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Rayssa

Uma semana se passou desde quando eu voltei a trabalhar na Zemetrek.
Um dia foi necessário para meu mau estar passar e eu voltar mesmo que com as pernas tremendo, uma dor de barriga fudida e com a cabeça a mil para o escritório.
Aproveitei todos meus momentos para me envolver mais com minha equipe, que já se mostrava tão competente quanto a antiga e isso me deixava animada.
Todos os dias eu venho as oito da manhã e saio as seis da tarde. E a coisa que mais eu evito é: sair da minha sala.
Não sei se você já teve o azar de trabalhar com uma pessoa que você não suporta. Se você já teve, irá me entender.
Confesso que estou fugindo igual o diabo foge da cruz do meu chefe. Esse chefe que é o mesmo cara que me atormenta em pensamentos.
Desde aquele primeiro dia, nunca mais nos encontramos. Nem mesmo sem querer. As vezes acho que nem na empresa ele vem, mas sei que ele esteve por aqui porque há documentos assinados por ele na minha mesa. Documentos esses que eu tenho que ler e eu juro que posso sentir seu cheiro neles.
É o mesmo cheiro daquele dia...
Paro de cheirar os papéis que nem uma doida quando batem em minha porta.
Rayssa: Pode entrar. — a porta se abre e antes que eu consiga me preparar ele entra. Eu até cogito em ficar de pé, mas eu falharia, então permaneço sentada.
Já disse o quanto ele é bonito? No dia em que nos encontramos no futuro ele vestia nada e depois um roupa bem leve, de ficar em casa. E eu já o achei atraente.
Mas de terno? Puta merda!
Me sinto péssima ao ter esses pensamentos, mas é involuntário. Eu juro que é.
André: Oi, pode vir comigo? Tenho uma reunião agora e preciso da sua ajuda. — ele pede educado e assinto.
Rayssa: Você pode me dar alguns minutos? Preciso terminar isso aqui e já vou. — ele olha para minha mesa e assente.
André: Claro, te vejo em 5 minutos. — ele sai e fico encarando a porta.
Ele tá de sacanagem né? Cinco minutos eu levo só pra chegar na sala dele. Inferno!
Fecho milhares de pastas abertas na minha mesa e levanto-me.
No corredor eu paro de frente a um espelho e vejo que ainda estou apresentável.

Assim que chego no corredor noto que André está nele, conversando com uma mulher que eu sei que fica na copiadora.
Ela claramente está se jogando para cima dele e isso me enfurece. Que pouca vergonha é essa? Isso é um local de trabalho e ele é chefe dela.
Eu sei que nesse momento minha mente está me contradizendo, já que esse mesmo chefe é o homem dos meus sonhos. O homem que eu claramente tenho um tombo, uma queda do muro de Berlim.
Ando direto até os dois e arranho a garganta.
Rayssa: Podemos? — falo diretamente olhando para ele, que sorri pra mim. É oficial, ele é um pecado!
André: Claro. — desvia seu olhar de mim para a mulher das cópias. — Nos vemos daqui a pouco, Eliana. — sinto meu estômago novamente revirar e quando ele sai, não perco a oportunidade de dar uma encarada reprovando a mulher.
Assim que ele fecha a porta conosco dentro, não consigo frear minha língua.
Rayssa: Você permite que funcionárias dêem em cima de você? — pergunto na lata e ele levanta as duas sobrancelhas sem compreender minhas falas.
André: Como? — ele não ri. diz sério enquanto senta na sua mesa.
Rayssa: Ela, sua funcionária estava dando em cima de você. Não percebeu? — ele estende a mão para que eu me sente e eu o obedeço, ainda irritada. Estou totalmente fora de mim.
André: Não importo que mulheres dêem em cima de mim,  Rayssa. Na verdade eu até gosto, não se preocupe. — Faço uma careta incrédula.
Rayssa: Não me preocupo. — entro na defensiva e ele continua me encarando, com as malditas sobrancelhas para cima. — Eu só acho feio mesmo, um diretor permitir que...
André: Exato, eu sou o diretor e se tem alguém que tem que permitir ou não algo aqui sou eu. — Ui! Essa eu mereci.
O fora serve para que eu recupere minha descência e consiga voltar a raciocinar. O que caralhos eu estou fazendo?

Rayssa: Tem razão, me perdoe. Não é da minha conta com quem você transa ou deixa de transar. — novamente sai da minha boca essas merda áspera.
Ele não fala nada. Fica por tempo suficiente me encarando, o que echega a me deixar sem ar. Sei que ele tá percebendo isso, porque meu peito sobe e desce descontraladamente.
Eu odeio tudo isso que nos envolve.
Estou quase pedindo para me retirar, quando ele mesmo corta o silêncio.
André: Preciso fechar alguns contratos e gostaria que você me ajudasse com isso. Eu sei que já está quase na hora de você sair, mas eu realmente preciso fechar isso ainda hoje. — olho no relógio e já são três horas da tarde.
Pego o contrato que ele me estende e ele é longo. Muito longo.
Rayssa: Quer que eu leite tudo isso ainda pra hoje? — ele assente.
André: Por favor. Se precisar peça alguém da sua equipe para nos ajudar como hora extra, mas é realmente importante.
Rayssa: Certo. Acho que dois é suficiente. — ele novamente confirma com a cabeça e eu me levanto. — Mais alguma coisa?
André: Sim. — ele fica de pé e se coloca do lado da sua mesa, bem mais próximo de mim do que antes e me olha bem nos olhos. — Quando quiser falar sobre a forma em que eu ajo ou com quem eu flerto na minha empresa, tome cuidado com suas ações ou eu poderei achar que você está fazendo o mesmo. — Meu coração acelera e minha boca se abre em choque. O QUÊ ele tá falando?
Rayssa: Desculpa, eu acho que não te entendi. — ele ri. Juro que ele ri e volta a se sentar.
André: Pode ir, nos vemos mais tarde. — ele falou da mesma forma em que falou com a menina das cópias. E eu tenho vontade de esganar ele.
Fico alguns segundos ainda o encarando e depois me retiro como se nada tivesse acontecido.
Se eu havia entendido direito, ele estava me acusando de dar estar a fim de algum funcionário também?
Merda!
Pior que eu estava mesmo. Só que do meu próprio chefe, e eu acho que ele já sabe disso.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora