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Depois de ter roído todas as minha unhas enquanto o elevador subia os três andares para chegar no andar da nova filial da Zemetrek, fui em direção a recepção.
Rayssa: Olá, bom dia. A Renata do RH me aguarda.
- Bom dia, - Uma jovem de cabelos curtos me recepciona - Você pode aguardar uns minutinhos que eu vou avisá-la que chegou. Qual seu nome?
Rayssa: Rayssa, Advogada Rayssa Bratillieri. - ela assentiu e passou uma ligação para a gestora de recursos humanos.
Passei o olho pelo andar e por onde meus olhos conseguiam chegar e tudo me agradou muito. A empresa está bem padrão com as outras que pude estar, então parece que estou exatamente na filial da Barra, sendo que dessa vez na zona Sul.
Devo dizer que a vista daqui é bem mais agradável.
- Rayssa? - Uma outra mulher, dessa vez loira, de cabelos longos e ondulados e muito bonita se aproxima com um vestidinho tubo até o joelho. Eu fico de pé dando graças por ter vindo com minha saia godê e meu melhor blazer.
Rayssa: Eu!
- Muito prazer, eu sou a Renata, nos falamos pelo email. - eu assinto, a cumprimentando com as mãos.
Rayssa: Claro, prazer é todo meu.
Renata: Seja bem vinda a nossa Zemetrek, gostaria de um café?
Rayssa: Não, muito obrigada. Mas acabei de tomar no caminho.
Renata: Uma água? - Essa eu resolvo aceitar.
Rayssa: Isso eu aceito. - ela sorri e pede para a recepcionista providência. - Pronto, vem comigo. - A sigo enquanto ela desfila pela empresa. Ela parece ser bem mais do que apenas a diretora do RH. Parece que todos a respeitam e possuem até um certo medo dela. - Já vou aproveitar e ir te apresentando o lugar pra você já ir se familiarizando. - ela começa a passar por cada setor da empresa e me apresentar a cada um. - Pessoal, essa é a Rayssa e ela será a nossa diretora do jurídico da empresa. - eu abro meu sorriso mais simpático que consigo para aquelas pessoas desconhecidas e tento ir guardando o nome de cada um, mas é muita gente.
Depois de irmos em cada setor, subimos algumas escadas para o segundo andar do duplex, que é todo só para duas salas. Provavelmente a do chefão. E a de reunião. Renata abre a porta de uma e está vazia.

Renata: Bom, aqui é a sala do Luiz, nosso diretor geral da Zemetrek. Ele como você pode ver ainda não chegou, - ela olha pro relógio - mas pelo horário já deve estar chegando. - eu sorrio tentando soar compreensiva e nenhum pouco ansiosa - Não se preocupe com ele, ele é uma pessoa incrível.
Rayssa: Eu imagino. Não consigo ver nenhum filho do Antônio sendo uma pessoa ruim. - ela parece compreender.
Renata: Você é bem amiga do Antônio né? - ela pergunta, mas é em um tom amigável.
Rayssa: Sim, ele soube me inserir muito bem na empresa e eu sou muito grata.
Renata: E deve ser mesmo, o Antônio falou bem de você em todas as reuniões enquanto montávamos nosso time, já que a nossa maior proposta é termos um lugar bem familiar e amigável.
Rayssa: Isso é bom. - ela pega alguns papéis em cima da mesa do chefe e começa a sair da sala.
Renata: Venha, vamos conhecer a sua sala. - Me empolgo mais do que eu já estava.
Antes de descermos as escadas ela ainda me leva até a sala ao lado, onde realmente é uma sala de reunião, um sala a qual eu estou fascinada por ser tão espaçosa. Já não vejo a hora de participar de uma reunião aqui.
Descemos as escadas e fomos direto para uma sala a qual eu ainda não havia entrado.
Como todos os setores que visitei, a sala é composta por seis mesas e computadores, onde já tem advogados trabalhando e uma porta dentro da sala que é onde o diretor do setor fica. É incrível isso. E vai ser ali a minha sala.
Renata já começa a me apresentar a nova minha equipe e todos parecem bem receptivos.
Rayssa: Pessoal, é uma honra estar aqui com vocês e desde já quero deixar claro que podem contar comigo para qualquer coisa. Estamos nessa juntos. - eles começam a bater palmas e eu já consigo me sinto em casa. Eu nasci para esse trabalho.

Renata: Agora sua sala. - ela abre a porta e me deparo com uma sala toda imobiliada e pronta para ser usada. - Tudo aqui é seu e você pode modificar o que quiser para deixar mais agradável. - vou direto para a janela onde fico chocada com a vista. - Bom, eu vou deixar você se conectar com o lugar. Seja muito bem vinda. - eu agradeço e ela se retira fechando a porta.
Assim que ela sai eu começo a pular. É uma felicidade que não dá para medir.

Pulo e danço até me cansar e me jogar na minha cadeira digna de uma diretora. Eu tô podre de nojenta, eu sei.
De repente o telefone da minha mesa toca e eu tomo um susto.
Rayssa: Rayssa do jurídico. - atendo já no automático
- Oi é a Renata, o Luiz está chegando e pediu que você o aguardasse na sala dele, já que ele está mega atrasado.
Rayssa: Ah, é claro. Já estou indo.
Renata: Ok, a menina da recepção não soube para onde levar a água e já pedi que ela levasse até lá.
Rayssa: Tudo bem, obrigada. - desligo a ligação e tento controlar minha respiração.
Sempre fui boa com pessoas, sei falar bem e fazer isso é a minha vida. Sou boa com argumentos e sei que tudo vai dar certo. Mas ainda sim meu coração dispara.
Se esse Luiz for como o Renato, o outro filho do Antônio, estará ótimo. Renato é um homem já vivido de quase quarenta anos e que esbanja alegria e felicidade. É ótimo estar na presença dele. Espero que esse Luiz seja no mínimo a metade do que o irmão e o pai são.
Subo novamente as escadas e assim que adentro a sala, um copo de água já me aguardava.
Aproveito que o cara ainda não está aqui e começo a beber, mas logo em seguida a porta da sala se abre e Luiz adentra a sala. Só que não é o Luiz. É o André. André.
André. Esse rosto e esse nome que vêm passando por minha cabeça em um looping há quatro anos e meio.
O tema de tantos questionamentos, devaneios e recordações acaba de se manifestar no meio da sala.
Posso jurar que saiu água até pelo meu nariz. Me engasgo e ele me olha assustado.
Não foi um sonho. Claro que não foi. Ele está aqui agora, e não tem como ser outra pessoa.

Ele não é alguém que eu vi no cinema e estou apenas reconhecendo, ou um associado do escritório com quem me desentendi. Não é alguém que se sentou ao meu lado em alguma viagem no metrô. É só o cara do apartamento mesmo.
Eu me sinto desorientada. Engasgada. Não sei se grito ou saio correndo.

Mas em vez disso, fico paralisada, em choque. Meus pés estão grudados no chão e ele tá muito próximo perguntando se estou bem. Mas eu não consigo nem responder. A resposta é: não estou bem.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora