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-ANDRE-

É extremamente difícil estar no mesmo ambiente que a Rayssa. Extremamente sufocante.
Eu não sei o que acontece com o meu corpo e minha capacidade de respirar e pensar quando eu estou ao lado dessa mulher.
É assim desde o dia em que a vi pela primeira vez. É assim sempre, todas as vezes.
E agora enquanto tomávamos um delicioso vinho tudo triplicou. Minha cabeça quase deu pane e eu avancei nela.
A sorte foi que minha barriga roncou e eu ainda sei compreender que isso é um sinal de fome.
Tivemos um longo dia e ainda fizemos uma viagem, é óbvio que uma hora a famigerada fome iria aparecer.
Levanto para tomar mais um banho. Não me julgue, mas eu pareço adolescente de novo então toda hora provavelmente nessa viagem eu irei me banhar.
Coloco uma calça jeans clara e um blusão mais quentinho e a aguardo.
Ela cumpre sua promessa e sai bem rápido do quarto.
Linda, puta que pariu. Ela é extremamente linda.
Ela está vestindo um sobre tudo preto, com uma bota alta, e o cabelo num coque que acho que só nela ficaria bonito.
Rayssa: Pronto, vamos? — ela fala enquanto termina de por as suas coisas numa pequena bolsa de mão e depois nota que também estou arrumado e me mede de cima abaixo.
Sabe o clima? Já esquentou de novo.
André: Vamos! — saímos em direção ao restaurante que o hotel disponibiliza dizendo funcionar até às duas da manhã.
Já são quase dez então não teremos problema em já estar fechando.
O elevador para no andar dos restaurantes. Assim que saímos, noto que está vazio e minha barriga agradece por isso.
Conduzo com meu antebraço Rayssa até o imenso terraço, com uma das melhores vistas de são Paulo e escolhemos uma mesa para nos estarmos. Puxo uma cadeira e ela sorri em agradecimento.
Não quero parecer que seja um encontro, mas no fundo eu acho que estou levando isso como se fosse.
Rayssa  Obrigada. — diz nervosa. — Aqui é lindo! — Ela olha para o céu, e eu a acompanho. Ainda bem que as estrelas estão visíveis.
Cruzo as mãos sobre a mesa. O garçom imediatamente se aproxima.

André: Uísque com gelo. — peço e olho para Rayssa erguendo minhs sobrancelhas significativamente. Pedindo para que faca seu pedido.
Ela pensa por um momento, acho que está decidindo se deve ou não beber algo com álcool com seu chefe, acho que ela decide pela coisa certa.
Rayssa: Um espresso martini, obrigada. — boa menina!
O muro que nos cerca é totalmente de vidro, fazendo com que dê para nós vermos a movimentação e alguns pontos de luz a alguns metros abaixo de nós. Parecem pequenas formigas.
Eu realmente gosto de jantar aqui quando venho para cá.
André: Amanhã teremos reunião a tarde, pela manhã você está livre se quiser fazer compras ou algo do tipo. — dou de ombros.
Rayssa: Acho que eu tenho alguns contratos me esperando para serem revisados, chefe. — hm.
André: Não precisa se matar de trabalhar, é final de semana. Se estivéssemos no rio você estaria livre de mim. — ela sorri.
O garçom volta à mesa bem na hora que ela alfineta seu próprio chefe.
Rayssa: Meu chefe exige muito de mim que só durante a semana não consigo fechar tudo. — ela da um gole e eu solto uma risada.
André: Que merda deve ser seu chefe então. — e ela ri comigo. — O que vai querer comer? — digo abrindo o cardápio e vendo ela fazer o mesmo.
Rayssa: Acho que vou aceitar uma salada. — a olho incrédulo.
André: Você tá com fome e vai comer uma salada? Ah não, por favor. — levanto a mão chamando um dos garçons. — Dois entrecôrte nobre Uruguaio, por favor. — peço por nós dois e noto surpresa no seu olhar. — Espero que aprecie um bom pedaço de picanha.
Rayssa: Eu poderia te enganar agora dizendo que sou vegetariana — ela ri. — Mas eu aprecio sim, obrigada.
André: Aposto que se eu não fosse seu chefe você faria isso.
Rayssa: Talvez. — ela da de ombros ainda rindo de mim.
André: Me fale de você. — peço e vejo seus olhos brilharem.
Rayssa: O que você quer saber de mim? — dessa vez eu que dou de ombros.
André: Não sei, só sei que você foi casada com um idiota e que é uma excelente advogada. O que eu mais eu deveria saber? Passagem pela polícia?

Rayssa: Não seja bobo. — ela ri — João não era um idiota, ou pelo menos ele não costumava ser. Nosso casamento estava fadado ao fracasso depois que eu... — freio antes de falar que me apaixonei por outro homem.
André: Você?...
Rayssa: Depois que eu vi que não estávamos mais dando certo. Fomos empurrando pela barriga e deu no que deu. Mas ele é meu melhor amigo, sempre esteve comigo então não consigo sentir tanta raiva. Ele só está apaixonado de novo e eu até fico feliz por ele.
André: Feliz por ele estar apaixonado por outra? — enrugo a testa.
Rayssa: Sim, pelo menos ele tá feliz. Não gosto apenas que me use, como ele fez da última vez. Achei bem feio.  — assinto odiando lembrar que ele havia a beijado. Eu já não era mais o último homem que havia a beijado.
André: E seus pais? — dessa vez ela olha para o guardanapo e pensa um pouco antes de falar.
Nosso jantar chega e ainda fico a aguardando falar.
Estou mastigando quando ela fala.
Rayssa: Cresci sem eles, só com uma tia que mora na baixada, não a vejo mais com tanta frequência.
André: O que houve? — pergunto com cuidado, sem saber se estamos pisando em um terreno perigoso.
Rayssa: O marido dela é um pouco complicado, nunca nos demos muito bem. — assinto. — Eu raramente falo sobre minha família, na verdade eu realmente não gosto de falar. Sempre soa como se eu fosse uma menina sofrida sabe? Meus pais me entregaram para minha tia porque eles não tinham condições de me criar e eu entendo. As vezes nossas dependências são maiores do que outras coisas.
André: O que eles tinham?
Rayssa: Meu pai já era usuário de drogas e depois que eu nasci minha mãe acabou também se envolvendo. Não soubemos mais deles, nunca mais me procuraram e eu as vezes duvido muito que ainda estejam vivos.
André: Gostaria de reencontra-los? — ela fica pensativa
Rayssa: Não. Mas se eles voltassem para minha vida eu gostaria de mostrar pra eles que independente deles ou não eu cresci na vida sabe? Hoje eu tenho tudo o que eu queria. Uma empresa legal para trabalhar fazendo o que eu amo. — sorri.
André: Fico feliz que achou deu lugar na Zemetrek.

Rayssa: Acho que não lembrava mais última vez que me fizeram falar sobre os meus pais, sinta-se privilegiado. Não costumo confiar nas pessoas para isso. — meu coração que estava bem quietinho e quente por sua companhia, se agita.
André: Fico feliz por você confiar em mim.
Começo a sentir um clima denso e misterioso entre nós. Não sei como tirar essa sensação de que estamos num encontro romântico. Há algo pairando no ar ao nosso redor.
Olho para a paisagem e em seguida volto meus olhos para o seu, encontrando-a me observando. Ela nem tentou disfarçar.
Vejo sua respiração mudando e sei que ela também sente algo, essa coisa indefinida e quase palpável que sentimos desde o primeiro dia.
Tudo nela chama por mim. Seus olhos brilhantes, sua boca, seu corpo...
A música que era ignorada até o momento, me faz ter uma boa ideia.
André: Aceita uma dança comigo? — ela fica levemente espantada, mas não foge. Sorri e morde os lábios.
Rayssa: Eu adoraria.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora