A sorte de ter bons amigos

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Depois do trabalho, Ben deixa Olivia em casa para arrumar algumas coisas. Será o último fim de semana juntos antes dos pais dela retornarem. Eles combinam de se encontrar em algumas horas, então ela aproveita e colocar suas roupas para lavar e envia um e-mail para Ana contando as últimas novidades. Quando ela terminando a história do vinho no tapete seu celular toca e na tela pisca o nome de sua mãe. As duas não se comunicaram na última semana e Olivia acredita que a ligação é apenas para dar uma bronca na filha.

   Seu celular cai no chão antes mesmo de conseguir desliga-lo. A voz da tia ainda ressoa em sua cabeça como um eco sem fim; 

- Seu pai está em estado grave no hospital. Você precisa vir para cá agora.

   Ela não consegue se mexer, as pernas não funcionam. Olivia precisa ir para o hospital. Respira fundo tentando trazer ar aos pulmões, pula da cadeira onde estava escrevendo o e-mail e apanha o telefone do chão. O celular de Ben cai inúmeras vezes na caixa postal e Melissa não atende o dela, deve estar na faculdade a essa hora. Quanto tempo faz que ele a deixou em casa? Uma hora? Com certeza já chegou ao apartamento. Não pensa duas vezes, pega a bolsa e corre para rua. Chama um carro pelo aplicativo e grita para o motorista ir o mais rápido que puder. Desce na portaria principal do prédio dele e o porteiro a deixa subir sem se identificar, ele a conhece, viu a menina com Ben a semana toda. Está tremendo tanto que sente que pode cair antes de chegar à porta. Toca a campainha e quem atende é ninguém menos que a Lory.

   Ela sorri enquanto Olivia encara o rosto dela. Por um segundo acredita que vai consegui falar, mas sua voz falha e não completa a frase. Essa era a deixa que a loura estava esperando para apertar seu coração com as próprias mãos.

– Ele está no banho. – O sorriso se abre ainda mais. – Achei que ele já tinha se livrado de você. Foi o que combinamos depois daquele almoço. Eu iria para os Estado Unidos por uns dias e ele resolvia tudo por aqui. Você é só a secretaria agora ou ainda trepa com o chefe?

   As lágrimas que ela ainda não havia derramado começam a pesar em suas pálpebras e antes mesmo de dar esse prazer para ela Olivia vira as costas e começa a descer as escadas correndo como louca. Como se chegar ao térreo fosse salvar a sua vida. Como se sumir dali fosse mudar o que acabou de acontecer.

   Quando chega à portaria ela tromba com alguém que estava entrando no prédio e cai no chão com força. Não consegue levantar. O peso da humilhação a deixa grudada no chão e as lagrimas agora se juntam aos soluços altos que escapam da sua boca. Esse dia poderia ficar pior?

– Meu Deus Olivia está tudo bem? – Diz Ian que imediatamente a ajuda a levantar. – O que aconteceu com você?

   Ela não responde. Quer sair dali o mais rápido possível. Antes que Ben a alcance e tente explicar o que acabou de acontecer. Ela não suportaria olhar para ele agora. Ian a puxa para fora do prédio com delicadeza e ela escuta o bip de um carro.

– Não sei o que houve e não precisar falar se não quiser. – Diz ele com a voz doce e tranquila. – Vamos, entra no carro que eu vou te tirar daqui.

   Ele coloca o cinto de segurança nela, bate à porta e dá à volta no carro para sentar ao seu lado. Ela está tão abatida e triste que considera pedir para que ele a leve até a rodoviária, não suportaria ter que entrar num carro de um desconhecido agora, porém seria exigir demais de uma pessoa que praticamente acabou de conhecer. Quando chegam na rua principal escutam Benjamim gritar e correr atrás do carro, mas Ian finge que não nota e continua dirigindo em alta velocidade. Seu celular toca incessantemente e no visor pisca o nome de Ben. Ele não desiste, deixando sempre uma nova mensagem de voz toda vez que cai na secretária. Olivia não vai ouvi-las. Nem hoje nem nunca. Aperta o telefone no peito e chora um pouco mais. Pelo o pai e por ela. Como pude ser tão burra? - pensa - Como não foi capaz de enxergar que isso não acabaria bem.

Todas as coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora