Todas as coisas que odeio em você

Carona para casa

   A rotina do chefe era simples. Ele chegava pela manhã, fazia e recebia chamadas telefônicas, saia para almoçar entre uma reunião e outra, e antes de ir embora realizava uma ronda pelo hotel. E às vezes ele ficava perdido nos próprios pensamentos, olhando pela janela. O chefe de Olivia era uma pessoa muito estranha. 

   A semana transcorreu normalmente. Planilhas, organizações de pastas e café, muito café. Sr Pavoni falou bastante durante esse período e mostrou ser uma pessoa fácil de conviver, além de ser gostoso pra cacete. Durante alguns dias daquela semana eles tiveram mais contato e conversaram sobre um monte de coisa. Ele a ensinou bastante sobre os afazeres do hotel e Olivia percebeu que talvez ele não fosse tão babaca. No entanto ela repetia todos os dias em seus pensamentos que ele era um idiota, pois precisava de motivos para odiá-lo ou passaria o tempo inteiro pensando no corpo dele.  Na quarta-feira, entre uma planilha e outra, Sr Pavoni contou sobre pai que se encontrava hospitalizado. Relatou que estava ali apenas por que o pai precisava e não por que ele realmente queria. Olivia notou que toda essa comunicação era apenas com ela. Com as outras pessoas do escritório ele continuava sendo frio e mal humorado. Ela não conseguia entender o motivo, mas aproveitou a oportunidade.

- Então o seu pai está em coma e o senhor foi obrigado a substitui-lo? 

- Não, eu não diria que fui obrigado - ele passa a mão pelos cabelos - O problema é que eu sou o único que poderia ocupar o lugar dele. 

- Mas o senhor não gosta, não é? - Olivia pensou ter exagerado na pergunta - Me desculpe. Não precisa responder. 

 - Está tudo bem - Ele se levanta e vai até a janela - Eu confesso que me sinto um pouco preso aqui. Gostaria de fazer outras coisas da vida antes de ter que ocupar em definitivo o lugar do meu pai. É só isso.

   Olivia encara as costas do chefe. Ela o entende melhor do que ninguém, afinal estava passando pela mesma dificuldade no momento. Entretanto decidiu ficar calada e não dividir com ele seus problemas e aflições. Ele já tinha coisas de mais na cabeça. 

- Certo - Ele a encara - Vamos continuar com essas planilhas. 

   Ela também teve a oportunidade de conhecer o hotel durante semana. Estava sentada na cafeteria em seu horário de almoço quando Felipe ofereceu para guia-la e apresentar o belo prédio. Conheceu dois quartos, um deles com uma vista maravilhosa para a praia, os salões de eventos, a belíssima piscina e a cozinha. Ela viu as salas de reuniões, onde ficava a central de reservas e o pessoal do marketing. Foi apresentada as outras pessoas que trabalham no hotel, recepção, setor de governança, as camareiras e o pessoal da limpeza. Olivia ficou feliz por fazer parte desse lugar e por conhecer pessoalmente alguns dos rostos que imaginava quando falava pelo telefone em certos momentos do seu dia, incluindo o Sr Charles que é o gerente geral do hotel. É ele quem comanda tudo lá em baixo sempre seguindo as ordens do Sr Pavoni.

   Para um primeiro emprego ela estava tirando de letra. Toda a rotina era baseada no dia do chefe. Programava as reuniões, separava os papeis que deveriam ser assinados, fazia dúzias de planilhas. Já tinha decorado os ramais e o telefone dele de cabeça e nem parecia que só tinha uma semana ali.

   Quando finalmente chegou a sexta-feira ela não via a hora de ir para casa e descansar. A semana passou correndo e quase não teve tempo de fazer as coisas que fazia quando não era empregada. Estava ansiosa para poder passar algumas horas no restaurante conversando com a família ou colocar os pés para o alto e assistir algumas séries. Ou apenas ler um bom livro. O dia passou rápido e quando olhou para o relógio já estava quase na hora de sair. Ela decide ligar para a melhor amiga e marcar alguma coisa para mais tarde. Elas quase não se encontraram durante a semana e Olivia estava morrendo de saudades. Puxa o telefone do gancho com uma grande intimidade e disca o número de Ana, ela atende no primeiro toque;