2

84 4 0
                                    

📟 3 de julho de 2026.

Acordo assustada e sentindo que eu poderia ter dormido por uns bons anos. Sabe quando você apaga e se sente renovada? Assim que me sinto ao acordar.
De repente noto algo de estranho.  Na verdade várias coisas estranhas.
Estou em um quarto que eu nunca vi na minha vida. Numa cama que literalmente não é a minha e com certeza numa casa que não é a minha. Mas o que aconteceu?
Sento na cama tentando me orientar e repassar as últimas cenas na minha cabeça: cheguei do trabalho, João preparou nosso jantar e ele me pediu em casamento. Fomos pra cama e fizemos um dos nossos melhores sexos. Só de lembrar já posso me sentir molhada.
Será que enquanto eu dormia eles nos trouxe para um hotel?
Tiro os edredons de cima de mim e percebo que ainda estou nua.
Pelo visto transamos mais depois que chegamos aqui. Será que eu bebi tanto vinho ontem e deu amnésia?
Levanto, vou até o banheiro e novamente tenho a sensação que está tudo errado.
Esse banheiro com certeza não é um quarto de hotel, há muitos produtos de beleza, e todos meus. Produtos que eu uso a anos e que o João com certeza esqueceria de trazer.
Pego a escova vermelha que deduzo ser a minha, escovo meus dentes e saio do quarto.
Nunca estive nessa casa, esse é meu pensamento assim que ando pelo corredor, mas é como se eu soubesse exatamente para onde devo ir. De alguma forma me é familiar.
Vou caminhando em direção ao cheiro maravilhoso de massas e tomo um puta susto ao ver que há um homem completamente nu na cozinha.
Rayssa: Puta merda! — sussurro estarrecida fissurada em um bumbum que poderia ser bem ok para apertar.
— Oi, — o homem desconhecido parece feliz e contente ao me ver, ele nem ao menos esconde sua nudez — que bom que acordou. Já estava indo te chamar, precisa comer alguma coisa antes de ir dormir, está com fome né? — E eu estava. Parece que não vejo comida a anos. Ele me encara e provavelmente nota meu horror e abre um sorriso. Um sorrisinho que eu gostei? Que merda tá acontecendo comigo?— Senta aí que eu vou por um roupa.

Olho em volta da cozinha e a sinto muito familiar, é realmente como se tudo aqui fosse meu. Eu poderia dizer exatamente onde cada coisa está, mesmo sem nunca estar aqui. Isso é possível? Eu tenho certeza que eu nunca vim aqui.
Vou em direção onde eu sei que vou encontrar uma sala e vou direto para os porta retrato. De cara vejo uma foto minha na formatura, foto com meus pais, uma foto com minha melhor amiga Kelly e uma foto com ele. Uma foto que eu pareço extremamente feliz. Reconheço rápido o local e é no pier Mauá, e ele me abraça por trás, com um sorriso bem parecido como que ele me deu agora pouco. Se eu não soubesse que sou eu nessa foto, eu juraria que era um casal feliz. Eu e ele. Ele. Nada de João.
Como que tiramos essa foto se eu nunca o vi na minha vida?
— Ah você tá aí! — o fulano reaparece de repente me assustando. — Por que veio pra cá? Achei que fossemos jantar, eu estou faminto— ele fica me olhando esperando uma resposta ou reação, mas eu ainda estou tentando processar como tiramos essa foto no pier mauá, será que é uma montagem?
Volto a olhar para o porta retrato na minha mão e novamente escuto sua voz, dessa vez ele está mais próximo
— Você tá bem? — não respondo. — Desde que acordou você tem agido meio estranha. — nego com a cabeça. Eu não tô nada bem. Sinto minhas pernas fraquejando e sento no sofá confortável que estava a minha frente
Rayssa: Não estou nada bem. A minha cabeça tá girando, não estou entendendo nada do que tá acontecendo.
— Vou pegar um copo de água pra você. Vai passar ta? Eu tô com você. — ele fala isso perto demais. Tão perto que suas mãos estão no meu rosto e meu corpo inteiro sem que me esforce relaxa. Como se tudo o que ele pedisse, minha reação fosse obedecer.
Ele sai e eu volto a olhar tudo ao meu redor. Preciso de informações. Reparo que tem uma carteira em cima da mesa. Carteira masculina.
Levanto e abro o mais rápido que possível. Preciso saber pelo menos quem é esse homem.
Vejo que tem dinheiro, bastante dinheiro, dinheiro bem desnecessário para uma pessoa carregar consigo mesma. E em seguida pego sua carteira de motorista, sua foto e seu nome estão nela.

"ANDRÉ LUIZ PFALTZGRAFF FRAMBACH, 35 anos"
Pego alguns papéis e vejo uma notinha fiscal e ao olhar a data paraliso. 03/07/2026. Como assim estamos em 2026?
Escuto passos se aproximando e jogo longe sua carteira.
André: Aqui, bebe tudo. — ele põem o copo na minha mão e eu bebo. Sua mão fica em meu ombro enquanto ele massageia. Quase gemo só com esse leve movimento dele.
Rayssa: Por que você tá aqui? — resolvo perguntar ainda muito atordoada e ele volta a se ajoelhar na minha frente. Mais uma vez próximo demais.
André: Rá, combinamos que estava tudo bem morarmos juntos, já se esqueceu? Eu já vivia aqui mesmo — ele ri de uma forma tão sincera, que tenho vontade de dizer que não lembro de nada. Que não faço ideia de quem seja ele. Que tudo que eu lembro é de outro homem. Mas ele provavelmente me internaria. — Eu te amo! — meu coração acelera com essa confissão. Como ele pode me amar? Ele não me conhece.
Então ele me beija.
ME BEIJA.
Não dá tempo nem de virar o rosto quando sua língua invade a minha e meu corpo reage positivamente a ele.
Ao perceber o que estou fazendo e me entregando a uma pessoa que não é o meu noivo, paro o beijo imediatamente e faço um desvio de rota. Me sento em uma das poltronas de veludo azul mais a frente.
Ele me olha meio de lado, sem entender nada. .
De repente, uma coisa me passa pela cabeça. Olho para a minha mão, em pânico. Lá está, no meu dedo, uma aliança de noivado.
Tem um diamante azul solitário. Não faço ideia de como foi parar ali. Não é o anel que o João me deu agora a pouco. Mesmo assim, está aqui no meu dedo. Puta que pariu.
Eu me levanto da cadeira em um pulo. Começo a andar de um lado para o outro no apartamento.
Tenho que ir embora daqui. 
Preciso encontrar o João e pedi perdão por sabe se lá o que eu tenha feito nesses últimos anos da qual foi apagado da minha mente. Talvez ele volte comigo.
Tomo a direção da porta. Preciso sair daqui. Preciso fugir dessa sensação que está tomando conta do lugar, essa sensação de voltar e continuar beijando esse homem. Onde será que eu guardo meus sapatos?
André: Ei — ele me chama — Aonde você vai?

Rayssa: Para minha casa. — falo ainda procurando meus sapatos e ele segura meu braço.
André: Você tá em casa. — ele fala como se parecesse óbvio para mim. Mas não parece e ele não entenderia se eu explicasse.
Rayssa: Preciso encontrar o João. — seu semblante fica nublado. Merda!
André: Por que você quer ver o João agora? Não acho que seja um bom momento — eles se conhecem.
Rayssa: Você conhece o João? — seus olhos me analisam confuso. Talvez mais confuso do que eu agora.
André: É óbvio que eu conheço o João, Rayssa. O que está havendo? — meus olhos começam a encher d'água.
Volto a procurar meus sapatos e um sentimento horrível toma conta de mim. Não consigo mais nem respirar. Acho que estou tendo um ataque de pânico.
André na mesma hora passa os braços ao meu redor e me abraça. Me abraça forte enquanto eu soluço.
Rayssa: Eu não sei o que tá acontecendo comigo! — me agarro ao seu corpo.
Eu não o conheço, mas se há provas de que nos conhecemos, eu sei que posso confiar nele. Eu sinto isso.
Ele me passa tanta confiança que não me sinto nenhum pouco ameaçada ao lado dele.
André: Tá tudo bem. Eu prometo que vai ficar tudo bem. Respira, por favor.
Rayssa: O João tá bem? Como isso pode acontecer? — André parece entender e continua a me abraçar.
André: Ele tá bem, Rá. Era pra ser dessa forma. A gente não comanda as coisas da vida. — eu assinto, triste por ter perdido o cara que eu achei que seria o amor da minha vida.

(Continuação dessa cena no próximo post...

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora