DE REPENTE, ACONTECEU...

15

Na manhã seguinte, antes de ir para a Zemetrek, me encontro com minha amiga Kelly para um rápido café da manhã na Browbucks. 
Eu precisava contar para alguém ou eu ia ficar maluca e ela era a única pessoa que sabia do maldito sonho. Premonição... Nem sei mais como me referir à aquele dia.
Kelly: Tá de sacanagem? — ela fica chocada.
Rayssa: Não. Você imagina a minha cara quando eu o reencontrei? Foi horrível! Eu quase vomitei na sala dele... — falo com vergonha me lembrando de como foi tudo terrível.
Kelly: Então não foi um sonho? Você teve mesmo uma premonição do futuro? — dou de ombros.
Rayssa: Eu juro que eu já não sei mais de nada. Acho real que estou enlouquecendo amiga.
Kelly: E ele é bonitão mesmo? —  eu assinto veemente. —  Que merda! 
Rayssa: Eu só consigo me lembrar daquele dia e daquele momento, de tudo o que eu vivi com ele. As sensações... É como se durante esse tempo todo depois do sonho, eu tenha ficado com saudades... —  ela assentiu, mesmo eu sabendo que ela nunca seria capaz de me compreender. —  E eu me sinto ridícula por ele não me reconhecer...
Kelly: Pera ai, então só você teve o sonho?
Rayssa: Sim, ele não faz a menor ideia de quem eu sou.  Para ele é como se tivesse acabado de me conhecer...— ela segura minhas mãos.
Kelly: Isso é tão bizarro. Como você tá com isso tudo? E o João? — dou de ombros.
Rayssa: Amiga eu tô perdida. Literalmente perdida. Eu não sei o que fazer... 
Kelly: E se o que você viu ou presenciou acontecer mesmo? —  eu a encaro cética. — E se tudo isso está predestinado? 
Rayssa: Você acha que tem alguma chance de eu estar morando com aquele cara e apaixonada por ele, a sei lá, alguns meses? Eu to noiva, Kelly — mostro minha aliança.
Kelly: E daí? Seu relacionamento já está uma merda mesmo, o que não garante que já é o destino mesmo fazendo você ficar com o bonitão.
Rayssa: Você só pode está de sacanagem com a minha cara. Meu relacionamento com o João está ótimo.
Kelly: Ah é? Então porque vocês ainda não marcaram a  data do casamento de vocês? 
Rayssa: Você sabe que não tivemos muitas oportunidades nesses últimos anos... — respondo.

Kelly: Você disse isso quantas vezes pra precisar dar como verdade? — reviro meus olhos. — Eu realmente achei que você e o João seriam almas gêmeas, mas desde que esse homem surgiu na sua mente você mudou. 
Rayssa: Você está falando um monte de merda. — falo chateada.
Kelly: Não gatinha, —  ela pisca irônica —  eu estou falando o que você não quer ouvir. É apenas isso. — nego com a cabeça, sem querer acreditar que o que ela está falando possa haver alguma coerência.
Rayssa: Você esta falando merda sim, porque eu e João vamos nos casar.
Kelly: Eu sei, você diz isso a quase cinco anos já. — eu bufo.
Rayssa: Vamos nos casar esse mês, é isso. — falo sem pensar e ela solta uma risada sem humor.
Kelly: O que?... — interrompo-a
Rayssa: É isso, não é isso que tá faltando? A merda de um papel? Então vamos assinar os papeis.
Kelly: Você está se ouvindo? 
Rayssa: Sim e vamos nos casar esse mês. Tenho certeza que o João vai concordar e vamos ficar juntos para sempre.
Kelly: E o André?
Rayssa: Ele não me importa, eu ja disse. Se for preciso eu saio da Zemetrek, ou eu peço pra voltar para meu cargo antigo. —  ela me olhando desacreditada. É nítido seu julgamento. —  Sou eu que determino o que acontece na minha vida. — decreto e ela dá de ombros.
Kelly: Se você quer fazer desse jeito, você que sabe...
Rayssa: Por favor, não me julgue. — peço.
Kelly: Não vou julgar você, nem opinar. Você sabe o que fazer, se acha que fingir que seu relacionamento ta ótimo e viver numa vida medíocre vai te fazer feliz... — essa doeu.
Não a respondo e ela termina de comer seu donuts e não falamos mais nada. 
A verdade é que ela estava acerta quando disse que eu não queria ouvir o que ela tinha para me dizer e isso me deixou perdida. Ela costuma me dar as melhores soluções e conselhos, e talvez esse fosse mais um dos seus conselhos bons, mas não é o que eu quero.

Não posso deixar um sonho maluco com um cara que resolveu surgir do inferno, atrapalhar minha vida que já havia sido traçada a anos.
Ela pede a conta e eu faço o mesmo. 
Kelly: Espero de verdade depois não precisar te dizer que eu estava certa, você está querendo brincar com uma coisa que nunca vai depender de você. Se o que você presenciou for mesmo destino, de alguma forma vai acontecer, mesmo que você tente evitar. — ela me abraça e se vai, me deixando com suas palavras.
Tudo o que ela diz me atormenta por todo meu dia.
No trabalho nos momentos em que eu tinha de descanso, sua voz ao dizer que vai acontecer, mesmo que eu tente evitar, voltam e eu me arrepio toda.
Não vejo André na empresa hoje. Não queria confessar que eu o procurei, mas eu queria saber se ele falaria algo sobre ontem, ou se nossa relação estaria mais amigável hoje. Mas ele não apareceu.
Ouvi boatos no corredor que ele precisou fazer uma viagem e não estaria essa semana mais. Mais uma vez confesso que me decepcionei...
"Se decepcionou porque depois que o viu pela primeira vez sem ser nos sonhos, precisa olha-lo para que seu dia possa começar bem" meu subconsciente grita e eu choramingo.
Mais tarde quando chego em casa, João estava me esperando na sala, com malas prontas em cima do sofá e com um semblante sério.
Sinto meu coração apertar e prevejo que o fim talvez esteja mais próximo do que eu esperava.