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Eu consigo superar o sonho. Claro que eu superei.
Quatro anos e meio se passassaram. Invernos, outonos e verões se passaram e tudo saiu exatamente como eu planejei. Tudo.
Com exceção do fato de que João e eu não nos casamos. E também nunca marcamos sequer a data.
Já somamos oito anos juntos e nada de conseguirmos dar o passo adiante. Sempre arrumamos uma desculpa que estamos ocupados demais -e é verdade-. Dizemos que não precisamos casar antes de ter filhos, mas também não tivemos filhos. Dizemos que podemos viajar, mas raramente programamos uma. Dizemos que vamos resolver isso quando for a hora certa, essa que nunca chega.
Num ano eu perdi a minha mãe para um câncer maligno que a tirou de nós em menos de seis meses, foi devastador. No outro, João perdeu o emprego e ele não conseguia aceitar que eu poderia bancar e sustentar a gente apenas com meu salário. Sempre aconteciam coisas que atrapalhava nossos planos de casamento, mas mesmo assim permanecemos juntos.
Gosto de dizer que nós dois colocamos impecilho no nosso casamento, apenas para me poupar da culpa.
João sempre gosta de jogar na minha cara que a culpa é minha. E eu já não tenho mais dúvidas que realmente seja, porque toda vez que falamos desse assunto, eu penso naquela noite, naquela hora, naquele sonho, naquele homem. E a lembrança me faz interromper tudo antes mesmo de começar.
Parece que eu não superei tanto né? Mas eu superei.
Antes era bem mais frequente esses pensamentos, mas hoje em dia é mais quando vou programar algo futuro ou quando eu percebo que estou cada vez mais perto daquela data.
Durante esses quatro anos e meio que se passaram, eu realmente aceitei que tudo foi uma loucura e imaginação da minha cabeça, como a terapeuta disse algumas vezes afirmou ser e a Kelly também.
Até hoje eu e João estamos juntos e vamos continuar.
Saio do carro em direção da empresa dos meus sonhos, a Zemetrek e assim que chego perto da minha sala, minha recepcionista me chama
Luiza: Rá, Antônio pediu que você fosse até a sala dele assim que chegasse. Parece ser urgente. — eu reviro os olhos.

Rayssa: Ok. — Entro na minha sala, ligo meu computador e em seguida vou em direção a sala do meu chefe.
Antônio é uma pessoa boa como chefe, nunca tivemos problemas e eu sei como ele detesta quando as pessoas não fazem o que ele manda. Por isso entro na sua sala.
Rayssa: Oi, mandou me chamar? — ele abre um sorriso e estende a mão para que eu sente na cadeira de frente para sua mesa. — O que era tão importante que eu tivesse que vir direto para sua sala?
Antônio: Mandei te chamar porque eu tenho uma proposta para você, irrecusável. — assim que ele termina sua frase meu coração dispara.
Rayssa: Então desembucha homem — ele ri.
Antônio: Veja bem, a Zemetrek está com uma vaga para diretor jurídico e eu indiquei você.
Rayssa: O quê? — tomo um susto — Aqui? E o Samuel? — penso no atual diretor do jurídico.
Antônio: Então, aí que está... — ele cruza os braços. — A vaga é para a nova filial. Ainda estamos muito satisfeitos com o trabalho do Samuel — ele ri.
Rayssa: Então é em Botafogo? — abro um sorriso. Realmente era algo que eu queria muito, apesar de odiar a ideia de sair daqui onde já somos uma grande família.
Antônio: Exato. A empresa está disposta a pagar por uma estadia mais próxima, se você quiser ficar mais próxima da empresa, assim como fazemos com outros diretores. — eu abro um sorriso.
Rayssa: Eu não consigo acreditar...
Antônio: Você queria a chance da sua vida, certo? — limpo as lágrimas dos meus olhos assentindo. — Lembro desde o dia em que você pisou aqui, quando nos conhecemos a primeira coisa que você disse era que não tinha medo de nada e que seu maior desejo era crescer profissionalmente até o lugar mais alto que você conquistar. Chegou esse momento. — Eu solto um gritinho e levanto para ir o abraçar.
Rayssa: Eu não consigo acreditar que você tenha me indicado. — o abraço mais forte e ele continua rindo. — Muito, muito, muito obrigada. Eu prometo que não vou decepcionar vocês. — o solto e volto para o meu lugar tentando me recompor. — Meu Deus!
Antônio: Então isso quer dizer que você aceita, né?

Rayssa: Claro. Eu estaria louca se não aceitasse. — ele concorda.
Antônio: Pois bem, então esse final de semana a equipe do RH vai entrar em contato com você para darmos baixa no seu contrato e te contratar novamente.
Rayssa: Segunda eu já trabalho de lá? Ou venho para cá?
Antônio: Seria bom você conhecer já a nossa nova sede e ser apresentada a sua nova equipe de trabalho. O nosso diretor geral de lá também está empolgado com a sua chegada. — já me sinto nervosa. Sempre me dei tão bem com o Antônio.
Rayssa: Eu o conheço? — pergunto, já que conheço muitos diretores de filiais devido as reuniões.
Antônio: Não, mas não se preocupe pois você vai adorar ele. — sorrio. — É meu filho. — fala todo bobo.
Rayssa: Seu filho? Renato? Eu achei que ele fosse ator. — Já tive a oportunidade de conhece-lo em algumas festas e premiações da empresa. Ele dá de ombros.
Antônio: E esse é. Não leva jeito nenhum para o ramo administrativo. — Ele ri e eu fico confusa, não sabia que ele possuía mais de um filho. — Quem está assumindo a empresa é meu filho Luiz, ele estava fora do País a mais de 10 anos. Morava com a mãe em Washington.
Rayssa: Nossa! Eu não sabia que você tinha mais de um filho.
Antônio: Agora todos vão saber. — fala feliz e eu sorrio junto, ainda preocupada com essa nova empresa, novo chefe, mas feliz por mais uma conquista.
Rayssa: Espero que possamos nos dar bem, assim como me dou com você a tantos anos. Obrigada mesmo, Antônio.
Antônio: Apenas me orgulhe. — ele atende uma chamada no telefone dando por encerrada nossa conversa e eu saio da sua sala completamente extasiada.
Estou doida para compartilhar isso com o João.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora