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Rayssa: João? O que houve? — guardo minhas chaves e me aproximo dele, enquanto ele levanta e mantém uma distancia bem grande.
João: Rah, acho que precisamos conversar... — merda!
Rayssa: Ok. — sento pedindo que ele se sente também. — Também quero falar algo importante com você que eu decidi hoje cedo. — ele senta, mas sem sorrisos.
João: Fala você primeiro então. — respiro fundo.
Rayssa: Acho que devemos marcar nossa data de casamento. Chegou a hora. — ele me olha sério. Alguns minutos se passam e ele mal se mexe, até que ele bufa.
João: Você está de sacanagem?
Rayssa: O que? — fico confusa. — Claro que não.
João: Você ta estranha a dias, ou melhor, a anos. Desde o dia em que te pedi em casamento você mudou comigo, está fria.. Mas esses últimos dias eu mal consigo tocar você.
Rayssa: Você quer fazer sexo? 
João: Pelo amor de Deus, não tem nada a ver com sexo. 
Rayssa: Então o que é? Estou falando que vamos casar. Assinar papel, não é isso que esta faltando? 
João: Eu não estou nem ai para um maldito papel, Rayssa. Por mim poderíamos viver assim juntos para sempre, sem casamento. O problema é que eu não consigo mais ver futuro na gente. O que tá faltando aqui é amor. 
Rayssa: É por isso que você arrumou as malas? — ele assente.
João: Acho que a gente precisa de um tempo... — meus olhos lacrimejam, eu jamais quis que isso acontecesse... Ele segura minhas mãos e fica de joelho na minha frente. — Vamos ver o que vai acontecer, acho que a gente esta a tanto tempo juntos, que nos perdemos em nós mesmos. Eu preciso me achar Rah e eu acho que você também precisa. — eu assinto e as lagrimas caem.— Nós vamos ficar bem.
Ele fica de pé e pega suas malas. Antes que ele saísse, puxei seus braços e colei meus lábios nos dele. Ele respondeu ao beijo deixando uma das malas que estava na sua mão cair e segurar forte minha cintura. 
Nosso beijo é nada além de tristeza e despedida. É um beijo frio e sem toda a paixão que dividimos por anos.
E quando ele separa nossos lábios e se vai, eu sei que é definitivamente nosso fim.
Choro tudo o que tenho para chorar.
Me culpo por ter sido fraca e descontado minhas inseguranças nele. Me culpo por ter entrado tanto de cabeça em algo que não existe e ter tirado da minha vida a única pessoa que realmente se importou comigo nos últimos anos...
E é com esse sentimento de vazio que eu passo a semana inteira.
Não vi João, nem tive contato com ele. Assim como também não vi André.
Os assuntos ainda são que ele está viajando.
Ao acordar pela manhã na quarta feira, recebo uma mensagem no WhatsApp do síndico dizendo que o aluguel não foi pago. Que ótimo!
Quem sempre lidou com isso era o João e agora que ele não mora mais aqui, eu terei que arcar sozinha com o aluguel, com as contas, com a comida...
Sento na minha cama me sentindo derrotada, quando meu telefone toca.
Vejo o nome da minha tia e resolvo não atender.
Acho que eu poderia chorar só de ouvir um simples oi dela. Minha vida tá um caos.
Abro o aplicativo da minha conta bancária e faço o maldito pagamento do aluguel e depois começo a me arrumar para ir para o escritório.
Essa semana estamos tentando resolver pequenos conflitos de forma amigável, buscando negociações, mas tem cliente que é um pé no saco, literalmente!
Quando entro na Zemetrek o clima está diferente.
Existe dois tipo de empresa: A quando o chefão está e quando ele não está.
E definitivamente hoje é um dia que o chefão está.
Não que o André seja um chefe ruim, pelo contrário, as pessoas aqui costumam destilar elogios para ele. Mas chefe é chefe e por onde eles passam, recebem muito respeito.
Vou direto para minha sala e lá há um recado no meu notebook "Por favor, venha até minha sala. — Luiz."
Por um segundo penso em quem é Luiz, mas assim que eu faço a associação, meu coração dispara.
Eu sabia que ele estava aí.
Passo pelos meus estagiários e pergunto a um deles:
Rayssa: Nicole, o Luiz esteve por aqui?
Nicole: Sim, já faz um tempinho.
Rayssa: Ok, obrigada. — saio da sala e olho meu relógio. Não estou atrasada, isso é bom.
Subo as escadas e assim que vou abrir a porta, ela se abre.
André: Hey... — ele toma um susto e sorri ao mesmo tempo.
Rayssa: Oi, estava de saída? Posso voltar...

André: Não, entra. — ele abre a porta e em seguida fecha nos dois dentro dela. — Eu ia pegar uns documentos lá no jurídico, mas já que está aqui, faço isso depois. — eu assinto.
Rayssa: Então você voltou... — ele me olha sem entender e eu esclareço — Você estava viajando.
André: Ah, andou perguntando sobre mim? — sinto um atrevimento em sua voz e tento disfarçar a forma como eu quase corei.
Rayssa: As pessoas comentam. — respondo no mesmo tom. Ele ri
André: Estive em Washington. Talvez eu tenha que voltar mais vezes, minha mãe está doente.
Rayssa: Eu sinto muito. — ele recebe bem minhas condolências e não tenho coragem de perguntar o que aconteceu com a mãe dele, apesar de querer muito saber.
André: Então, eu te chamei porque você sabe que a empresa fornece moradia para os executivos morarem mais perto, certo? — eu assinto. — Não sei se meu pai falou com você, mas você não deu uma resposta e aqui na sua ficha tá em branco. Como eu sei que você mora longe, talvez seria uma boa. — deixo meus olhos caírem na belíssima paisagem atrás dele,, enquanto penso. Ele continua falando. — Talvez você devesse falar com seu noivo.
Rayssa: Não será necessário. — ele me olha cheio de perguntas, mas não faz nenhuma. — Onde ficaria o prédio?
André: Quinze minutos daqui. Vagou um ontem. — eu assinto.
Rayssa: Certo, eu já paguei meu aluguel desse mês, então eu irei comunicar que irei sair no próximo. Vou aceitar. — ele me estuda e analisa todas minhas reações. Isso é bem irritante.
André: Não acha que seu noivo deveria tomar essa decisão com você? — o olho furiosa — Não estou querendo me meter na sua vida, mas é estranho como você sempre se refere ao seu noivo.
Rayssa: Isso realmente não seria da sua conta, mas não estamos mais juntos. Ele saiu de casa semana passada.
André: Sinto muito. Não...
Rayssa: Não se preocupa, de qualquer forma não teria como você saber. — não teria como você saber que tudo isso é culpa sua, penso, mas não falo isso.

André: Então vou comunicar que você vai ficar com o apartamento, os custos são por conta da empresa. — eu assinto aliviada, afinal esse ap não veio em hora mais certa. — Se quiser, depois do expediente posso te levar para conhecer, quer? — posso sentir todo o meu corpo se arrepiar. Ele percebe.
Rayssa: Pode. — respondo sem pensar muito nas consequências.
André: Está de carro?
Rayssa: Não, o carro era do João, então ele acabou levando com ele.
André: Certo, vamos no meu carro. Te vejo as 18h. — eu concordo e saio da sua sala.
Assim que estou descendo as escadas, a porta dele se abre de novo e eu tomo um susto.
Rayssa: Oi. — olho para atrás como se ele estivesse me chamado e ele ri.
André: Lembrei que tenho que ir pegar os papéis no jurídico.
Rayssa: Ata. Certo...
E com isso ele anda comigo até meu setor e eu corro para minha sala, sem entender muito o porque eu aceitei ir conhecer um apartamento com ele. Com ELE.

DE REPENTE, ACONTECEU...Onde histórias criam vida. Descubra agora