O bar

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    A luz do sol bate em seu rosto pela fresta da janela, ela acorda antes do despertador tocar. Calça os tênis de corrida e desce as escadas sem fazer barulho. Corre até não conseguir respirar. Corre para esquecer o que aconteceu a noite passada e tentar se convencer de que não foi nada demais. Ela procura motivos para odiar o chefe e recorda as justificativas que estão escritas no caderno de sua amiga. Quando retorna, decide finalmente avisar seus pais sobre a viagem da próxima sexta. 

   – Viagem a trabalho? – Seu pai questiona levantando as grandes sobrancelhas. – Mas já? Isso estava no seu contrato.

  Não! Não sei.

– Sim pai. Pode ser que ele precise de mim. Sou eu que controlo a vida dele por lá. Com as planilhas, agendas e reuniões. – Diz como se não importasse.

   Levantando-se da mesa, ela encerra o assunto. Beija os dois antes de sair porta a fora quase correndo. 

   O dia está lindo. Pessoas passam apresadas e o centro está apinhado há essa hora. Um cheiro de café e pão na chapa toma conta das ruas enquanto ela caminha até a estação do metrô ainda pensando no Sr Pavoni e nas trocas de mensagens. Olivia deseja que isso não interfira na relação chefe/secretaria que até agora estia indo muito bem, obrigada. Ela pega o trem das sete e meia e senta em um banco vazio, colocando os fones no ouvido e abrindo o livro da vez na página correta.  Quando finalmente chega, Olivia percebe que as ruas estão diferentes. Não sabe se é a época do ano - por causa do natal - ou as férias escolares, mas muitas pessoas passeiam com os olhos grudados nas vitrines das lojas.  Enquanto sobe para o seu andar, ela recorda que a festa de funcionários será logo depois que eles voltarem de viagem. A ansiedade faz as borboletas em seu estomago se revirarem. Todos dizem que a festa é maravilhosa e que a do ano passado foi inesquecível. Ela desliga a música e guarda os fones de ouvido. Caminha em direção a sua mesa e leva um susto quando vê a sala vazia. Olivia tenta lembrar a agenda do chefe e tem quase certeza de que não tem nenhuma reunião marcada nesse horário. Ele está atrasado? Isso é novidade. Será que aconteceu alguma coisa? Duas horas e cinco xicaras de cafés depois seu telefone toca e ela atende no primeiro toque. Controle-se Olivia ou você vai enfartar! 

 – Olivia eu não vou para o escritório hoje. Cancele minha agenda pelos próximos dois dias. – A voz dele está triste e cansada. Ela decide perguntar o que houve.

– Está tudo bem Sr Pavoni? Eu posso ajudar em alguma coisa?

– Não, infelizmente você não pode. Meu pai piorou e vou ficar por aqui até ele obter alguma melhora, mas a nossa viagem na sexta está de pé. Passo na sua casa as nove em ponto.

– O senhor não acha melhor cancelar? Eu posso remarcar para depois das festas de final de ano e...

– Não, a gente viaja na sexta. Até lá Olivia.

   Desliga o telefone sem se despedir. Ela não conseguiu nem desejar melhoras ao pai dele. Seus olhos se enchem de lagrimas. Ela fica triste pelo chefe, pelo fato dele odiar esse trabalho e por ter que suportar tudo isso sozinho. Onde será que está o resto da família dele? Os amigos, a namorada. Impossível um homem desses não ter ninguém na vida. 

   O dia se arrasta. Ela cancela todas as reuniões dele de hoje e de amanhã. Termina as planilhas dessa semana e se permite dar uma volta pelo hotel, pois é o que ele faria nesse horário se ele tivesse aqui. Olivia não para de se surpreender com esse lugar. A vista da piscina é maravilhosa, com o mar lá em baixo brilhando com a luz do sol. Os quartos de luxo com suas banheiras enormes e mármores caros. Os corredores limpos e cheirosos com quadros da cidade em preto e branco pendurado nas paredes deixam qualquer hospede de boca aberta. Ela poderia se acostumar com isso. Com esse lugar que abriu a primeira porta para ela. 

Todas as coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora