sentia-se segura.
Ben a convida para dar uma caminhada. O restaurante é próximo a praia, então eles caminham de mãos dadas pela orla. A noite está clara e a lua cheia reflete na água do mar. Um cenário de cinema. Parecia que estavam num conto de fadas, ela conseguia sentir a mágica no ar. Ele a beija, bem ali, na calçada de frente para o mar. O tempo para naquele momento. Olivia o beija de volta. Gosto de vinho e suco de laranja e bolo de chocolate. Gosto de chuva e livros de romance e água salgada. Eles se beijam e ela descobre qual é o gosto de amar e ser amada em retorno. E percebe, bem ali, no meio da rua com todas aquelas pessoas passando que, não importa se ele irá pedir ou não a sua mão em casamento. Tudo que ela quer, deseja e sempre sonhou está ali agora a beijando. E isso bastava por enquanto.O quarto dela está escuro e silencioso. Eles decidiram ir para a casa dela por que Olivia precisava terminar de arrumar as coisas. Ele senta em sua cama enquanto ela joga algumas coisas dentro da cômoda. Os sapatos estão espalhados por todos os lados. Blusas e calças separadas em pilhas próximo a mesa do computador e casacos apoiados na estante de livros. O que mais a deixava triste era isso, não poder levar seus livros com ela. No entanto, ela sabia que compraria outros lá, que ajudariam a praticar o inglês. Ana tinha prometido vir de amanhã para ajudar a amiga a finalizar essa arrumação. Parecia que não tinha fim essa bagunça e ela estava ansiosa em terminar logo com isso. Enquanto sonhava que a mãe e a tia estivessem ali para arrumar aquilo tudo, Ben a chama. Sua voz soa estranha e Olivia fica assustada.
- O que é isso? - Pergunta ele.
Ele segura o caderno com "Todas as coisas que eu odeio em você". Aquele que ela e Ana haviam escrito tantos meses atrás. Toda vez que Ben agia como um idiota ou tratava mal a antiga secretaria, elas escreviam ali. Pareciam décadas desde a última vez que ela tinha tocado naquele caderno. Achava que ele nem existia mais, mas ali estava, nas mãos dele.
Olivia não contou sobre a existência desse caderno. Nunca passou por sua cabeça que isso era uma coisa importante ou relevante, por isso que não levou a sério a pergunta dele.- Isso é uma longa história. - Ela tenta puxar o caderno de sua mão - Foi ideia da Ana escrever todas as coisas que eu odiava em você. Era só uma brincadeira.
- Não parece uma brincadeira para mim. - Ele fecha o rosto. - Isso não é nada engraçado.
- Ei! Calma Ben. Era um lance meu com a Ana.
- Eu sei! Mas é sobre mim. - Ele levanta da cama. - Era assim que você me via? Eu realmente não sabia que te tratava tão mal assim.
- Por favor entenda, isso é coisa do passado. Eu não imaginava que esse caderno ainda existia. - Ela se aproxima dele. - Naquela época você estava triste, seu pai no hospital, as coisas não estavam boas para você.
- Isso não significa que eu podia trata-la assim. - Ele mostra o caderno. - Eu era um monstro.
- Para, Ben. - Ela implora, sente que algo ruim vai acontecer. - O caderno parece bem pior do que realmente é.
- Não, Olivia. Nem tente diminuir todas as coisas ruins que eu disse para você. Está tudo escrito aqui.
- Por favor! Isso é besteira. É passado. - Ela tenta se aproximar novamente.
- Não para mim. - Ele balança a cabeça. - Eu preciso ir embora.
- Ben.
- Me desculpe Olivia.
Ele bate a porta.
Ela fica ali em pé no quarto bagunçado. Sente vontade de chutar tudo que está a sua frente. Começa a chorar copiosamente. Por que sua vida era tão complicada? Por que quando tudo estava indo bem alguma merda acontecia? Ela já estava de saco cheio dessas revira voltas da vida. Queria apenas um pouco de tranquilidade.
Afim de evitar um assassinato de malas de 115cm, ela pega aquela coisa cinza e coloca na sala. Bem longe da sua vista. Lava o rosto e veste o pijama. Amanhã seria um dia e tanto.Para alguém que esperava um pedido de casamento, a noite não tinha terminado como ela havia imaginado.
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Todas as coisas que odeio em você
RomanceOlivia é uma menina sonhadora e determinada. No momento, tudo que deseja é provar para os pais que pode ser muito mais do que uma atendente no restaurante da família. Depois de terminar a faculdade, ela finalmente consegue um emprego. Ser a secretár...