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Jogo tudo o que eu comi no café da manhã pelo vaso.
De joelhos no chão e com a cabeça enfiada na privada, eu vômito tudo o que tem dentro de mim.
Assim que sai da sala do André eu corri o mais rápido que eu pude até o banheiro. Enquanto eu corria eu senti que recebi olhares estranhos, afinal eu ainda sou uma estranha para eles, mas não consegui segurar.
Renata: Tá tudo bem? — escuto sua voz atrás de mim e sinto alguém tirando segurando meu cabelo, me ajudando, mas a mão não é dela. São mãos masculinas.
Assim que me dou conta disso uma nova onda de ânsia toma conta de mim e eu vômito outra vez.
André: Calma, respira. — sua voz chega aos meus ouvidos bem baixinha, me fazendo voltar a aqueles quatro anos e meio. Ele falou exatamente assim e incrivelmente eu me acalmei. Não me surpreendo que algo em mim muda assim que ele pede isso novamente.
Tenho vontade de pedir que eles saiam do banheiro e me deixem na minha desgraça, mas acabo aceitando as ajudas. Estou fraca.
Alguns minutos se passam e sem mais vômitos, André me ajuda a levantar e eu ando até a pia para lavar minha boca, minhas mãos, eu gostaria até de tomar um banho. Posso sentir os toques dele em cada parte do meu corpo e me sinto estranha.
André: Você tem crise de ansiedade? — afirmo e eu realmente tenho. Desenvolvi esse transtorno quando minha mãe morreu. Sei não vomitei por causa disso, a única crise que estou tendo aqui é ele. — Você deveria ir para casa. — eu nego, mas Renata já começa a falar antes de mim.
Renata: Ele é o chefe, ele manda e a gente obedece. — ouvir isso trás inúmeras possibilidade de coisas que ele poderia mandar que eu faria na mesma hora.
Taco agua na minha cara para ver se eu tomo jeito.
O cara não é mais apenas uma alucinação maluca que eu tive. Ele é real e é a porra do meu chefe. Logo meu chefe?
Como eu vou trabalhar no mesmo local que ele? Como eu posso ficar próxima dele? Só de imaginar sinto meu corpo se arrepiar.
Rayssa: Tudo bem, acho que pode ser algo que eu comi hoje também.
Renata: Descanse e nos vemos na quarta feira.

Rayssa: Não, amanhã mesmo eu estou aqui — afirmo sem nem saber se eu terei forças para pisar aqui novamente. — Não tô nem aí se você é o chefe — dessa vez falo para o André, recuperando um pouco do meu auto controle. — Eu estarei aqui amanhã. — ele assente com um risinho idiota no rosto.
André: Com quiser, Rayssa. — É magnífico a forma em que ele fala meu nome. Eu gostaria que ele falasse mais vezes, de preferência no meu ouvido, como ele vez... Mais um jato de água na cara. — Quer uma carona? — arregalo meus olhos. Nem fodendo.
Rayssa: Não, obrigada. Estou de carro.
André: Não está em condições de dirigir, claramente não está nada legal. — ele fala olhando para minha aparência e me sinto mal. Com certeza estou horrorosa. — Vou pedir que um dos motoristas da empresa te deixem em casa, amanhã você leva seu carro para casa. — ele da a ordem e sai do banheiro sem nem ao menos esperar minha negação. Provavelmente foi proposital.
Renata: Ele é assim mesmo. Uma pessoa incrível, lembra? — ela relembra a forma em que falou dele e também sai.
Fecho meus olhos e inclino minha cabeça para trás.
Eu acredito muito que Deus exista e que faz coisas na nossa vida para que ela esteja em constante melhora. E agora eu me pergunto, como algo assim vai me ajudar?
Eu já era fodida da cabeça quando esse homem era apenas um sonho, imagine agora que é real?
Arrumo meus cabelos e limpo meus olhos que ficaram borrados quando meus olhos lacrimejavam enquanto eu vomitava.
Um pouco mais apresentável eu saio do banheiro e boa parte do escritório olha pra mim. Nada confortável.
Sigo reto e rápido para meu escritório. Peço desculpas a minha equipe por mal ter chegado e precisar sair, mas prometo a eles que isso não vai mais acontecer.

E não vai mesmo.
O que aconteceu hoje vai contra todas as atitudes que eu acredito serem corretas: dei bola fora com o chefe e já estou causando uma impressão errada para minha equipe.
Eu não sou confusa, eu não sou enrolada, muito menos desajeitada, mas isso tudo foi o efeito que aquele homem fez e faz em mim a anos.
Eu me sinto uma idiota.
Saio do escritório e um motorista me leva até em casa.
Assim que abro as portas, sei que não ficarei sozinha. João está em casa e não estou nem um pouco afim de vê-lo. Esse pensamento me faz me sentir pior do que eu já estava.
João: Mas já? — Ele olha para minha aparência pessima e deduz que não estou bem. — O que houve?
Rayssa: Passei mal e me mandaram para casa. — tento ser breve enquanto vou tirando meu sapato e guardando as chaves.
João: O que você tem? — ele coloca o peito da mão na minha testa medindo minha temperatura. — Está um pouco quente.
Rayssa: Acho que deve ser alguma gripe, vomitei bastante. — vou andando direto para meu quarto e sinto que ele vem vindo atrás de mim.
Visto minha calça moletom e uma blusinha de dormir, me jogando direto na cama.
João: Quer algo?
Rayssa: Pode deitar aqui comigo um pouquinho?— peço.
Joao: Melhor não. — ele toca meu cabelo e eu suspiro. — Isso pode ser contagioso. Apenas descansa e você vai se sentir melhor. — Ele tá enganado. Não vou ficar nada bem.
Acho que nunca mais ficarei.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora